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Como o PCC queria usar tática do 'novo cangaço' para resgatar Marcola

Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, apontado como líder do PCC, é levado para helicóptero após ser atendido em hospital em Brasília - 21.jan.2020 - Sérgio Lima/AFP
Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, apontado como líder do PCC, é levado para helicóptero após ser atendido em hospital em Brasília Imagem: 21.jan.2020 - Sérgio Lima/AFP

Do UOL, em São Paulo

16/08/2022 04h00

O PCC (Primeiro Comando da Capital) planejava usar uma tática aos moldes do chamado "novo cangaço" —com criminosos armados com fuzis e explosivos— para resgatar Marco Willians Herba Camacho, o Marcola, quando ele ainda estava no presídio federal de Brasília, indicam investigações da Polícia Federal e do Depen (Departamento Penitenciário Nacional).

Apontado pelas autoridades como o líder da facção criminosa que domina o tráfico de drogas em São Paulo, Marcola foi transferido da unidade para o presídio federal de Porto Velho (RO) em março deste ano, frustrando os planos da organização criminosa.

Como seria o resgate planejado pelo PCC? A tática que seria empregada para resgatar Marcola do presídio é chamada por especialistas de "domínio de cidades", crime tipicamente brasileiro que representa um avanço em relação ao "novo cangaço" por serem ações mais perigosas e planejadas.

Esses ataques costumam contar com a participação de ao menos 30 criminosos com armas de grosso calibre, explosivos, veículos blindados e até drones.

A tática empregada inclui o enfrentamento às forças de segurança e explosão de veículos para cercar as vias de acesso ao local, impedindo a chegada de reforço policial.

Detentos do Presídio Estadual de Piraquara fugiram após explosão muro - Depen-PR / Divulgação - Depen-PR / Divulgação
Detentos do Presídio Estadual de Piraquara fugiram após explosão muro
Imagem: Depen-PR / Divulgação

Essa tática já foi empregada anteriormente em resgate de presos? Sim.

  • Na madrugada de 15 de janeiro de 2017, 28 detentos escaparam da Penitenciária Estadual de Piraquara (PR) após uma explosão abrir um buraco no muro da unidade. Dois deles morreram em confronto com a polícia e outros quatro foram recapturados.
  • Na madrugada de 10 de setembro de 2018, 92 presos fugiram da Penitenciária de Segurança Máxima Romeu Gonçalves Abrantes em João Pessoa (PB). A ação começou quando 20 homens desceram de quatro veículos e abriram fogo com disparos de fuzil em direção à unidade prisional. Em seguida, se aproximaram e colocaram explosivos nos portões para resgatar os internos com o auxílio e alicates para abrir as celas. Um policial militar morreu ao ser baleado após a fuga.
  • Na madrugada de 9 de julho de 2020, 27 internos da Penitenciária Doutor Ênio Pessoa Guerra, em Limoeiro (PE), deixaram a unidade após a explosão de um dos muros da unidade prisional.
Penitenciária de Segurança Máxima Doutor Romeu Gonçalves de Abrantes, em João Pessoa (PB) - Seap/Divulgação - Seap/Divulgação
Penitenciária de Segurança Máxima Doutor Romeu Gonçalves de Abrantes, em João Pessoa (PB)
Imagem: Seap/Divulgação

O PCC tinha planos alternativos para garantir o resgate de Marcola? As investigações da PF e do Depen indicam que sim. O PCC, inclusive, fez um levantamento de nomes de servidores públicos federais para sequestrá-los e usá-los como "moeda de troca" na libertação de Marcola, de acordo com as investigações. Uma outra alternativa seria organizar uma rebelião dentro do próprio presídio.

Como esses grupos especializados em grandes assaltos costumam agir? Os grupos se organizam em células independentes de especialistas em explosivos e de criminosos armados na contenção, disparando à distância com armas de grosso calibre. Há ainda os criminosos especializados no deslocamento, feito com veículos blindados.

"A única diferença [nesse tipo de ação em comparação com crimes para roubar instituições financeiras] é o alvo. Em vez de dinheiro, esses grupos miram a retirada de presos", compara o tenente-coronel Vinicius de Souza Almeida, comandante do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) de Mato Grosso do Sul e especialista no combate às ações de "novo cangaço" e "domínio de cidades".

A chance de resgate de Marcola do sistema prisional era concreta? "Há ações desse tipo que deram errado e outras que deram certo. Os criminosos planejam essas ações por meses ou até anos, e pensam nos mínimos detalhes. Inclusive, estudam qual o poder de fogo das forças de segurança, rotas de fuga e possíveis imprevistos. Mas não tem como saber o resultado de uma ação que não chegou a ocorrer", argumenta Souza.

Ela cita ainda que há planos de defesa elaborados pelas forças de segurança estaduais e dentro das unidades prisionais federais, que podem dificultar ações desse tipo.

Marcola foi condenado a quantos anos de prisão? Marcola já foi condenado a 342 anos de prisão. A última condenação aconteceu em março de 2022, quando ele recebeu uma pena de mais 12 anos de prisão pela acusação de associação à organização criminosa.

Há alguma ligação entre Marcola e os grandes assaltos? Especialistas apontam que sim. Segundo eles, a convivência de detentos do sistema prisional com Marcola originou a formação de novas quadrilhas especializadas em assaltos a banco nos últimos 20 anos.