Contra fake news, influenciadores do RS recomendam rádio e checagem

Para evitar a propagação de fake news e informações sensacionalistas, influenciadores digitais do Rio Grande do Sul decidiram recomendar as rádios locais e a checagem de notícias.

O que aconteceu

O rádio à pilha é a principal fonte de notícias para muita gente que está sem energia elétrica e sem internet. O grupo Equatorial Energia informou que 188 mil clientes ficaram sem abastecimento desde segunda (6).

A prioridade na comunicação é o socorro para quem continua ilhado e a facilitação do fluxo de mantimentos. "Às vezes as pessoas querem ajudar e acabam atrapalhando, compartilham notícias atrasadas. Isso gera deslocamento de grupos de resgate para locais onde as pessoas já foram resgatadas", diz Juarez Jr. Paiva Malagnez, influenciador de "O mundo CTG" (Centro de Tradições Gaúchas).

A orientação, nos abrigos do CTG, é para que as pessoas se informem pelas rádios e verifiquem a checagem de notícias que chegam até elas. O perfil "O mundo do CTG" informa sobre os pontos de coleta de material doado e abrigos. São mais de 1.500 centros em todo estado — pelo menos cinco por cidade — que estão recebendo as pessoas prejudicadas pelas cheias.

O humorista Badin Colono afirma que notícias "alarmistas" estão preocupando ainda mais a população arrasada pela enchente. Ontem, ele, que tem 2,4 milhões de seguidores, sobrevoou locais atingidos por cheias com um helicóptero, fez uma transmissão e incentivou a checagem de informações vindas de fontes duvidosas.

Colono diz que muita gente duvidou que as doações recebidas por diversos meios realmente chegariam a quem mais precisa de ajuda. Ele organizou uma vaquinha e arrecadou mais de R$ 38 milhões até ontem — que devem ser doados para instituições atingidas pelas inundações. "Muitas cidades estão precisando de caminhões com jatos de água, de materiais de limpeza, essas informações precisam circular e precisamos ser certeiros com as demandas", afirma.

[Pelo rádio], as informações chegam em tempo real e mais certeira para quem está sem bateria e sinal para se comunicar.
Juarez Jr. Paiva Malagnez, influenciador

Teve uma fake news informando que seria proibida a passagem de carretas com doações, o que evidentemente é uma mentira! Estamos incentivando as pessoas a não repassar notícias falsas. É um momento difícil, porque algumas emissoras de rádio estão sem energia elétrica.
Badin Colono, influenciador

Notícias falsas

Uma das notícias falsas identificada por Paiva Malagnez foi sobre o rompimento de um dique na cidade de Cachoeirinha, na região metropolitana de Porto Alegre. O dique do município fica embaixo da ponte que interliga as duas cidades, separadas pelo rio Gravataí.

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"Quem mora perto do dique está debaixo d'água, ele transbordou, mas não se rompeu", diz ele. "São situações diferentes e as notícias falsas geram desespero. Existe um risco de rompimento, mas isso não aconteceu e as notícias falsas atrapalham o trabalho dos grupos de resgate."

O UOL Confere localizou registros de áudios alarmistas falando em centenas de mortes no estado. Também estão sendo usadas imagens de países como Cazaquistão, Bolívia e México sendo atribuídas ao Rio Grande do Sul, além de outras desinformações.

Hábito de ouvir rádio

Especialistas ouvidos pela reportagem afirmam que o gaúcho está acostumado a ouvir rádio — o que facilita a recomendação de procurar as notícias em fontes confiáveis. Levantamento da Agência Radioweb aponta que existem mais de 500 rádios no estado.

Algumas rádios, porém, também sofreram alagamento. Segundo o Estadão Conteúdo, o jornalista Rodrigo Lopes, do Zero Hora, precisou interromper sua participação em um programa ao vivo da Rádio Gaúcha (Grupo RBS) ao saber que o local onde seu carro estava estacionado, em Porto Alegre, poderia ficar alagado.

A Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros recomendaram à Equatorial o desligamento de 179 mil clientes. O objetivo, dizem, é garantir a segurança da população. Os municípios mais atingidos são Eldorado do Sul, Guaíba, Porto Alegre, Alvorada e Viamão.

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Podemos falar em desertos de notícias, mas não em cidades sem rádios. Aqui passamos pelas casas e ouvimos o rádio ligado, todos os táxis e motoristas por aplicativo também escutam.
Paulo Gilvane Borges, diretor da Agência Radioweb

O celular vai parar de funcionar, porque vai acabar a bateria, não vai ter como recarregar, mas o radinho de pilha funciona. Então isso está ajudando muita gente, já que tudo está mudando muito rápido.
Luiz Artur Ferraretto, especialista em radiojornalismo da UFRGS

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