Com infestação no RS, o que explica ratos e baratas sobreviverem à enchente

Os alagamentos causados pelas chuvas e a cheia dos rios no Rio Grande do Sul fizeram surgir mais um problema desagradável para os moradores das cidades afetadas: a infestação de baratas e ratos.

O que aconteceu

Os relatos de infestação por esses animais começaram a surgir em Porto Alegre, que foi bastante afetada pelas inundações.

Animais comumente encontrados em galerias de esgoto e áreas subterrâneas, seu aparecimento em massa é movido pelo instinto de sobrevivência. Segundo o biólogo César Favacho, mestre em Biodiversidade e Evolução, assim como os humanos, diante de uma enchente, esses animais procuram abrigo em lugares secos.

Daí eles acabam indo para onde as pessoas também estão se abrigando, que são as partes mais secas, superiores, abrigadas da água. É aí que ocorre essa infestação, que, na verdade, é composta apenas dos bichos que já estavam lá, que muitas vezes estavam escondidos, começando a aparecer todos juntos, também procurando abrigo.
César Favacho

Existem cerca de 5.000 espécies de baratas no mundo, das quais 1.000 são brasileiras. As baratas urbanas correspondem a apenas 1% do total de espécies. Pertencentes à ordem Blattodea, são criaturas noturnas, habilidosas em se esconder e adaptáveis.

Com uma história que remonta a centenas de milhões de anos, esses artrópodes sobreviveram a cataclismos ecológicos que extinguiram outras espécies. No entanto, sua capacidade de resistência e adaptação também os torna uma presença constante na vida humana, especialmente em ambientes urbanos.

No caso da extinção dos dinossauros, uma série de fatores as ajudou a sobreviver. De acordo com o biólogo Brian Lovett, em artigo publicado no The Conversation, além de comer de tudo, a primeira característica fundamental para a sobrevivência é o corpo achatado, que permite ao bicho atravessar frestas diminutas e se manter em minibolsões isolados termicamente. Elas são muito eficazes para cavar, o que fez a diferença no calor daquela época.

O design vem de berço, já que até os ovos das baratas vêm embalados numa espécie de estojo, que protege a prole ainda por nascer de impactos, predadores, água, seca, temperaturas extremas etc

Já os ratos são divididos em cerca de 2.000 espécies e apenas cerca de 50 delas são consideradas pragas urbanas, a maioria pertencente à família Muridae.

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Os ratos urbanos, conhecidos cientificamente como Rattus norvegicus e Rattus rattus, são mestres na arte da adaptação. Originários da Ásia, esses roedores migraram para todos os cantos do globo, encontrando em ambientes urbanos o cenário ideal para prosperar.

Com hábitos noturnos e uma dieta variada que inclui restos de comida, lixo e até mesmo materiais de construção, esses roedores rapidamente se estabeleceram como habitantes indesejados das cidades modernas.

De acordo com uma pesquisa da Universidade de Sussex, na Inglaterra, existem cerca de 500 baratas por habitante no mundo. No entanto, as baratas urbanas podem ter uma densidade populacional ainda mais elevada, com mil baratas escondidas para cada uma encontrada.

Com relação aos ratos, não há no Brasil estimativas oficiais. Porém, um estudo conduzido em 2015 por pesquisadores da Universidade de Columbia, nos EUA, estimou que uma cidade como Nova York, por exemplo, abriga uma população de ratos em torno de 8 milhões, ou seja, um por habitante.

Medo atávico

O medo que sentimos desses animais, explica Favacho, é atávico. Ou seja, passado para nós de forma hereditária, por nossos ancestrais.

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Os ratos, por exemplo, são conhecidos hospedeiros de pragas, como a peste bubônica, a hantavirose e a leptospirose.

Já as baratas são temidos vetores de hepatite A, febre tifoide, hanseníase, tuberculose, poliomielite, parasitoses, meningite e pneumonia, entre outras doenças.

As baratas são vetores mecânicos, vetores físicos. Elas ficam andando por locais sujos e os microrganismos acabam grudando no corpo delas e elas os transportam mecanicamente de um lado para o outro. Por isso as infestações em enchentes são uma calamidade total para todo mundo, na verdade.
César Favacho

Outros animais também são resistentes e conseguem se safar. Favacho lembra, ainda, que não são apenas ratos e baratas que podem surgir em calamidades como a ocorrida no Rio Grande do Sul. Ele cita ainda outros animais, como aranhas, lacraias, escorpiões e até cobras, que podem sair de seus esconderijos em busca de segurança. "Todos os animais que não respiram embaixo d'água vão começar a aparecer", afirma.

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