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Caso Djidja: como eram rituais com drogas e nudez da seita 'Pai, Mãe, Vida'

A empresária Djidja Cardoso, ex-sinhazinha do Boi Garantido, Cleusimar Cardoso e Ademar Cardoso (da esquerda para a direita) Imagem: Reprodução/Redes sociais

Do UOL, em São Paulo

03/06/2024 13h11

A morte da empresária e ex-sinhazinha do Boi Garantido Djidja Cardoso, de 32 anos, tornou pública uma seita liderada pela mãe, Cleusimar, e pelo irmão da jovem, Ademar Cardoso, segundo as investigações da Polícia Civil.

Entre as supostas inspirações do trio, estaria um livro com as "cartas de Cristo", que promete "trazer iluminação ao mundo" e "capacitar a humanidade a construir uma nova consciência durante os próximos 2000 anos".

O grupo religioso era marcado pelo uso de drogas e abusos sexuais, segundo a polícia.

O que era a seita

A "Pai, Mãe, Vida" foi criada há pelo menos dois anos, segundo relatou o delegado Cícero Túlio, responsável pela investigação.

O grupo dizia se inspirar em um livro lançado em 2021, o "Cartas de Cristo - A Consciência Crística Manifestada". O livro prometia contar a verdadeira natureza de Deus e ensinar a viver uma vida digna.

Os rituais da seita prometiam aos seguidores "transcender a outra dimensão e alcançar um plano superior e a salvação" — mas tudo com o uso de cetamina, segundo a polícia. A droga sintética é de uso veterinário e tem efeitos alucinógenos.

Quem participava

Funcionários dos salões de beleza da família e amigos próximos de Djidja, Cleusimar e Ademar eram induzidos a participar da seita, diz a investigação. Três colaboradoras foram presas suspeitas de participar no "aliciamento" de membros para o grupo. São elas Verônica da Costa Seixas, 30, Claudiele Santos da Silva, 33, e Marlisson Vasconcelos Dantas.

Como eram os rituais

Os rituais aconteciam em uma casa da família Cardoso, em Manaus, segundo mostrou o "Fantástico" (TV Globo). Ademar assumia a figura de Jesus, Cleusimar, a de Maria, mãe do filho de Deus, e Djidja, a de Maria Madalena.

Aqueles que eram induzidos a participar tinham de tomar cetamina para "transcender a outra dimensão". Vulneráveis, as vítimas eram obrigadas a se manter despidas e não podiam tomar banho ou se alimentar.

Várias teriam sofrido com cárcere e violência, incluindo abusos sexuais e abortos. A polícia identificou ao menos duas vítimas que teriam sido mantidas por dias dentro da casa, sendo estupradas sucessivas vezes por membros do grupo. Uma delas perdeu o bebê que esperava.

Outro ponto que a Polícia Civil segue investigando é a suposta utilização de animais domésticos em rituais da seita — um ponto ainda não detalhado ao público.

Como caso chegou à polícia

As investigações começaram há cerca de 40 dias, após denúncia de violência contra a ex de Ademar. O pai da jovem resgatou a filha dopada e a levou à delegacia, relatando os fatos, segundo o delegado.

Djidja, que morreu em 28 de maio, também era alvo de investigações por sua participação no esquema. A suspeita é de que ela sofreu uma overdose de cetamina durante um dos "rituais". Sua mãe e irmão foram presos dois dias depois da morte da ex-sinhazinha.

Até mesmo a avó de Djidja pode ter sofrido com o uso da droga. Uma investigação sobre a morte da idosa começou depois que familiares suspeitaram que Ademar Cardoso possa ter injetado cetamina depois de ela ter reclamado de dores.

O que a polícia encontrou na investigação

O local utilizado para os rituais tinha "cheiro de carne em estágio de putrefação", segundo descrição da Polícia Civil de Manaus. Dentro da casa, foram encontradas seringas, doses de cetamina, frascos vazios, medicamentos, computadores e documentos, todos levados para investigação.

No momento da prisão, Ademar e Cleusimar tinham lesões na pele "tipo necrose por conta das aplicações".

O que dizem os envolvidos

Um dos funcionários presos, Marlisson Dantas "está disposto a esclarecer os fatos para provar a sua inocência" e está à disposição do Poder Judiciário e das autoridades para colaborar com as apurações", segundo nota enviada ao UOL pelo advogado Lenilson Ferreira.

O advogado da funcionária Claudiele disse que não há provas contundentes da participação dela. Kevin Teles afirmou que a cliente é "apenas uma funcionária do salão" e negou existir vínculo dela com a família Cardoso. A defesa informou que deverá emitir nota oficial dentro de alguns dias para detalhar o caso com "informações verídicas e não apenas falácias".

A defesa de Cleusimar Cardoso e Ademar Cardoso admitiu que mãe e filho são "extremamente dependentes químicos", mas preferiu não se pronunciar sobre o inquérito.

O advogado da funcionária Verônica da Costa Seixas também afirmou que ainda não tomou conhecimento do inquérito policial.

Uma clínica no bairro Redenção, em Manaus, seria a responsável por fornecer a cetamina, mas não foram divulgados detalhes sobre identidade e prisão de responsáveis. A Polícia ainda busca saber se outras clínicas e veterinários forneceram ao grupo as substâncias de forma ilegal.

* Com informações de reportagens publicadas em 01/06 e 02/06

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