Morte de ameaçado pelo PCC: MP quer reabrir caso contra segurança de Marçal
O MP pediu a reabertura do inquérito que apura possível assassinato seguido de confronto forjado em operação chefiada por segurança de Pablo Marçal (PRTB).
O que aconteceu
O exame de pólvora nas mãos do piloto morto na operação, Felipe Ramos Morais, deu negativo. Comandante da ação, o tenente-coronel Edson Melo pediu licença da corporação para atuar como segurança do candidato a prefeito de São Paulo. Documento obtido pelo UOL foi elaborado pelo Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal, vinculado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, a pedido da SSP-GO (Secretaria de Segurança Pública de Goiás) e foi encaminhado ao MP goiano, que pediu a reabertura do caso.
Morais teria sido ameaçado pelo PCC antes de ser morto em ação da PM de Goiás. A equipe chefiada por segurança de Marçal disse, à época, que atirou após disparos do piloto e de outros dois mortos na ação. Contudo, laudos anteriores do MP de maio de 2023 indicavam alteração de cena de crime em ação ocorrida em fevereiro do ano passado em um sítio na capital Goiânia, contestando versão de legítima defesa da equipe do tenente-coronel Edson Melo, o Edson Raiado.
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Os estojos das munições das armas dos PMs foram removidos do local. As armas supostamente usadas pelos três mortos foram encontradas em uma caminhonete, retiradas da cena do crime. Mas os policiais não souberam explicar em depoimento como as armas foram colocadas no veículo. Apesar de reconhecer irregularidades, a Promotoria arquivou o caso à época alegando falta de provas.
Os corpos foram retirados da cena do crime por socorristas, segundo a PM. Mas os laudos cadavéricos indicam que eles já estariam mortos após a ação policial e não precisariam de atendimento médico. Com os corpos no local do crime, a perícia pôde fazer um trabalho mais preciso.
Procurados pelo UOL, a equipe de Pablo Marçal e o tenente-coronel Edson Raiado disseram que não iriam se manifestar. A SSP-GO pediu que a demanda fosse encaminhada à Polícia Civil goiana, que não se posicionou. A PM de Goiás também não respondeu aos questionamentos da reportagem.
Candidato a deputado em GO
Em junho, Marçal disse ter contratado o tenente-coronel Raiado como segurança por estar sofrendo ameaças. Horas antes, ele havia registrado ocorrência por ameaças de morte motivadas, segundo ele, pela sua intenção de disputar as eleições. À época, a assessoria dele negou que ele estivesse atuando como segurança e se referiu à presença do oficial ao lado de Marçal como "ajuda de um amigo".
Na ocasião, a PM de Goiás disse que Raiado estava de licença especial regulamentar. Institucionalmente, a PM proíbe "bicos" como segurança para agentes da ativa.
Segurança de Marçal tentou se eleger deputado nas eleições de 2022 em Goiás citando participação em buscas de serial killer. Influencer no Instagram, onde tem 328 mil seguidores, Raiado escreveu um livro sobre a operação do Caso Lázaro Barbosa, morto em junho de 2021 em Águas Lindas de Goiás (GO).
Outra suspeita de confronto forjado
A morte do piloto jurado pelo PCC não foi o primeiro caso de suspeita de confronto forjado envolvendo Raiado. O oficial chefiava agentes da tropa investigada por suposta armação após o vazamento de um vídeo que registrou o assassinato de dois homens no dia 1º de abril em Goiânia. As imagens foram gravadas pelo celular de uma das vítimas sem que os PMs percebessem.
A Polícia Civil apura se o vídeo mostra PMs simulando armação. Um deles retira a arma de um saco plástico. O outro agente atira, simulando disparar na direção onde estava o PM no momento da abordagem. Junio José Aquino Leite, um dos mortos na ação, era informante da própria PM. Ele havia delatado policiais por extorsão quando foi preso em 2020, segundo as investigações.
Seis PMs foram indiciados. Eles respondem por duplo homicídio qualificado por dissimulação e por recurso que impossibilitou a defesa das vítimas.
Quem era piloto jurado de morte
Felipe Ramos Morais levou de helicóptero dois líderes do PCC para uma emboscada na região metropolitana de Fortaleza (CE) em 2018. Rogério Jeremias Simone, o Gegê do Mangue, e Fabiano Alves de Souza, o Paca, foram mortos pela própria facção.
Após os assassinatos, o piloto foi preso por suspeita de envolvimento no crime. Em abril de 2021, Felipe foi solto da penitenciária federal de Campo Grande (MS) por determinação da Justiça cearense. O piloto sempre negou o envolvimento com a organização criminosa.
Após fazer acordo de delação premiada contra a cúpula do PCC, ele foi jurado de morte pela facção. Com base nas delações dele, a Polícia Federal bloqueou ao menos R$ 1 bilhão em bens e contas bancárias ligadas à organização criminosa.
Os outros dois mortos na ação da PM não tinham antecedentes criminais, segundo a polícia. "As vítimas (...) são absolutamente insuspeitas, não possuindo, em sistemas oficiais de Segurança Pública, qualquer informação que desabone ambos", cita o inquérito policial ao citar Nathan Moreira Cavalcante, funcionário da empresa de voo panorâmico, e o mecânico de aeronaves Paulo Ricardo Pereira Bueno.