Jacaré surge em prédio no Rio: por que eles estão cada vez mais perto?
Maurício Businari
Colaboração para o UOL
23/05/2024 04h00
A presença de jacarés em áreas densamente povoadas do Rio, como na Cidade de Deus e em Jacarepaguá, assusta moradores e parece se tornar cada vez mais comum.
Por que os jacarés estão por perto?
O surgimento de jacarés em áreas densamente povoadas no Rio, principalmente na zona oeste da cidade, Jacarepaguá e, recentemente, na Cidade de Deus, desperta curiosidade e medo na população. A constância dos avistamentos dá a impressão de que os jacarés estão invadindo as áreas ocupadas pelas pessoas.
Na verdade, somos nós, humanos, que estamos vivendo em áreas que são o habitat natural desses animais, segundo especialistas ouvidos pelo UOL.
A invasão de habitats naturais é uma questão antiga. "A área em questão já é ocupada por humanos desde a década de 1950 do século passado, o que tem aumentado o contato entre nossa espécie e o jacaré-de-papo-amarelo (Caiman latirostris)", explica Oscar Rocha Barbosa, professor do departamento de zoologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Influência da urbanização
Os animais "sempre estiveram ali": o aumento da urbanização e os impactos ambientais forçam os jacarés, que vivem no complexo de lagunas de Jacarepaguá, a buscar novas áreas para sobreviverem, principalmente em busca de alimento e sol, explica Flavio Moutinho, professor de veterinária da UFF (Universidade Federal Fluminense). O próprio nome Jacarepaguá, explica o professor, significando vale ou terra dos jacarés.
Os ambientes urbanos oferecem tudo o que os jacarés precisam para sobreviver: "temperatura adequada, abrigo, abundância de presas", diz o professor Moutinho.
O jacaré-de-papo-amarelo está adaptado às regiões lagunares e pantanosas, mas o impacto humano, especialmente a poluição por esgoto, leva esses animais a adoecer e se deslocar mais. Uma estimativa de 2023 do Instituto Jacaré calcula que existem cerca de 6 mil jacarés no complexo lagunar da Barra da Tijuca, com uma tendência de declínio dessa população.
Temos de ficar espertos para que o impacto das ações humanas não leve futuramente a uma extinção local, regional ou nacional desse animal. A gente tem de tomar esse cuidado para que as pessoas não fiquem assustadas a ponto de querer matar e eliminar esses animais.
Flavio Moutinho
Como é o jacaré-de-papo-amarelo e o que fazer
O jacaré-de-papo-amarelo, segundo Barbosa, é um réptil semiaquático, pode chegar a dois metros e meio de comprimento e é conhecido por seu comportamento protetor durante a reprodução. Moutinho complementa que, embora a espécie não seja agressiva, é importante manter distância, pois "o jacaré não corre atrás de um humano para se alimentar, mas pode ver pequenos animais de estimação, como gatos e cachorros, como presas".
É um animal ovíparo, ou seja, que coloca ovos em ninhos que a fêmea constrói e dos quais cuida como uma sentinela atenta, atacando aqueles que se aproximam. O período reprodutivo acontece na primavera e a maturação dos ovos leva por volta de 70 dias.
Oscar Rocha Barbosa
Em caso de avistamento, Barbosa aconselha manter distância e contatar os bombeiros para a remoção do animal. "Em hipótese nenhuma as pessoas devem arriscar-se a realizar essa remoção."
Pessoas devem ver o jacaré como parte da natureza e evitar qualquer interação, diz Moutinho. "Não tente interagir ou provocar", orienta, enfatizando a importância da educação ambiental para uma coexistência pacífica.
Devido ao comportamento furtivo dos jacarés, sua presença nem sempre é detectada, o que pode ser perigoso. "Seria prudente não se aproximar muito da beira dos corpos d'água, principalmente crianças e pequenos animais", recomenda Felipe Mesquita de Vasconcellos, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
O que aconteceu
No dia 21, um jacaré foi avistado em um prédio na Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, e um morador conseguiu laçá-lo. Vídeos registraram o momento da captura.
Em janeiro deste ano, moradores do Rio de Janeiro, Belford Roxo e São João do Meriti registraram a presença de jacarés nadando pelas ruas alagadas das cidades após fortes chuvas.