'Degola do PCC': quem é o suspeito de planejar resgate de Marcola da prisão
O criminoso preso nesta quarta-feira em Sorocaba (SP) por suspeita de integrar o núcleo formado no PCC para resgatar Marcola da cadeia cresceu na hierarquia da facção criminosa pela violência e disposição em enfrentamentos contra policiais, indicam fontes ligadas às forças de segurança ouvidas pelo UOL.
Quem é o 'Degola do PCC'
Criminoso assumiu "missões" determinadas pela cúpula para subir na hierarquia do PCC, indicam as investigações. Respeitado na facção também pela capacidade intelectual, Ivan Garcia Arruda, 46, conhecido como Degola, começou a recrutar pessoas para colocar em prática o plano de resgate de líderes presos. Entre eles, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, que está no presídio federal de Brasília.
Método para cometer assassinatos com decapitações em motins em presídios deu origem ao apelido. Segundo as investigações, Degola foi um dos líderes de rebeliões nas penitenciárias paulistas de Avaré e Martinópolis, onde assassinado desafetos.
Relacionadas
Segundo o MP, existem indícios de que ele também teria tido participação no assassinato de um traficante que deixou o PCC para atuar em uma facção rival. Nilson Paulo Alcântara dos Reis, o Faísca, que integrava o TCC (Terceiro Comando da Capital), foi assassinado em dezembro de 2019.
Suspeito de participação em outros dois assassinatos em 2023. Segundo investigações, foi um dos envolvidos no "tribunal do PCC" que decretou a morte de Wilton Ramone Fialho, o Gigante, que mantinha relação com policiais civis de Sorocaba (SP). O criminoso também tem anotações por crimes como sequestro mediante cárcere privado, roubo, tráfico de drogas e organização criminosa.
[Degola participava de] ações ousadas promovidas pela organização criminosa, tais como ajustes de conta, julgamentos no "tribunal do crime", resgates de detentos e atentados contra as forças de segurança.
Ele também teria sido responsável por planejar e executar atentados contra agentes públicos, o que demonstra não só sua ascendência no grupo criminoso, já que lhe são oferecidas missões consideradas extremamente sensíveis, como denota sua periculosidade.
Trechos de documento extraído do mandado de busca e apreensão do MP
PCC pretendia usar tática aos moldes de ações de "novo cangaço" ou "domínio de cidades" para resgatar Marcola. A tática com uso de criminosos armados com explosivos e armas de grosso calibre é a mesma que já havia sido revelada em reportagem do UOL de 2022, com base em informações de investigações da PF e do Depen (Departamento Penitenciário Nacional) e em outro plano de resgate de 2018, quando o líder da facção ainda estava na Penitenciária II de Presidente Venceslau (SP).
Criminoso integrava mesmo núcleo de preso em maio deste ano em São Paulo com mais de R$ 100 mil em dinheiro. Com Marcelo Adelino de Moura, o China, a PM também apreendeu uma metralhadora usada pela polícia argentina, um fuzil e munição de calibre .50, arma com capacidade para abater um helicóptero, coletes balísticos e capacetes à prova de balas.
O UOL não conseguiu localizar a defesa de Ivan Garcia Arruda. O espaço segue aberto para manifestação.
Reunião com cúpula do PCC na Bolívia
Ele chegou a se encontrar com líderes do PCC escondidos na Bolívia, segundo as forças de segurança. Ele também viajava para outros estados no Brasil onde a facção atua, ainda de acordo com fontes ouvidas pelo UOL. De acordo com o Ministério Público de São Paulo, o plano de resgate de Marcola intensificou a disputa por poder na cúpula da organização criminosa.
Homem de confiança de Marcola conduziu reunião com Degola na Bolívia em novembro de 2023. Segundo agências de segurança pública do Brasil e de países vizinhos, o encontro foi conduzido por Pedro Luiz da Silva Moraes, o Chacal, que havia saído de uma penitenciária federal brasileira no mês anterior.
Escolhidos para plano de resgate de Marcola seriam treinados por mercenários na Bolívia. Segundo Josmar Jozino, colunista do UOL, treinamentos envolveriam o uso de armas automáticas e táticas militares avançadas.
A ação de Degola seria monitorada por Sérgio Luiz de Freitas Filho, o Mijão, líder do PCC foragido. Procurado pela polícia paulista, ele estaria refugiado na Bolívia, para onde Degola teria ido recentemente segundo o Gaeco (Grupo de Atuação especial e de Combate ao crime Organizado), subordinado ao MP-SP.
Chips habilitados em outros países com criptografia por app. Os agentes apuraram ainda que a comunicação era feita por telefones celulares de última geração.
Degola também teria sido designado para assassinar o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, que conduz investigações contra o PCC. Detalhes do plano, como tentativa de aquisição de imóveis e compra de armas de grosso calibre, foram atribuídos ao investigado para cometer o crime, ainda de acordo com a investigação.