Conteúdo publicado há 5 meses

Droga e crimes: polícia detalha esquema em seita familiar de Didja Cardoso

A morte da empresária e ex-sinhazinha do Boi Garantido, Didja Cardoso, em Manaus (AM), revelou o funcionamento de um grupo religioso, liderado pela mãe e o irmão dela, Cleudimar e Ademar Cardoso, suspeito de usar e distribuir ilegalmente uma substância médica.

Como funcionava o grupo

Grupo religioso se chamava "Pai, Mãe, Vida". No grupo, segundo a polícia, eram realizados rituais com o uso indiscriminado de cetamina — droga sintética de uso veterinário com efeitos alucinógenos. As investigações apontam que algumas vítimas passaram por violência sexual e aborto.

Família de Didja é suspeita de fornecer, distribuir e usar a droga nos empregados de uma rede de salões de beleza em alguns rituais. A droga também chamada de ketamina é usada ilegalmente como substância recreativa. Na medicina veterinária, ela é usada em função de suas propriedades sedativas.

Djidja era alvo da investigação por integrar o grupo, diz delegado. Cícero Túlio, responsável pelas investigações. Segundo ele, a suspeita é de que ela tenha morrido por overdose da substância durante o ritual. Didja morreu na terça-feira (28).

Delegado afirma que "seita funcionava havia pelo menos dois anos". Segundo Túlio, as buscas da polícia ocorreram em três unidades de salões de beleza.

Investigações começaram com pai de vítima na delegacia. "O pai da companheira de Ademar, irmão de Didja, resgatou a filha dopada e a levou à delegacia, relatando os fatos há cerca de 40 dias", diz o delegado.

Quanto às investigações, estamos apurando a existência de outras clínicas veterinárias ou estabelecimentos comerciais que eventualmente façam o comércio clandestino da ketamina/cetamina e que tenham realizado a entrega desse produto para a seita investigada.
Cícero Túlio, delegado responsável pelas investigações

Rituais prometiam cura espiritual

Cleusimar Cardoso e Ademar Cardoso, mãe e irmão de Djidja, foram presos na quinta-feira (30), em Manaus. Nos rituais, a polícia detalha que Ademar assumia a figura de Jesus, Cleusimar seria Maria, mãe de Jesus, e Djidja, a ex-sinhazinha, de Maria Madalena. Juntos, induziam seguidores a acreditar que com o uso da substância iriam "transcender a outra dimensão e alcançar um plano superior e a salvação."

Continua após a publicidade

Funcionários de salão de beleza estavam envolvidos, diz a polícia. Segundo a polícia, foram presas Verônica da Costa Seixas, 30, Claudiele Santos da Silva, 33, e Marlisson Vasconcelos Dantas, funcionários do estabelecimento. Eles eram, segundo as investigações, responsáveis por induzir outros colaboradores e pessoas próximas à família a se associar ao grupo. De acordo com o delegado, Marlisson se entregou à polícia na sexta-feira no fim da tarde com o advogado.

Cárcere privado e estupro de vulnerável estão entre os crimes apontados. A polícia identificou ao menos duas vítimas que teriam sido mantidas sob cárcere privado e sido estupradas sucessivas vezes por membros do grupo durante dias. As investigações apontam ainda que as vítimas foram mantidas "despidas e sem se banhar durante todo período" — teria ocorrido ainda um aborto de uma das vítimas que estava grávida.

Cetamina e outros itens apreendidos pela polícia com os familiares de Djidja Cardoso
Cetamina e outros itens apreendidos pela polícia com os familiares de Djidja Cardoso Imagem: Divulgação/PCAM

Investigações em andamento

Polícia busca saber se outras clínicas e veterinários forneceram ao grupo as substâncias de forma ilegal. A DEHS (Delegacia Especializada em Homicídios e Sequestros) também apura se alguém medicou Djidja antes de ela morrer.

Suspeitos de envolvimento na seita devem responder por tráfico de drogas e associação para o tráfico. Além disso, integrantes do grupo poderão ser indiciado sob acusação de colocar em perigo a saúde ou a vida de outrem.

Continua após a publicidade

O delegado Túlio diz que a "seita atuava em parceria com uma clínica" no bairro Redenção, em Manaus. Segundo ele, o estabelecimento oferecia cetamina e outras substâncias para a família de Djidja sem qualquer controle.

Polícia Civil informou que está ouvindo vítimas do grupo. Duas delas teriam informado que, além do abuso de substâncias e violência psicológica, a seita praticava violência física e estupro de vulnerável. O delegado afirmou que as vítimas relataram que permaneciam dopadas por dias, eram obrigadas a se manter despidas e não podiam tomar banho ou se alimentar.

A morte da matriarca da família, avó da Djidja, também é investigada pela polícia. Familiares de Djidja acreditam que Ademar Cardoso injetou cetamina na avó após a idosa de 83 anos ter reclamado de dores.

O que dizem as defesas

Funcionário que estava foragido se entregou à polícia nesta sexta-feira (31). Ao UOL o advogado de Marlisson, Lenilson Ferreira, afirmou que ele "está disposto a esclarecer os fatos para provar a sua inocência" e está à disposição do Poder Judiciário e das autoridades para colaborar com as apurações. "Ele confia no trabalho da Justiça e está acredita que sua participação nas investigações será fundamental para a elucidação do caso."

O advogado da funcionária Claudiele disse ao UOL que não há provas contundentes da participação dela. Kevin Teles afirmou que a cliente é "apenas uma funcionária do salão" e negou existir vínculo dela com a família Cardoso. A defesa informou que deverá emitir nota oficial dentro de alguns dias para detalhar o caso com "informações verídicas e não apenas falácias".

Continua após a publicidade

Defesa de Cleusimar Cardoso, Ademar Cardoso e Verônica da Costa Seixas afirmou que ainda não tomou conhecimento do inquérito policial. Ao UOL, o advogado Vilson Benayon disse que os três faziam uso "constante e prolongado" de drogas. Ele disse ainda que solicitou exame toxicológico e internação em uma clínica.

Deixe seu comentário

Só para assinantes