Lula enaltece diálogo na França, mas chefia governo do monólogo
Lula correu às redes sociais no domingo para manifestar sua felicidade com "a demonstração de grandeza e maturidade das forças políticas da França, que se uniram contra o extremismo nas eleições legislativas". Lula enxergou no "dialogo entre os segmentos progressistas" uma "inspiração para a América do Sul". Ironicamente, o autor da postagem preside um governo que despreza a opinião de forças políticas que ajudaram a elegê-lo.
Em outubro de 2022, quando derrotou o ultradireitista Bolsonaro, Lula recebeu os cumprimentos dos principais líderes mundiais. Um dos primeiros a felicitá-lo foi o presidente francês Emmanuel Macron. Lula talvez tenha interpretado as palmas internacionais como um reconhecimento pessoal. Meia-verdade. A exemplo do que ocorreu com uma parcela do eleitorado brasileiro, o que o mundo aplaudia era a retirada do arcaísmo de Bolsonaro do Poder.
Na França, embora tenha contribuído para impedir que a ultradireita obtivesse no Legislativo maioria para indicar o primeiro-ministro, Macron não pode se exceder nos fogos. Suas digitais estão na coligação antifascista. Mas foi a esquerda que obteve o maior número de cadeiras no Legislativo. O centro liberal do presidente amargou um segundo lugar —sinal claro de que a Presidência de Macron não agrada.
Muito feliz com a demonstração de grandeza e maturidade das forças políticas da França que se uniram contra o extremismo nas eleições legislativas de hoje. Esse resultado, assim como a vitória do partido trabalhista no Reino Unido, reforça a importância do diálogo entre os?
-- Lula (@LulaOficial) July 7, 2024
A ultradireita francesa levou uma paulada. Mas não está morta. A divisão de votos produziu um Legislativo pulverizado, que conspira contra a estabilidade dos três anos de mandato que restam a Macron. No Brasil, o bolsonarismo também respira. A vitória de Lula por pequena margem em 2022 foi assegurada pela parcela do eleitorado que votou em defesa do Estado democrático de Direito.
A frente ampla que se formou para eleger Lula não é levada em conta na condução do governo. Em seu terceiro mandato, Lula fica muito feliz as demonstrações de "grandeza e maturidade" dos outros "em defesa da democracia". Mas comanda um governo do monólogo. Em 2026, a força de um bolsonarismo em versão hipoteticamente light depende basicamente do desempenho de Lula.
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