'Me aguarde': áudios mostram ameaça a jovem que chamou menina de 'baranga'
Áudios enviados a David Alexandre Moreira, jovem morto após xingar a filha e a esposa de um policial penal, mostram uma mulher pedindo para ele parar de incomodar a filha dela e o ameaçando.
O que aconteceu
Mensagens teriam sido enviadas pela esposa do policial penal Willian Lopes dos Santos. Os áudios e prints aos quais o UOL teve acesso mostram que a mulher teria pegado o celular da filha para responder a ofensas cometidas por David. Esta é a versão sustentada pela família da vítima.
"Você vai ver a janta que eu vou fazer. Me aguarde", disse a mulher. O áudio foi enviado após o jovem chamar a filha dela de "baranga" e zombar da mulher, dizendo: "vai fazer janta".
"Para de insultar minha filha". Antes da mensagem de tom ameaçador, a mulher enviou outros dois áudios pedindo que David parasse de incomodar a filha dela, o que foi respondido com ironia pelo jovem. "Baranga, nunca gostei de você, garota", disse.
Briga por mensagem. À polícia, parentes de David afirmaram que ele trocou mensagens com a garota, de 17 anos, após uma briga com a namorada. O intuito seria "fazer ciúmes".
Caso foi registrado na polícia. Ao UOL, a Polícia Civil informou que só repassará informações sobre o ocorrido no fim das investigações.
Familiares acreditam que mulher "instigou" marido a cometer o crime. Ao UOL, o pai de David afirmou que considera a mulher "pivô" do assassinato.
A minha filha não é chacota para você entrar no 'zap' dela e ficar esculachando ela de nome não. Ela nunca teve nada com você, você é namorado da amiga dela, você resolve a sua vida com a sua namorada e para de insultar minha filha que eu não estou gostando disso.
Mensagem recebida por David antes de ser morto
Policial penal foi ouvido e liberado
Policial penal se apresentou à polícia. Ele foi ouvido na presença de um advogado e liberado em seguida, informou a PCMG.
Ele continua trabalhando como policial penal. William atualmente está lotado na Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem. A informação foi confirmada pela Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública.
A Corregedoria abriu um procedimento administrativo para apurar a conduta do servidor. De acordo com o governo estadual, o processo encontra-se na fase de investigação preliminar. O prazo para conclusão é de 30 dias, prorrogáveis por mais 30.
"Destacamos que a Sejusp não compactua com quaisquer desvios de conduta dos seus profissionais. Todas as situações são acompanhadas com rigor e as medidas administrativas cabíveis no âmbito do processo legal são tomadas, guardando sempre o direito à ampla defesa e ao contraditório", diz nota enviada pela Sejusp.
Governo diz que as providências administrativas ocorrem ao final dos trabalhos da Corregedoria. Apuração vai indicar medidas a serem tomadas no âmbito administrativo, enquanto servidor público. Dessa forma, o servidor permanece na função para a qual prestou concurso público.
William Lopes dos Santos é policial penal efetivo desde junho de 2017. Entre dezembro de 2013 e dezembro de 2016 foi agente de segurança penitenciário contratado.
O UOL tentou contato com William por um número que não atende e nem recebe mensagens. Os advogados dele não foram encontrados até o momento. Este texto será atualizado se houver posicionamento do suspeito sobre o assunto. O espaço segue aberto.
Relembre o caso
Segundo a polícia, David Alexandre Castorino Moreira foi morto por conta de mensagens postadas em uma rede social. O crime ocorreu na última sexta-feira (28), no bairro Copacabana, em Belo Horizonte.
Jovem foi assassinado em seu local de trabalho e câmeras de segurança gravaram momento em que David é baleado. Nas imagens, é possível ver que o policial penal confronta o jovem.
Ele levou coronhadas e reagiu às agressões antes de ser baleado. William fugiu do local após atirar em David, mostram as gravações.
Destruiu minha família e a dele, diz pai de jovem morto
"Se fosse ao contrário, já estaria preso". Em entrevista ao UOL, Glayson Moreira, 47, pai de David, diz não entender a demora para a prisão do suspeito.
"Famílias destruídas por crime bárbaro". Glayson, que viu os vídeos do filho sendo baleado e as mensagens que ele teria trocado com a família do policial, afirmou que espera que ele pague pelo crime cometido.
O homem também questionou qual o treinamento recebido pelo policial penal. O pai de David afirmou que a atitude do suspeito manchou a imagem da instituição, que, para ele, "tem 99% de bons policiais". "Não quero generalizar, mas fica a pergunta: Como está a saúde mental dos agentes?".
A Polícia Militar chegou a ir até casa do policial após o crime, mas esposa informou que ele não se entregaria. A informação consta no registro de ocorrência da PM ao qual o UOL teve acesso nesta terça-feira (2).
Sei que não vai trazer o meu filho de volta, mas ele tem que pagar pelo crime bárbaro que ele fez comigo, com a nossa família. Ele destruiu a minha família, mas a família dele também ficou destruída.
Glayson Moreira da Silva, pai de David, ao UOL