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451 mortes no país: os 5 animais peçonhentos mais fatais e como se proteger

Pequeno, porém potencialmente letal: desde 2019, 578 pessoas morreram por conta de picada de escorpião, um dos animais peçonhentos espalhados pelo Brasil Imagem: Getty Images/iStockphoto

Giovanna Arruda

Colaboração para o UOL*

01/10/2024 05h30

Animais peçonhentos, como serpentes, escorpiões e aranhas, são temidos por boa parte da população por conta de seu potencial de envenenamento. Em alguns casos, acidentes com espécies peçonhentas podem evoluir para a morte, enquanto outros episódios são revertidos caso haja atendimento médico adequado.

Dados epidemiológicos do Ministério da Saúde auxiliam as autoridades a identificar as regiões nas quais os acidentes se concentram e planejar ações educativas sobre o tema. A prevenção a este tipo de acidente muitas vezes é simples, com pequenas atitudes no dia a dia, seja na área urbana ou na zona rural.

Confira abaixo quais espécies são as mais perigosas, o que fazer e como se prevenir.

Escorpiões

Os escorpiões são os responsáveis pelo maior número de notificações de acidentes com animais peçonhentos no Brasil. O Ministério da Saúde contabilizou, a partir de dados do Sinan (Sistema de Informação de Agravos de Notificação), 195.645 acidentes do tipo somente em 2023, com 152 mortes.

Desde 2022 o Sinan vem registrando alta na incidência envolvendo o animal no país, sendo que, em 2023, São Paulo foi o estado que mais notificou o sistema, com 48.484 acidentes com escorpião. Nos últimos cinco anos, mais de 864 mil acidentes com o aracnídeo foram registrados no Brasil.

Com acidentes de maior incidência nos meses mais quentes e úmidos, os escorpiões que representam maior importância de saúde pública são: escorpião-amarelo (Tityus serrulatus), escorpião-marrom (T. bahiensis), escorpião-amarelo-do-nordeste (T. stigmurus) e escorpião-preto-da-amazônia (T. obscurus).

Espécime de escorpião amarelo. Aracnídeo é o responsável pelo maior número de acidentes com animais peçonhentos no Brasil Imagem: iStock

Em praticamente todos os casos, a dor no local da picada é instantânea. Entre duas e três horas após o envenenamento, pode acontecer sudorese profusa (suor em excesso), agitação psicomotora, tremores, náuseas, aumento da saliva, alterações na pressão arterial, arritmia cardíaca, edema pulmonar agudo e choque.

Segundo o Ministério da Saúde, as crianças são o grupo mais suscetível ao envenenamento sistêmico grave decorrente de picadas de escorpião. Como prevenção, pode-se citar medidas simples, como: não deixar frestas e buracos em paredes, fechar assoalhos e vãos entre o forro e a parede, evitar que roupas de cama e mosquiteiros encostem no chão, não pendurar roupas nas paredes, consertar rodapés despregados e manter as residências livres de lixos, entulhos e folhas secas.

Serpentes

Em 2023, foram contabilizados 31.725 acidentes com serpentes no Brasil, sendo que 138 pessoas morreram por conta da picada deste tipo de animal no período. O estado do Pará concentrou o maior número de notificações, com mais de 5.200 acidentes.

Desde 2019, o número registrado pelo Sinan para acidentes com cobras vem caindo, com ligeiro aumento em 2023 em relação ao ano anterior. Entre 2019 e 2023, 163.957 notificações do tipo foram recebidas pelo sistema.

A maioria dos acidentes causados por cobras é causada por espécies da família Viperidae, dos gêneros Bothrops e Bothrocophias, entre elas a jararaca. O grupo é o mais presente no Brasil, com cerca de 30 espécies em território brasileiro.

As cascavéis, a sururucu e as corais-verdadeiras também fazem parte das serpentes peçonhentas de importância de saúde pública no Brasil, de acordo com o Ministério.

Serpentes são a segunda espécie com maior número de notificações de acidentes no Brasil, segundo o Ministério da Saúde Imagem: Ivan Mattos/Zoológico de Brasília

Caso precise entrar em um ambiente em que há possibilidade de presença de serpentes, como mata e beira de rios, é indispensável o uso de luvas, calças e sapatos com cano alto, como galochas grossas. Não manipule de forma irrestrita buracos, folhas secas ou materiais como lenha, por exemplo.

Abelhas

Aparentemente inofensivas, as abelhas foram responsáveis por 32.875 acidentes no Brasil em 2023, provocando 123 mortes. O aumento no volume de notificações do tipo é crescente desde 2021.

Algumas espécies, como as mestiças de Apis mellifera scutellata (africana) e Apis mellifera ligustica (europeia) são consideradas as mais agressivas. Enquanto as abelhas-operárias perdem o ferrão e morrem após picarem um alvo, as Mamangavas e as Mamangabas não perdem o ferrão, podendo picar várias vezes.

Em um enxame, as primeiras abelhas a picar um invasor liberam um feromônio (substância produzida e secretada por um animal, que tem como alvo outro indivíduo da mesma espécie) que faz com que outras abelhas ataquem o mesmo alvo, podendo provocar um acidente com centenas e até mesmo milhares de picadas. A reação no organismo que recebeu o veneno, geralmente, varia de acordo com o volume de toxina injetado. Quanto mais abelhas picam um mesmo alvo, maior a chance do resultado ser grave.

