Ginasta pareceu 'orar em línguas': o que é a prática e quem consegue fazer?
A ginasta brasileira Victória Borges, 22, emocionou o mundo ao se apresentar na Arena La Chapelle mesmo após sofrer uma lesão na panturrilha. Além da garra da atleta um vídeo que circula nas redes sociais também tem causado curiosidade sobre o fato de Victória estar ou não orando em línguas.
Dentro do contexto evangélico pentecostal, a oração em línguas é vista como uma manifestação do Espírito Santo, onde os fiéis oram em uma língua desconhecida, geralmente classificada como "a língua dos anjos".
Esse fenômeno é entendido como uma forma de comunicação direta com Deus, permitindo que o Espírito Santo interceda em favor do orador com "gemidos inexprimíveis" (Romanos 8.26).
Os pentecostais defendem essa prática como um dom espiritual, mencionado em Atos dos Apóstolos, Ela serve, segundo a religião, tanto para edificação pessoal quanto para o fortalecimento da fé da comunidade quando acompanhado de interpretação. Nesse entendimento, Deus teria distribuído para algumas pessoas o dom de traduzir o que a pessoa estaria orando.
Por outro lado, a prática é contestada por muitas denominações cristãs tradicionais, como os reformados. Eles argumentam que o dom de línguas foi específico para a era apostólica e não se aplica aos dias de hoje. Eles também criticam o uso contemporâneo da prática por não seguir a ordem bíblica de ser sempre acompanhado por interpretação em um contexto congregacional, conforme instruído em 1 Coríntios 14.
'Intimidade e comunhão'
O pastor pentecostal Nilson Gomes disse à reportagem que a atleta aparentava estar orando em línguas no vídeo em questão, porém, é algo que não é possível ter certeza e apenas a atleta poderia confirmar. Segundo ele, essa prática ocorre quando um fiel, em profunda oração, transcende as palavras comuns e passa a se expressar em "línguas espirituais". Gomes explica que essa experiência é vista como um sinal visível do batismo no Espírito Santo.
Nós pentecostais cremos que as línguas são sinais que evidenciam o batismo no Espírito Santo, é um sinal visível. Toda pessoa que passou por essa experiência do sinal visível de falar em línguas, em algum momento de suas orações, no exercício de sua espiritualidade, em profunda comunhão, intimidade com Deus ela vai falar em línguas.
Nilson Gomes
O pastor enfatiza que a oração em línguas não é algo que pode ser feito a qualquer momento, de forma arbitrária. "Eu não vou falar em línguas a qualquer momento, a qualquer hora, simplesmente para impressionar," afirma.
Para ele, a prática é resultado de uma profunda intimidade e comunhão com Deus, não devendo ser usada para impressionar os outros ou demonstrar uma espiritualidade superior.
Nilson Gomes também ressalta que essa prática é uma forma de extravasar a espiritualidade e as emoções durante a oração. Ele destaca que, quando alguém está "cheio do Espírito Santo", em um estado de devoção intensa, a pessoa pode acabar se expressando em línguas. O pastor concluiu reafirmando a importância dessa prática no contexto pentecostal como um reflexo da comunhão e intimidade com Deus.
Victória, que no seu Instagram se apresenta como "Serva de Cristo", foi procurada pela reportagem, mas até o momento não retornou o contato.
77 comentários
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Jorge Puga de Abreu Lima
Eu vejo o país caminhando para um abismo onde a religiosidade e a fé, que deveriam ser questão de foro íntimo, estão se consolidarão como um instrumento de poder político quase incontrolável. E esse poder parece estar nos levando para um modelo de sociedade que a História já demonstrou ser um péssimo modelo, de muita opressão e atraso. Se deus realmente existe, que ele manifeste sua graça iluminando a mente dos incautos e impedindo que isso aconteça.
Manoel Eloildo Felix da Silva
Fiquei em choque ao ver a cena! A que ponto de insanidade chegamos!! E rumamos cada vez mais ao Evangelistão! Que desgraça!!!
Herbert Luiz Braga Ferreira
Eu prefiro o deus do Espinosa, cuja filosofia é mais do que nunca necessária nesse tempos em que a religião avança para o espaço público e ameaça tudo invadir, tentando destruir o que a modernidade nos legou: separação estrita entre Estado e Igreja e a crença religiosa sendo reservada ao estrito domínio da esfera privada e pessoal. É isso