Conteúdo publicado há 1 mês

Justiça determina suspensão de ação para despejar mulher de 90 anos em SP

A Justiça de São Paulo determinou, na quarta-feira (31), a suspensão temporária de ação de reintegração de posse contra Maria Benedicta Gaspar, de 90 anos. Ela foi notificada judicialmente no mês passado para deixar a sua casa, onde vive há mais de três décadas, na região rural de Paraibuna (SP).

O que aconteceu

Decisão é do juiz Pedro Flavio de Britto Costa. O magistrado levou em conta a disponibilidade de uma casa (ainda em construção) e o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana, previsto no artigo 1º, inciso III.

Determino, por ora, a imediata suspensão da ordem de reintegração de posse expedida em desfavor de Maria Benedicta. Cobre-se, de imediato, a devolução do mandado de reintegração de posse, sem cumprimento. Trecho da decisão expedida pelo juiz Pedro Flavio de Britto Costa

Decisão deve valer até quando a aposentada se mudar para a nova casa. Dona Maria deve se mudar para um conjunto habitacional no CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo). A expectativa é que as chaves sejam entregues entre setembro ou outubro. A aposentada visitou a obra pela primeira vez nesta sexta-feira (2). A ação foi intermediada pelo prefeito de Paraibuna, Victor Miranda (PSDB).

Nós já esgotamos todas as forças que tínhamos: problema emocional aí acontecendo, minha mãe adoecendo, minha sobrinha já não dormia mais. Estava complicado demais. A gente quer certeza, não aguenta mais dúvidas. É desgaste demais, é tempo perdido para não conseguir brigar com uma firma, uma empresa poderosíssima, né?! Margarete Gaspar, filha de dona Maria Benedicta

Briga com a Cesp na Justiça se arrasta

A ação por reintegração de posse é movida pela Cesp (Companhia Energética do Estado de São Paulo). Maria Benedicta comprou o terreno em 1989 e, na época, pagou o valor de 400,00 cruzados novos por 26.847 m², o que equivale a pouco mais de 1 alqueire (24.200 m²) de terra a uma pessoa que já morreu. Ela tem recibo de compra e venda. A área que comprou, no entanto, já havia sido desapropriada nos anos 1970 e pertencia à Eletrobras —em 1991, passou a ser da Cesp. Ou seja, Maria teria sido vítima de um golpe. A terra está localizada perto da Usina Hidrelétrica Paraibuna.

Operadora da usina entrou na Justiça para reintegração de posse. A Cesp moveu o processo judicial contra a aposentada em 2014. No ano seguinte, a Justiça determinou a perícia, que comprovou que a casa estava dentro da área correspondente à empresa. A sentença reconheceu que houve uma invasão. Em 2017, foram expedidos os primeiros mandados de reintegração. No início de julho, um oficial de Justiça foi até o local e deu o prazo de 20 dias para a saída de Maria Benedicta. Não cabe mais recurso.

Cesp diz que não foi informada oficialmente sobre a suspensão da reintegração de posse, mas declarou que vai cumprir a decisão da Justiça. "A condução do cumprimento da decisão judicial referente à reintegração de posse, inclusive os seus respectivos prazos, fica a cargo da Justiça, cabendo à Cesp prover os meios para tal cumprimento. Ademais, a Cesp informa não ter sido oficialmente intimada de qualquer decisão que altere a decisão judicial que lhe garante o direito à reintegração de posse da referida área", diz a concessionária, em nota enviada ao UOL.

Continua após a publicidade

Onde e como vive dona Maria Benedicta

Casa onde vive dona Maria Benedicta, no Morro dos Macacos, em Paraibuna (SP)
Casa onde vive dona Maria Benedicta, no Morro dos Macacos, em Paraibuna (SP) Imagem: Imagem/Arquivo Pessoal

Aposentada ganha um salário mínimo por mês. A idosa —que irá completar 91 anos em setembro— sempre trabalhou na zona rural. Foi casada duas vezes. Ficou viúva em 2010. É mãe de 11 filhos (sete vivos), netos e bisnetos.

Casa fica no Morro dos Macacos e é feita de pau a pique. Possui dois quartos, sala, cozinha e banheiro. É de barro, não tem piso nem azulejo.

Dona Maria Benedicta vive hoje sozinha. Porém, ela conta sempre com o revezamento de filhos para acompanhá-la na casa. Tem alguns problemas de saúde, como diabetes e pressão alta.

A cada ronco de carro, ela entrava em pânico, não estava dormindo. Isso não é vida. A mãe agora está um pouco mais segura, mais calma com essa situação [após a decisão da Justiça], porque, enquanto não fica pronto [o conjunto habitacional], ela continua na casinha dela e ninguém tira ela de lá. Margarete, filha da idosa

Deixe seu comentário

Só para assinantes