Itamaraty pede desculpas por abordagem truculenta a meninos negros no RJ

O Ministério das Relações Exteriores informou que recebeu, na manhã desta sexta-feira (5), os embaixadores do Gabão e de Burkina Faso, pais dos adolescentes abordados pela Polícia Militar de forma agressiva em Ipanema, Rio de Janeiro.

O que aconteceu

Governo brasileiro entregou aos diplomatas nota verbal com pedido de desculpas. Os jovens, que têm de 13 a 14 anos, foram colocados contra a parede e tiveram armas apontadas contra eles. O relato foi dado pela mãe de um deles, que é jornalista, ao UOL.

O embaixador do Canadá não compareceu. Mas, segundo o governo brasileiro, o mesmo pedido de desculpas também será entregue a ele.

O Itamaraty declarou que acionará o governo do Rio de Janeiro para cobrar apuração rigorosa. Em nota, a pasta acrescentou ainda que policiais envolvidos na abordagem devem ser responsabilizados.

Abordagem foi gravada por câmeras de segurança

Abordagem foi registrada por de câmeras de segurança. Após a veiculação de notícias sobre o ocorrido, a Delegacia Especial de Apoio ao Turismo iniciou uma investigação

Meninos passam férias no Rio de Janeiro. Segundo o relato, seu filho e os jovens, filhos de diplomatas do Canadá, Gabão e Burkina Fasso, planejaram o passeio durante meses. Eles estão acompanhados pelos avós de um dos jovens na cidade.

Garotos chegavam em casa quando foram abordados. De acordo com relatos da mãe, os quatro jovens chegavam de uma partida de futebol para deixar um dos amigos em um prédio, na quarta-feira (3), quando a viatura chega, sobe a calçada, e dois policiais descem.

"Adolescentes com armas na cabeça", descreve mãe. Em seu testemunho, o filho da mulher, que é um menino branco, diz que os policiais apontaram armas para as cabeças dos outros jovens, negros, e os trataram com truculência. Ao UOL, a mulher descreveu a ação como "racista" e "criminosa".

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Policiais obrigaram jovens a tirar a roupa e a "levantar o saco". Em um primeiro momento, descreve a mãe, a polícia não argumentou sobre a motivação da abordagem e apenas os colocou enfileirados na parede do condomínio — um porteiro presencia ação. Um dos meninos ficou machucado, segundo a mãe.

Empurrão e ordem para levantar as mãos. Em determinado momento, captado em vídeo, o policial empurra a cabeça de um dos jovens e diz para todos levantarem as mãos.

Polícia questionou de onde os rapazes eram e o que faziam ali. Após a abordagem, os jovens foram indagados sobre o que faziam. Os jovens negros não entenderam, relata a mãe, pois são estrangeiros - filhos de diplomatas. Quem explicou a situação foi o próprio filho da mulher que fez a denúncia, único brasileiro.

Policiais disseram para jovens não andassem na rua, caso contrário, seriam abordados novamente. As imagens de câmeras de segurança mostraram toda a ação, desde a chegada da viatura, até o enquadro na parede.

O meu filho sempre vai ao Rio e isso nunca acontece. Agora, em uma viagem de passeio com os amigos, a polícia faz isso. Eles não entenderam nada do que aconteceu, são crianças estrangeiras que nunca vivenciaram isso.
Mãe de um dos jovens abordados pela PM

É traumático, triste, é doloroso. Estão assustados e machucados, com marcas que nem o tempo apagará.
Mãe de um dos jovens abordados pela PM

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