Na maior parte dos casos, abelhas atacam somente quando sentem que sua colmeia está ameaçada. No entanto, acidentes do tipo podem ser graves Imagem: Fernando.M.Soares/Wikimedia Commons

No caso de poucas picadas, o quadro vai desde inflamação local até forte reação alérgica (choque anafilático). No caso de múltiplas picadas, o quadro pode evoluir para manifestação tóxica mais grave, podendo causar a morte.

Aranhas

Com 43.119 notificações em 2023, acidentes com aranhas causaram a morte de 34 pessoas no último ano. Assim como as abelhas, o volume de acidentes com as aranhas também vem evoluindo nos últimos anos, de acordo com dados do Sinan.

A depender da espécie, a picada da aranha pode ser imperceptível no momento do contato ou provocar dor imediata. Entre os sintomas mais comuns, estão: inchaço e sensação de formigamento ou dormência no local da picada, fraqueza, náusea, vômitos, dores musculares, tremores e manchas vermelhas. O veneno pode causar, em casos mais graves, alteração na pressão arterial e nos batimentos cardíacos.

Segundo o Ministério da Saúde, as aranhas dos gêneros Loxosceles, conhecida como aranha-marrom ou violinista, Phoneutria, popularmente chamadas de aranha-armadeira ou macaca e o Latrodectus, as famosas aranhas viúva-negra, estão entre as consideradas "de importância em saúde pública", pela potencial gravidade de sua picada. Acidentes causados por outros gêneros de aranhas podem ser comuns, porém não apresentam relevância em saúde pública. As aranhas-caranguejeiras, embora grandes e frequentemente encontradas em residências, não causam acidentes considerados graves.

Aranha-violinista, uma das espécies peçonhentas citadas pelo Ministério da Saúde como uma das principais envolvidas em acidentes com humanos Imagem: Reprodução/BioDiversity4All

Para evitar acidentes com aranhas, é fundamental, entre outras medidas, manter jardins e quintais limpos, além de evitar o acúmulo de entulhos, folhas secas, lixo doméstico e material de construção nas proximidades das casas. Sacudir roupas e sapatos também é uma forma de se certificar de que não há uma aranha escondida ali.

Residências localizadas em locais com maior tendência de surgimento de aranhas devem tomar mais medidas de prevenção, como vedar a soleira de portas e janelas ao escurecer e utilizar calçados e luvas apropriados.

Lagartas

Com 6.906 notificações de acidentes, quatro mortes foram registradas por conta de envenenamento da espécie no Brasil em 2023. Entre os animais peçonhentos citados pelo Sinan, a lagarta representa o menor número de acidentes e óbitos.

Uma das formas da metamorfose de mariposas e borboletas, a lagarta é capaz de queimar o alvo. Na maioria dos casos, os acidentes do tipo evoluem de forma positiva, mas as lagartas do gênero Lonomia podem, a partir do veneno liberado pelas cerdas urticantes, causar hemorragias na vítima. A dor geralmente é intensa e pode se espalhar do local da queimadura até outros membros do corpo.

Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil é o único país produtor do Soro Antilonômico, específico para o tratamento dos envenenamentos moderados e graves causados por lagartas do gênero.

Lagarta Lonomia. Veneno da espécie pode causar efeitos como hemorragia em eventual vítima Imagem: José Felipe Batista/Comunicação Butantan

Para evitar acidentes com lagartas, é necessário utilizar luvas e equipamentos adequados em atividades como colheita de frutas, jardinagem ou manuseio em ambientes silvestres. Deve-se observar o local, os troncos, as folhas e os gravetos antes da manipulação.

O que fazer caso seja picado por animal peçonhento?

Lave o local machucado com água e sabão. Não faça garrotes (torniquetes) no membro picado nem passe demais substâncias químicas no local, como pomadas.

Não utilize gelo. Até receber atendimento médico, é recomendado fazer compressas mornas no local da picada.

Entre em contato com o SAMU ou Bombeiros. Em caso de emergência, contate imediatamente o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU 192) ou o Corpo de Bombeiros (193). Caso seja necessário, entre em contato com o Centro de Informação e Assistência Toxicológica que atende a sua região. Os respectivos telefones dos Centros estão disponibilizados no site do Ministério da Saúde.

Ministério da Saúde oferece também lista de hospitais de referência para atendimento de acidentes do tipo. A listagem é separada por estado e conta com telefone e indicação dos tratamentos disponíveis em cada estabelecimento.

Caso seja possível, leve uma foto do animal para que a equipe médica possa identificar mais facilmente a espécie. A foto e até mesmo a eventual captura do bicho, no entanto, só devem ser realizadas caso a tentativa não ofereça risco às pessoas envolvidas.

Tratamento é realizado, principalmente, com soros específicos. Entre os cinco principais tipos de acidentes por animais peçonhentos, o acidente por abelhas é o único que não possui um soro específico para o tratamento no Brasil. Porém, há estudos em andamento acerca de sua produção, de acordo com o Ministério da Saúde.

Animais peçonhentos não são a mesma coisa que animais venenosos. De acordo com o Ministério da Saúde, ambos produzem toxinas (veneno) em suas glândulas ou tecidos. Os animais venenosos armazenam a substância para defesa contra eventuais predadores. Já os peçonhentos, além de utilizar seu veneno para se defender de predadores, usam a toxina também de forma ativa, injetando-a em suas presas. Algumas espécies de peçonhentos podem, ainda, utilizar o veneno como parte de seu processo digestivo.

*Com informações de matéria publicada em 21/08/2024.

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