Metade dos brasileiros ficou ao menos 39 dias sem chuva; seca continua
Um levantamento do UOL realizado com base em dados do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) apontou que 51,8% dos brasileiros ficaram ao menos 39 dias sem chuva neste ano. A reportagem cruzou os dados da seca coletados até o último domingo (22) com as informações populacionais do Censo 2021.
O que aconteceu
Mais de 110 milhões de pessoas passaram por uma seca de, ao menos, 39 dias. Moradores de 3.088 cidades não viram chuvas durante este período. O levantamento foi feito pelo Cemadem com dados estimados por satélite e, por isso, "pode haver alguma pequena diferença da mesma informação extraída de uma estação meteorológica", explicou o órgão.
Dez capitais enfrentaram a seca por este período. São Paulo, a capital mais populosa, marcou 39 dias sem chuva. Brasília passou 152 dias sem precipitação. Fortaleza (69 dias), Belo Horizonte (152) e Goiânia (147) vêm em seguida. São Luís (57), Teresina (84), Cuiabá (124), Porto Velho (75) e Palmas (114) completam a lista.
Centro-Oeste é a região mais afetada: 91% da população sofreu com a estiagem por 39 dias ou mais. No Mato Grosso, não choveu em nenhuma cidade por, pelo menos, 77 dias. As cidades goianas de Davinópolis (163 dias), Urutaí (160), Águas Lindas de Goiás (159) e Pires do Rio (159) são as recordistas de período sem chuva na região.
Nove cidades mineiras não viram chuvas por mais de 166 dias, e detêm o recorde nacional. Em São Paulo, Pedregulho é a cidade com maior período de seca, são 161 dias. No RJ, o município de Italva ficou 88 dias sem precipitação. Já no Espírito Santo, Governador Lindenberg é a cidade recordista, com 77 dias em chuva. No total, dois em cada três moradores do Sudeste enfrentaram a seca de ao menos 39 dias.
Não chove em nenhuma cidade do Piauí por um período 48 dias; e nove municípios piauienses chegaram a registrar mais 140 dias de seca. No Nordeste, os estados mais atingidos foram Ceará e Maranhão, nos quais 97% e 95% das populações ficaram sem chuva por ao menos 39 dias, respectivamente. Já o estado da Bahia possui o recorde nordestino de período de estiagem: são quatro municípios baianos com 164 dias de seca.
Região Sul foi a menos atingida, com cerca de 8% da população sofrendo com a seca de ao menos 39 dias. No Paraná, este número cresce para 22%. No Rio Grande do Sul, Uruguaiana e Barra do Quaraí foram as recordistas de seca, registrando 43 dias de estiagem. Já em Santa Catarina, o município com maior tempo de seca é Benedito Novo, com 28 dias.
Previsão para primavera
A primavera começou no último domingo (22) e pode ser afetada pelo La Niña, que deve se estabelecer ao longo dos próximos meses. Segundo especialistas ouvidos pelo UOL, o fenômeno deve atrasar as chuvas durante a estação.
Clima seco deve permanecer até meados de novembro, segundo Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia). A maior parte das regiões Norte e Nordeste deve ter chuvas abaixo do normal, principalmente no centro-sul do Maranhão e Piauí. No Sul, Paraná e Santa Catarina também devem sofrer com a manutenção da seca. O Centro-Oeste tem previsão de volumes menores que o da média, salvo em áreas pontuais.
Chuva pode ficar acima da média em pontos isolados. O instituto estima precipitações acima da média em áreas específicas do Acre, Roraima, Amazonas, Bahia e Rio Grande do Sul. O órgão também destaca que chuvas devem voltar gradualmente para MT e MS. O Sudeste também pode ter chuvas mais regulares, chegando próximo ou acima da média, exceto em São Paulo e o meio-oeste de Minas Gerais, onde permanece seco.
Temperaturas devem ficar acima da média em praticamente todo o país entre setembro e novembro. Segundo a meteorologista Estael Sias, da MetSul, podem acontecer eventuais refrescos, dentro da variação normal, mas predominam os dias amenos e quentes. Não há previsão de ondas de frio.
Porção central do Brasil deve enfrentar ondas de calor no próximo mês. Em Goiás, Mato Grosso, Tocantins, interior de Minas Gerais e interior da região Nordeste, as chuvas devem chegar apenas entre o final de outubro e início de novembro. Até lá, os estados devem permanecer com baixos níveis de umidade e quentes, podendo chegar aos 40ºC.
La Niña deve começar a fazer efeito entre o fim da primavera e começo do verão, mas com baixa intensidade. A meteorologista Estael Sias estima dois cenários possíveis: em um deles, La Niña será fraca e terá curta duração; no outro, o fenômeno deixa as águas do Oceano Pacífico mais frias que o normal, mas sem atingir a temperatura mínima do patamar de La Niña.
Dependendo da maneira que a La Niña se configurar, outras variáveis de curto e médio prazo podem influenciar o tempo. Se o fenômeno não acontecer de maneira bem definida e surgirem fatores que favoreçam a chuva, por exemplo, podem ocorrer precipitações, indo na contramão da secura comum da La Niña. No entanto, os meteorologistas só conseguem prever variáveis como esta com antecedência de 10 a 15 dias.
Com o atraso das chuvas, recuperação dos níveis dos reservatórios deve demorar para acontecer. Bacias hidrográficas importantes, como a do Rio Paranapanema, tiveram baixas importantes devido à estiagem registrada desde o outono. Neste ano, a recuperação dos níveis mananciais geradores de energia deve demorar mais, e provavelmente vai acontecer ao longo do verão, segundo a especialista. Apesar de não prever um desabastecimento do sistema, a meteorologista estima que aconteçam aumentos no custo da energia e mudança para bandeira vermelha na conta de luz nos próximos meses.