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Josmar Jozino

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Reportagem

PCC: Bando que resgataria Marcola seria treinado por mercenários na Bolívia

O serviço de inteligência da Polícia Militar apurou que o PCC (Primeiro Comando da Capital) recrutou criminosos para cumprir uma missão específica: resgatar Marco Willians Herbas Camacho, 56, o Marcola, líder da facção, preso na Penitenciária Federal de Brasília.

O bando integrava a célula chamada Restrita Tática e era liderado por Ivan Garcia de Arruda, 46, o Degola, preso ontem em Sorocaba (SP), por policiais militares da Rota (Rondas Ostensivas Togibas de Aguiar), durante operação que leva o nome do apelido do criminoso.

O MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo) e a Polícia Militar intensificaram as investigações contra o bando no final de 2023 e colheram vasto material com informações sobre a célula Restrita Tática, encarregada de resgatar líderes do PCC e promover atentados contra agentes públicos.

As investigações apontaram que Degola foi designado pela cúpula da facção para recrutar criminosos e colocar a ação de resgate em prática. Os escolhidos seriam encaminhados à Bolívia, onde passariam por treinamento especializado, ministrado por mercenários estrangeiros.

Os treinamentos envolveriam o uso de armas automáticas e táticas militares avançadas, e as ações ocorreriam nos mesmos moldes dos ataques a bancos protagonizados por quadrilhas do novo cangaço e domínios de cidades, que usam dinamites e sitiam postos policiais civis e militares.

As investigações apontaram que o líder da Restrita Tática é Sérgio Luiz de Freitas Filho, o Mijão, líder do PCC foragido, procurado pela polícia paulista e possivelmente refugiado na Bolívia, segundo o Gaeco (Grupo de Atuação Especial e de Combate ao Crime Organizado) subordinado ao MP-SP.

Os agentes apuraram ainda que a comunicação entre o bando era feita por telefones celulares de última geração com chips habilitados em outros países e utilizando criptografias por aplicativos.

Segundo o Gaeco e a PM, outros integrantes do bando foram identificados como André Vinícius Nunes de Souza, o Confusão, e Carlos Alves Bezerra, o Carlão. O primeiro foi preso ontem na Operação Degola, no Aeroporto de Viracopos, em Campinas.

Preso no aeroporto

Confusão estaria vindo de Corumbá, no Mato Grosso do Sul, após retornar de uma viagem da Bolívia, onde se reunira com outros integrantes da Restrita Tática, como Degola e Erick Machado dos Santos, o Nego Rick, também do alto escalão do PCC e procurado até pela Interpol (Polícia Internacional).

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Nego Rick foi denunciado como um dos envolvidos nos assassinatos de Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, e Fabiano Alves de Souza, o Paca, mortos a tiros em fevereiro de 2018 em Aquiraz, na região metropolitana de Fortaleza (CE).

Confusão foi transferido para a Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, onde estão recolhidos presos do segundo e terceiro escalões do PCC, inclusive os principais assaltantes de bancos ligados ao Novo Cangaço.

Degola já tinha cumprido pena nessa mesma prisão e também já passou pela Penitenciária 1 de Avaré, outro forte reduto do PCC. Ele é acusado de ter matado vários desafetos na cadeia, incluindo Nilson Paulo Alcântara dos Reis, o Faíscas, em 2009, ex-PCC e integrante de outra facção rival.

O MP-SP apurou também que Degola tinha planos para cometer atentados e ataques a prédios públicos em São Paulo e que um dos alvos dele era o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, do Gaeco de Presidente Prudente. O bando teria inclusive adquirido imóveis e armas de grosso calibre.

O Gaeco e a PM descobriram também que a Restrita Tática foi criada após o racha entre Marcola e os ex-líderes do PCC Roberto Soriano, o Tiriça, Abel Pacheco de Andrade, o Vida Loka, e Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho.

O estopim da briga seria um áudio vazado da conversa de Marcola com um agente da Penitenciária Federal de Porto Velho (RO), no qual o chefão do PCC chamou Soriano de psicopata. A gravação foi usada no júri que condenou Tiriça a 31 anos pela morte de uma psicóloga da Penitenciária Federal de Catanduvas (PR).

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A reportagem não conseguiu contato com os advogados de Degola, Confusão, Sérgio Mijão e Neguinho Rick. O espaço segue aberto para manifestações.

Reportagem

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