Justiça suspende vídeos de canais feitos por policiais no YouTube

A Justiça Federal determinou, nesta terça-feira (18), a suspensão de vídeos produzidos por policiais no YouTube. A determinação mira programas de entrevista em que agentes de segurança pública relatam ocorrências em que se envolveram.

O que aconteceu

Ação civil pública foi movida pelo MPF (Ministério Público Federal) e a DPU (Defensoria Pública da União). A decisão judicial suspendeu o acesso a conteúdos específicos dos canais "Copcast", "Fala Glauber", "Café com a Polícia" e "Danilsosnider", como medida provisória para evitar a disseminação de discursos de ódio.

Decisão ocorreu para suspensão, e não exclusão definitiva. A Justiça optou por esse caminho para "assegurar a tutela de direitos humanos sem comprometer a liberdade de expressão e a atividade econômica dos réus, mantendo a reversibilidade da decisão até o julgamento final".

A decisão é importante porque mostra que esse tipo de discurso, ele representa um abuso da liberdade de expressão e, ao exaltar a violência policial, e principalmente direcionar a determinados grupos sociais, principalmente a população negra, a população das favelas... Essas decisões são uma importante indicação também para prevenir que esses discursos não se repitam. Procurador da República Julio Araújo ao UOL

A Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro também foi notificada para prestar informações sobre os procedimentos adotados para efetivar o controle de postagens em redes sociais.

O MPF-RJ abriu uma apuração interna sobre os canais no dia 17 de abril de 2023. A investigação inicial do MPF, conforme revelou o UOL à época, cita quatro canais no YouTube. Nos vídeos investigados, PMs do Rio e de São Paulo narram abusos que eles próprios teriam cometido. Eles falam abertamente que a polícia encobre e estimula ações violentas, inclusive mortes.

O MPF e a DPU pediram informações ao Google (que controla o YouTube) sobre a moderação destes conteúdos. Isso ocorreu após os vídeos terem sido revelados em uma reportagem do site Ponte Jornalismo.

As páginas, que veiculam entrevistas com policiais em formato de podcast, têm de 200 mil a 1,6 milhão de inscritos. As mais antigas estão no ar há mais de 10 anos.

"O Bope entra e mata os outros na faca mesmo"

Em um dos vídeos sob apuração, um PM licenciado no Rio afirmou que agentes do Bope cometem atos de violência sem registro oficial. A afirmação é de Miquéias Arcenio, que já foi assessor do vereador cassado e ex-PM Gabriel Monteiro.

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Na ocasião, Arcenio afirmou que o Bope, quando quer, "mata os outros na faca mesmo", mas que "oficialmente isso não existe". Um exemplo dessa prática, segundo ele, ocorreu em uma operação na favela Nova Brasília, Complexo do Alemão, que deixou 7 mortos.

A entrevista foi publicada em 4 de setembro de 2022. O canal começou a publicar entrevistas com policiais em maio de 2021.

Dono do canal, Danilo Snider não quis comentar sobre teor dos vídeos. "Eu não tenho o que falar. Só fazemos o podcast ao vivo e postamos os cortes", disse à reportagem do UOL, na época.

O UOL procurou Miquéias Arcenio por e-mail e mensagem no Instagram, mas não teve retorno.

O Bope, quando entra, ele faz o diabo mesmo. Ele entra, mata os outros na faca mesmo. Óbvio que oficialmente isso não existe, isso nunca aconteceu [...].

Quando eles [Bope] querem fazer uma covardia, eles tiram o uniforme deles e botam o nosso [de PM]. O convencional. É sério. Porque quando eles [Bope] entram com o uniforme deles, os caras correm. Então, quando eles querem fazer uma covardia eles trocam de uniforme e entram com o convencional".
PM licenciado Miquéias Arcenio, em entrevista a Danilo Snider

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Miquéias Arcenio afirmou que agentes do Bope trocam de farda "quando querem fazer uma covardia"
Miquéias Arcenio afirmou que agentes do Bope trocam de farda "quando querem fazer uma covardia" Imagem: Reprodução/YouTube

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