Raro veado-campeiro albino 'se esconde' à sombra de eucaliptos no MS; veja
Maurício Businari
Colaboração para o UOL
09/05/2024 17h33
Um raríssimo veado-campeiro parcialmente albino foi avistado escondendo-se nas sombras de uma floresta de eucaliptos em Mato Grosso do Sul, um ambiente pouco convencional para animais de sua espécie.
O que aconteceu
A presença do animal foi registrada em vídeo e fotografias por colaboradores da Eldorado Brasil, empresa de extração de celulose com sede no estado. Ao todo, foram documentadas 14 aparições do animal em florestas de eucalipto no município de Inocência, que fica a 337 km da capital estadual, Campo Grande.
O primeiro avistamento ocorreu em janeiro de 2020, na fazenda Santa Helena, seguido por um último registro em novembro de 2023, na fazenda vizinha, São Matheus. Ao longo desse período, foram documentados 15 avistamentos, sendo a maioria deles (11) na fazenda Santa Helena.
Os registros foram encaminhados ao professor José Maurício Barbanti Duarte, especialista em cervídeos e doutor em genética da Unesp (Universidade Estadual Paulista), que analisou as imagens.
O especialista observou que encontrar esse animal em uma área tão fora do comum em seu habitat natural é inesperado para os pesquisadores e especialistas do campo. O veado-campeiro, uma espécie com uma distribuição histórica por toda a região central da América do Sul, é frequentemente encontrado em diversos biomas, como a Caatinga, o Cerrado, o Pantanal e os Campos Sulinos.
Adaptado para viver em ambientes de vegetação aberta, ele geralmente não é encontrado em florestas. Sua aparição nas fazendas da empresa pode estar relacionada à busca por proteção que esses animais não encontram em seu ambiente habitual e as sombras que os eucaliptos oferecem. Esse sombreamento extra pode ser particularmente benéfico para eles, pela proteção da exposição ao sol.
O animal registrado no Mato Grosso do Sul tem piebaldismo, um tipo de albinismo "parcial". Para animais com albinismo ou piebaldismo, a sobrevivência em áreas abertas é extremamente limitada, explica o professor.
Diferença entre as condições
O albinismo e o piebaldismo são condições genéticas que afetam a pigmentação em animais, mas diferem em suas características e origens. O albinismo resulta da falta de melanina em todo o corpo, levando a animais com pele, pelos e olhos claros, devido a uma mutação em genes envolvidos na produção de melanina. Já o piebaldismo é caracterizado por manchas irregulares de pele e pelos descoloridos, frequentemente acompanhados de áreas de pigmentação normal; esta condição é causada por mutações que afetam a migração ou sobrevivência dos melanócitos durante o desenvolvimento.
O albinismo em animais, além de conferir uma aparência distinta devido à falta de pigmentação, muitas vezes é associado à endogamia, especialmente em populações pequenas ou isoladas. Essa relação consanguínea aumenta a probabilidade de genes recessivos, como aqueles que causam o albinismo, serem herdados por descendentes.
Isso pode levar não apenas a características físicas distintas, mas também a uma maior incidência de problemas de saúde associados, como vulnerabilidades a doenças e problemas de visão. Portanto, apesar do albinismo ser visualmente impressionante, ele também destaca questões importantes sobre a diversidade genética e a saúde da população animal.
O albinismo é uma característica fenotipicamente não muito favorável para essa espécie. Ele induz a uma alta frequência de carcinomas, de câncer, porque eles não têm proteção na pele, então, com qualquer incidência solar, eles se queimam. Por isso, na natureza, é uma característica que geralmente é eliminada. Os animais acabam morrendo com uma idade muito mais precoce do que os animais naturalmente coloridos. José Maurício Barbanti Duarte, especialista em cervídeos e doutor em genética da Unesp
Sobre o veado-campeiro
O veado-campeiro, conhecido cientificamente como Ozotoceros bezoarticus, é uma espécie de cervídeo nativa da América do Sul, com presença marcante no Brasil, Argentina, Paraguai e Bolívia. Esse animal tem uma estatura esbelta, com altura que varia entre 90 a 140 centímetros no ombro e pesa entre 20 a 40 quilos. Sua pelagem varia de tons de marrom a cinza, adaptando-se bem às vastas planícies e áreas abertas onde predominam.
Sua presença é menos comum em áreas densamente florestadas, preferindo ambientes que oferecem vastas áreas para pastagem e pouca cobertura arbórea. A espécie enfrenta sérios desafios para sua conservação, principalmente devido à perda de habitat e à caça ilegal. Esses fatores contribuem para que seja considerada uma espécie vulnerável pela IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza).