First Capital Bank: como funcionava banco criado por facção
Colaboração para o UOL
25/04/2024 04h00
Um suposto banco criado por um grupo criminoso para lavar dinheiro do tráfico internacional de drogas foi desarticulado pela Polícia Federal neste mês. Em operação há quatro anos, o First Capital Bank movimentou mais de R$ 50 milhões entre 2022 e 2023. As informações são da PF e do Fantástico, da TV Globo.
Como funcionava o First Capital Bank?
Segundo o site do First Capital Bank, a instituição, que se apresenta como banco, foi criada em 2019. Prometendo "práticas mais modernas e inovadoras no mercado financeiro", a empresa oferece serviços para pessoas físicas e empresas, como, por exemplo, conta, cartão, investimentos, empréstimos, máquina de cartão e até seguros.
O suposto banco foi descoberto a partir de uma apreensão de drogas no Pará, em julho de 2022. Na época da operação, uma denúncia anônima levou a PF a um sítio no município de Curuçá (PA). Lá, os investigadores encontraram uma tonelada de cocaína enterrada.
Com o avançar das investigações, a polícia identificou um complexo esquema de envio de cocaína para a África e Europa, por meio de barcos pesqueiros com origem no Pará. O dinheiro da venda das cargas era lavado justamente no First Capital Bank.
Aporte financeiro. O grupo criminoso enxergou a oportunidade de criar uma empresa e apresentá-la ao mercado como banco para lavar o dinheiro que vinha do tráfico de drogas. Lucas Gonçalves, delegado da Polícia Federal do Pará, disse ao Fantástico que, com a criação da empresa, os criminosos tentavam passar legitimidade em suas operações de valores ilícitos.
Entre 2022 e 2023, a instituição movimentou R$ 50 milhões — valor se refere apenas ao que foi movimentado pelo núcleo investigado. Segundo comunicado da PF, "a organização criminosa usava diversos 'laranjas' e 'testas de ferro' para dissimular os valores ilicitamente obtidos, mediante a constituição de diversas pessoas jurídicas."
O autodenominado banco tem site e perfis em redes sociais. No Instagram, inclusive, a empresa se manifestou após a operação da PF: "Negamos qualquer participação ou conivência com práticas ilícitas."
Instituição não tinha registros como banco. Procurado pelo UOL, o Banco Central informou que o First Capital não é regulado pelo órgão. Também em contato com a reportagem, a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) disse que o suposto banco não faz parte do seu quadro de associados.
Ainda assim, não é possível afirmar se toda a carteira de clientes do First Capital Bank sabia que a instituição era controlada por traficantes. A Justiça Federal determinou a suspensão das atividades do banco e o bloqueio de valores nas contas da empresa. Agora, a investigação busca descobrir de quem partiu a ideia de criar o banco "fake" para a lavagem de dinheiro do tráfico.
O que aconteceu
A operação Oceano Azul foi deflagrada no dia 4 deste mês. Na ocasião, foram cumpridos 15 mandados de prisão e 30 de busca e apreensão em seis cidades paraenses e em outros sete estados do país. Além disso, haviam também 27 mandados de sequestro de bens e 15 mandados de suspensão de atividades econômicas, expedidos pela 4ª Vara Federal da seção judiciária do Pará.
Desses mandados, 12 pessoas foram presas, segundo o Fantástico. Também foram apreendidos computadores, carros de luxo, dinheiro vivo e joias em uma das sedes da empresa, em São Paulo. De acordo com a PF, dispositivos eletrônicos apreendidos serão periciados e analisados, "no intuito de corroborar ou refutar as hipóteses criminais levantadas".