Duas em cada três cidades brasileiras ficaram ao menos um mês sem chuvas
Um levantamento do UOL com base em dados do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) apontou que 64,7% das cidades brasileiras não registraram chuvas por pelo menos um mês. A pesquisa considera os dados atualizados até o último domingo (22).
O que aconteceu
Entre os 5.572 municípios analisados, 3.606 não registraram chuvas por 30 dias ou mais. Os números foram coletados pelo Cemadem com dados estimados por satélite e, por isso, "pode haver alguma pequena diferença da mesma informação extraída de uma estação meteorológica", segundo o órgão.
Nove municípios atingiram a marca de 166 dias sem chuvas, ou seja, cinco meses e meio. As cidades mineiras de Catuti, Nova Porteirinha, Pai Pedro, Verdelândia, São João da Ponte, Janaúba, Ibiracatu, Porteirinha e Itacarambi são as recordistas de dias sem precipitações. Os municípios são vizinhos e ficam no norte de Minas Gerais, a cerca de 600 km de Belo Horizonte.
Minas Gerais e Goiás são os estados com maior número de cidades afetadas nos últimos cinco meses. Entre as 354 cidades que passaram mais de 150 dias sem chuvas, 44% são mineiras e 42% são goianas. As demais estão localizadas Bahia (6,4%), Mato Grosso (3,6), Tocantins (1,6%), São Paulo (1,1%), além de Brasília.
Nove em cada dez cidades paulistas enfrentaram a seca por pelo menos um mês. Pedregulho, Miguelópolis, Mesópolis e Aramina ficam no norte de São Paulo, próximos à divisa com Minas Gerais, e tiveram mais de 150 dias sem precipitações. Já em relação à capital e região metropolitana, o levantamento aponta que a seca durou entre 32 e 42 dias.
Seca histórica
Profissionais do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) já percebiam que a seca seria grave neste ano. No início do mês, divulgaram uma nota confirmando a gravidade do problema a partir de uma série de informações colhidas a partir de 1950. "Olhando dados diferentes nós chegamos à mesma conclusão: é a seca mais extensiva, a mais intensiva e a mais duradoura", explicou a pesquisadora e especialista em secas do Cemaden, Ana Paula Cunha.
A falta de chuvas explica, em parte, outro fenômeno que assola o Brasil: os incêndios. Dados do Lasa (Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro) também mostram recordes na série de medições, que teve início em 2012. Neste ano, cerca de 21,7 milhões de hectares foram queimados na Amazônia, no Cerrado e no Pantanal - uma área maior que o estado do Paraná. "Estamos em um momento emergencial. Temos que cuidar da saúde, principalmente dos mais vulneráveis, e não piorar a situação. Então, de forma nenhuma fazer nenhum tipo de fogo", orientou a professora do Departamento de Ecologia da Universidade de Brasília (UnB) Isabel Belloni Schmidt.
A seca atinge cerca de 59% do território brasileiro."Olhando para o gráfico há algumas secas em destaque, como a de 1997 e 1998, que afetou basicamente a região Norte e parte da região Nordeste e foi decorrente de um El Niño. Depois teve a seca de 2015 e 2016, que foi muito extensiva e afetou grande parte do Centro-Norte do país. Agora, na seca que teve início em 2023 e continua até hoje, é a primeira vez que vemos essa condição de Norte a Sudeste do país", avaliou a pesquisadora do Cemaden.
Outra forma de olhar para o fenômeno é por meio do Índice de Precipitação Padronizado de Evapotranspiração (SPEI, na sigla em inglês). O indicador é medido por dois aspectos: a quantidade de chuva que cai e a quantidade de água que se perde pela evaporação, como do solo e dos rios, e pela transpiração das plantas. "É um indicador de disponibilidade de umidade, de disponibilidade hídrica. Quanto mais negativo é o índice, menor é a precipitação e maior é a evapotranspiração. Ou seja, causa um balanço negativo de disponibilidade hídrica", explicou Cunha. Os dados da seca atual, mesmo que parciais, já apresentam valores de SPEI mais negativos, indicando ser a mais intensa e extensa da série histórica.
Com informações da agência Deutsche Welle
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.