MP-RS denuncia três pessoas pela morte de mulher após acidente com fondue
Do UOL, em São Paulo
25/09/2024 17h33Atualizada em 25/09/2024 19h07
O MP-RS denunciou três pessoas, nesta quarta-feira (25), pela morte da indígena Jaqueline Tedesco, 26, que sofreu um acidente com fondue em um restaurante na cidade gaúcha de Rio Grande, em março. Ela comemorava a formatura em direito com familiares e amigos, quando uma explosão aconteceu.
O que aconteceu
Foram denunciados os donos do Le Petit, um homem de 38 e uma mulher de 36 anos, além de uma funcionária do estabelecimento, 19. Eles foram acusados de homicídio culposo, sem intenção de matar, além de duas lesões corporais de familiares da vítima.
O MP-RS entendeu que houve negligência dos donos do restaurante. Segundo o órgão, eles ignoraram regras de segurança imprescindíveis para o manuseio de fontes de calor, como autorizar a funcionária a mexer com fogo sem supervisão e sem receber treinamento adequado, além da utilização de produto químico, já que ela tentou acender a chapa do fondue com álcool em gel.
Para o promotor de Justiça Fernando Gonzalez Tavares, responsável pelo caso, a funcionária foi imprudente. Na avaliação do MP-RS, ela despejou o álcool de forma inconsequente, diretamente em um rechaud (utensílio metálico usado para manter alimentos aquecidos), sem verificar que havia resquício de fogo no equipamento. Segundo a denúncia, a funcionária também não usou um abafador para controle de chamas, ignorando recomendações técnicas e sem ter cuidados básicos no atendimento a pessoas.
O MP-RS também pediu a suspensão das atividades do restaurante. "Jaqueline era uma jovem indígena, pertencente, portanto, a um grupo vulnerável que, na ocasião, estava comemorando a sua formatura no curso de Direito. Tanto o recebimento da denúncia, quanto o requerimento da medida cautelar de fechamento do estabelecimento estão agora aguardando a análise do Poder Judiciário", ressaltou o promotor.
Procurada pelo UOL, a defesa do Le Petit disse que ainda não teve acesso à denúncia. "No entanto, considerando a dinâmica dos fatos e o acompanhamento que fazemos desde o princípio da investigação, temos convicção de que nossos constituintes devem ser absolvidos ao final de eventual processo, pois não há nenhuma ação ou omissão que justifique sua responsabilização penal", afirmou o advogado Affonso Celso.
Ele alegou que "todo o treinamento preventivo" foi realizado pelo restaurante. "E as orientações de segurança eram de conhecimento dos colaboradores, de modo que é implausível imputar aos proprietários forma qualquer de negligência".
O UOL não conseguiu localizar a defesa da funcionária. O espaço segue aberto para manifestação.
Acidente com fondue
A indígena Jaqueline Tedesco morreu no dia 15 de março após sofrer o acidente com fondue no dia 9 e ter 30% do corpo queimado. Jaqueline sofreu graves queimaduras no queixo, braços, seios e mãos, segundo o jornal Folha de S.Paulo.
Jaqueline era a quarta indígena a se formar em direito pela Furg (Universidade Federal de Rio Grande). Ela foi a primeira mulher indígena a ocupar a coordenação-geral do DCE (Diretório Central de Estudantes) da universidade.
Ela também integrava a Upei (União Plurinacional dos Estudantes Indígenas), que luta por acesso e permanência de indígenas em universidades.
Testemunha do acidente, a estudante de direito da Furg Mara Rodrigues, 24, também indígena da etnia kaingang, disse que a noite que deveria ser de comemoração virou um pesadelo. Amiga da vítima, ela afirmou que o restaurante não prestou assistência a Jaqueline, nem para uma garçonete que também ficou ferida.
Segundo Mara, ambas foram levadas ao hospital pelos clientes. "A garçonete estava pressionando a garrafa de álcool em gel e, quando foi acender a chapa do fondue, explodiu", contou ao jornal. "Foi em questão de segundos. Quando virei o rosto, vi minha amiga [Jaqueline] em chamas, desesperada. O fogo também atingiu a mãe dela e incendiou mesa", acrescentou.
Na época, o Le Petit divulgou uma nota expressando pesar. A defesa do restaurante disse que o estabelecimento prestava solidariedade aos familiares e apoiava com o custeio do funeral, conforme a escolha da família.