PCC ou 'condições climáticas adversas'? O que se sabe dos incêndios em SP
Do UOL, em São Paulo
27/08/2024 13h25
Os incêndios que acometeram São Paulo neste fim de semana deixaram quase 50 cidades em alerta máximo. Pelo menos duas pessoas morreram em uma usina em Urupês, região metropolitana de São José do Rio Preto, enquanto atuavam no combate às chamas do incêndio. As causas do incêndio ainda não foram confirmadas, mas há suspeita de que ação seja criminosa e que condições climáticas tenham ajudado a espalhar o fogo, que causou imagens impressionantes.
O que se sabe?
Só na sexta passada (23) São Paulo registrou 1.800 focos de incêndio. O número é recorde desde o início das medições em 1998, segundo dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia.
Polícia investiga se incêndios foram criminosos. Quatro pessoas foram presas em flagrante nas cidades de Rio Preto (SP), Batatais (SP), Porto Ferreira (SP) e em Goiás. "Eles portavam gasolina e estavam realmente ateando fogo de forma criminosa. É difícil saber se houve uma ação coordenada, não nos parece que haja", afirmou Tarcísio. O UOL entrou em contato com a SSP-SP para saber se há indícios que o fogo tenha sido orquestrado por organização criminosa e aguarda retorno.
Um dos suspeitos afirmou que tem ligação com o PCC, mas MPSP descarta alegação. O homem que foi preso em Batatais (SP), Alessandro Arantes, 41,disse ter cumprido ordem do PCC e se vangloriou do ato, segundo boletim de ocorrência obtido pelo UOL. Lincoln Gakiya, promotor do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado de Presidente Prudente, do MPSP, disse não acreditar na versão.
Não há, segundo minha análise, nenhuma hipótese desse incêndio criminoso ter sido ordenado pelo PCC, além de não haver nenhum indício [salvo a declaração do criminoso preso]. Não faz nenhum sentido a facção praticar algo que prejudicaria a própria população e inclusive alguns presídios, como o de Lucélia, por exemplo, que quase teve que ser evacuado por conta da fumaça das queimadas. Demais disso, não há nos arquivos da PMSP, da PCSP, do MPSP e da SAP, qualquer informação de que o indivíduo preso em que pese ter passagens pelo sistema prisional, ser integrante do PCC.
Lincoln Gakiya em nota enviada ao UOL
99,9% causados por ação humana
A ministra do Meio Ambiente afirmou que os focos "não são naturais em hipótese alguma". Marina Silva classificou a situação como "atípica".
Em São Paulo, não é natural em hipótese alguma que, em poucos dias, você tenha tantas frentes de incêndio envolvendo concomitantemente em vários municípios, mas obviamente que são as investigações que vão dizer.
Marina Silva, ministra do Meio Ambiente
A Defesa Civil afirmou que 99,9% dos incêndios são causados por ação humana. O secretário nacional de Proteção e Defesa Civil, Wolnei Wolff, disse que imagens de satélite serão utilizadas para identificar a origem dos incêndios. "Quando a Polícia Federal acha que há alguma coisa de provocação humana, esse inquérito é aberto e o processo corre", explicou.
Causas naturais, no entanto, podem contribuir para que fogo se espalhe. Wolff citou que a ausência de chuvas e ventos que chegaram a 70 km/h podem ter sido alguns dos motivos que fizeram com que as queimadas fossem ainda maiores.
Para o climatologista Carlos Nobre, condições climáticas podem apoiar magnitude do fogo, mas não são a causa. O colunista e Ecoa afirmou no UOL News que em agosto do ano passado houve menos incêndios, ainda que existissem condições climáticas semelhantes.
Agosto do ano passado teve sete vezes menos focos em incêndio e também estava com ventos fortes. Então, não tem nenhuma explicação natural. Lógico que na hora que alguém vai lá e bota fogo, o vento forte espalha, e os redemoinhos geram incêndios, faíscas, mas não tinha nenhum incêndio natural. Não teve nenhuma descarga elétrica que tivesse causado, então não há a menor dúvida que grande parte ali foi criminoso mesmo.
Carlos Nobre ao UOL News
As queimadas podem ser uma forma mais rápida de desmatar a região. Segundo Nobre, esse também é um método que gera mais dificuldade de investigação por parte dos órgãos responsáveis.
O criminoso que tá botando fogo lá, ele bota em minutos e sai dali em meia hora.
Carlos Nobre ao UOL News
Especialistas concordam em tese de que condições climáticas podem ter ajudado a espalhar fogo, mas origem é criminosa. O físico Paulo Artaxo, integrante do IPCC (Painel Internacional para Mudanças Climáticas) da ONU acredita que um grande número de incêndios pode ter sido criminoso, mas se espalhou rapidamente devido às condições climáticas.
A maior parte dos incêndios [em São Paulo] começou na sexta-feira, às 12h30. Não existe fenômeno natural com hora marcada para começar. Há forte indício de que os incêndios foram provocados.
Paulo Artaxo, físico do IPCC
O diretor de Controle do Desmatamento e Queimadas do Ministério do Meio Ambiente classificou os incêndios em SP como "situação anômala". "O que causa estranheza é o aumento repentino [de focos] em áreas relativamente distantes umas das outras", disse Raoni Rajão, ao citar que alguns municípios atingidos chegam a estar a dezenas ou mesmo centenas de quilômetros distantes uns dos outros.
Prejuízos podem superar R$ 1 bilhão
Em entrevista à GloboNews, Tarcísio afirmou que as ações geradas de forma criminosa e também pelo tempo seco no estado afetam plantações e também residências.
Difícil estimar os prejuízos, mas diria que vão passar a casa de R$ 1 bilhão seguramente. O que aconteceu tem um efeito devastador [no agronegócio], muito triste e nós vamos apoiar o agronegócio. Vamos avaliar os prejuízos juntos aos produtores e sindicatos rurais e entrar estendendo a mão porque a gente sabe o quanto o agronegócio é fundamental para o estado de São Paulo.
Governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) à GloboNews
O governador de São Paulo, no entanto, descarta que incêndios seja fruto de ação coordenada. Tarcísio de Freitas afirmou que o Estado "não vai tolerar" delitos desse tipo, ao citar o caso do detido em Batatais, que disse estar ligado ao PCC. O político, por sua vez, desacredita da afirmação do suspeito e disse não ver indícios de ação coordenada.
Não me parece [uma ação coordenada]. Tem estiagem muito pesada, lavouras que estavam secas, calor extremo, baixa umidade relativa do ar e muito vento. Qualquer coisa pode provocar uma ignição.
Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP)
Polícia Federal abriu mais de 30 investigações para apurar focos de incêndio no país. Os inquéritos visam apurar os incêndios entre a Amazônia e o Pantanal, e pelo menos dois investigam as queimadas no estado de São Paulo.
PF também mobilizou 15 delegacias no interior de SP para investigar as queimadas. "É movimento atípico, de fato, mas as conclusões só podem ser trazidas a público com a conclusão dos inquéritos", disse o delegado Andrei Rodrigues, diretor-geral da PF.
*Com informações da Agência Estado e Agência Brasil