Conteúdo publicado há 1 mês

'Vão usar apagão para mais podas criminosas', diz ambientalista em protesto

Centenas de moradores da cidade de São Paulo (SP) se reuniram na manhã deste domingo (13) para protestar contra a derrubada de mais de 300 árvores para a construção de um túnel na zona sul da capital. O grupo de manifestantes teme que o movimento agrave os problemas climáticos enfrentados na capital.

O que aconteceu

A iniciativa envolve o corte de um corredor formado por espécies centenárias. A devastação é planejada para abrir espaço ao túnel que integra o Complexo Viário para interligar as avenidas Sena Madureira, na Vila Mariana, e a Ricardo Jafet, no Ipiranga.

Derrubada é caminho para ampliar problemas climáticos. A ambientalista Claudia Visoni destaca que a capital paulista está exposta a quatro efeitos causados pelas mudanças climáticas: onda de calor, seca, ventos fortes e a chuva concentrada. "Esses problemas causam pequenos e grandes colapsos", ressalta ela.

Para ambientalista, apagão será usado como justificativa para novas podas. Visoni avalia os 15 minutos de ventos fortes que atingiram São Paulo na última sexta-feira (11) resultaram na queda de árvores já "maltratadas" pela prefeitura, pela Enel e pela própria população. Ela explica que a concessionária de energia remove as árvores dos fios de modo irregular, o que contrinuiria para a queda das espécies. "Vão usar esse apagão para fazer mais podas criminosas", lamenta.

Esse apagão vai incentivar a 'decepação', a retirada e as podas drásticas de árvores, o que vai potencializar o problema. A gente precisa da árvore para a cidade ficar mais fresca, e as árvores maltratadas vão cair com o vento.
Claudia Visoni, ambientalista

Projeto prevê a derrubada de mais de 300 árvores. "Não há como cortar 200 árvores no momento em que o Brasil está queimando e pedido socorro", diz Edgar Werblowsky, um dos organizadores do protesto. "Em uma cidade em que só se levanta prédios, não faz o menor sentido derrubar árvores", complementa a paisagista Angela Basile.

Grupo protesta contra corte de 300 árvores na zona sul
Grupo protesta contra corte de 300 árvores na zona sul Imagem: Alexandre Novais Garcia/UOL

Continua após a publicidade

Construção do Túnel Sena Madureira contará com o corte de espécies diversas. Algumas das árvores ameaçadas pelas obras têm mais de 60 anos e outras ameaçadas de extinção. Entre elas estão Seringueiras, Pau-Brasil, Pau Ferro e Jacarandá.

Preocupação é acompanhada pelo atual cenário adverso. Os manifestantes temem que a derrubada das árvores prejudique ainda mais o clima da cidade. "Leva 25 anos para repor o dano ambiental que a remoção de uma árvore desse porte", analisa presidente da Associação de Moradores da Vila Mariana. Eliana Barcelos, ao recorda que a capital paulista vivenciou o pior qualidade de ar do planeta por dois dias seguidos, em setembro.

Ato foi concluída com um abraço coletivo no corredor arbóreo. Ao final do protesto repleto de gritos contrários à construção do túnel, os manifestantes se reunirão em volta daquele que é conhecido como o último bosque central da região e deram um abraço coletivo simbólico ao redor das árvores.

Construção controversa

Moradores protestam contra derrubada das árvores para construção de túnel
Moradores protestam contra derrubada das árvores para construção de túnel Imagem: Alexandre Novais Garcia/UOL

O ato de moradores surge um mês após a retomada do projeto, iniciado em 2011. As obras foram paralisadas dois anos depois devido à citação das construtoras na Operação Lava Jato. Agora, Galvão Engenharia e Ayla Construtora são responsáveis pela conclusão do projeto.

Continua após a publicidade

Especialistas dizem que túnel não vai desafogar o trânsito. Tal justificativa é rechaçada pelos moradores. "Não vai resolver o problema de mobilidade. Muitas pessoas já analisaram e nós vamos apenas criar mais trânsito e mais poluição", avalia Victor Plese, integrante do movimento Não ao Túnel.

Obra também vai desalojar moradores de duas comunidades. Além dos prejuízos ambientais, os manifestantes criticam o desalojamento dos residentes das comunidades Luis Alves e Souza Ramos. "A obra não vai resolver nada e ainda cria problemas", lamenta a escritora Lourdes Gutierres ao classificar o projeto como "inconsequente". "Tem questões ambientais, urbanística e social envolvidas".

Já soterraram um córrego e cortaram árvores na Souza Ramos. Agora, querem desalojar a população sem nenhum suporte.
Victor Plese, integrante do movimento 'Não ao Túnel'

Construção na mira do Ministério Público de São Paulo. O órgão cobrou explicações da Prefeitura de São Paulo sobre a derrubada das árvores para a construção do túnel na zona sul da capital paulista. O prazo para a manifestação é de 30 dias.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.