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'Mandou te amo e foi última vez', diz mãe de jovem morta em rolo compressor

Rafaela e Andreia: mãe conta que sempre mimou a filha e que ela estava animada com planos de casamento Imagem: Arquivo pessoal

Maurício Businari

Colaboração para o UOL

16/10/2024 05h30

A comerciante Andreia Martins lembra os últimos momentos que teve com a filha, a engenheira Rafaela Martins, 27. A jovem morreu atropelada por um rolo compressor sem freio em uma obra da Petrobras no dia 7, poucas horas após trocar mensagens carinhosas com a mãe.

'Foi a última vez que falamos'

Rafaela Martins morreu em um acidente de trabalho. A engenheira civil foi atropelada por um rolo compressor que perdeu o controle em uma obra da Petrobras, no Terminal de Cabiúnas, em Macaé (RJ). O acidente aconteceu por volta das 9 horas da manhã do dia 7.

Poucas horas antes do acidente, Rafaela havia trocado mensagens com a mãe. "Todos os dias, a gente trocava um 'bom dia' e um 'te amo'. Era uma coisa nossa, de todos os dias. Naquela manhã, ela me mandou a mensagem às 6 horas e eu respondi logo em seguida. A gente sempre falava 'te amo' e pronto. Foi a última vez que falei com minha filha", lembra Andreia.

A mãe também teve acesso a imagens de Rafaela captadas dois dias antes. Uma câmera de segurança do prédio de Andreia, em Suzano (SP), registrou as duas se arrumando para o casamento da cunhada de Rafaela, no sábado, 5 de outubro. "Nós duas estávamos com vestidos longos, lindas para o casamento. Ela estava tão feliz naquele dia: ela e o Milton [namorado] decidiram que se casariam em janeiro e teriam um filho. Foi uma alegria imensa", conta Andreia.

Durante o casamento da cunhada, Rafaela e Milton anunciaram o plano de se casarem oficialmente em janeiro de 2025. No domingo, após as eleições, o casal partiu para Macaé, onde ela morava e trabalhava. "Ela ficou aqui até o domingo. Eles foram embora às 3 da tarde, chegaram ao Rio à meia-noite. Na segunda-feira cedo, ela foi trabalhar e, às 10 horas, recebi a notícia. Minha filha estava aqui no sábado e, na segunda, já não estava mais."

Imagens captadas antes de um casamento são as últimas de Rafaela ao lado da mãe, Andreia Imagem: Arquivo Pessoal

A jovem engenheira se preocupava com a segurança. Rafaela se formou em engenharia civil pela Universidade de Mogi das Cruzes e era uma profissional dedicada e comprometida com a segurança nas obras em que trabalhava, diz a mãe. Ela era contratada da MJ2 Construção e Manutenção de Dutos Ltda. "Ela tinha só 27 anos, ia fazer 28 agora, em dezembro. Se formou novinha e já trabalhava na área há três anos. Sempre falava da paixão dela pelo trabalho", diz a mãe.

Andreia se emociona ao falar do orgulho que sentia pela filha. "Minha filha era tudo de bom. Desde pequena, sempre foi muito alegre, dedicada à família. Mimei minha filha até o fim, fazia tudo o que ela queria, tudo o que eu podia. A gente era muito unida. Ela estava sempre por perto nos últimos meses, vinha muito a Suzano. Foi um baque muito grande perder minha filha assim, tão de repente."

Mãe diz que família arcou com custos

O processo de traslado do corpo de Rafaela foi doloroso e burocrático, diz a mãe. "Foi muito difícil, muito burocrático. O corpo dela saiu do Rio à meia-noite e chegou aqui em Suzano às 9 horas da manhã. Eu paguei tudo sozinha, um total de R$ 17,6 mil. Não tivemos nenhuma ajuda da Petrobras ou da MJ2 Construções. Eles não me deram nenhuma assistência", desabafa Andreia.

Andreia e a família ainda avaliam se entrarão com um processo contra as empresas. "Por enquanto, estamos tentando nos recuperar. Tudo é muito recente, estamos muito abalados. Mas, no futuro, vamos pensar em como agir."

Continuo muito ruim, ainda não consigo entender. Ela estava aqui comigo, feliz, se preparando para a vida. E agora ela se foi, do jeito mais cruel. Quero que as pessoas se lembrem da Rafa como a pessoa maravilhosa que ela era. Ela não tinha inimigos, sempre foi muito alegre e sorridente. Perdi minha filha, mas ela será lembrada pelo Brasil todo.
Andreia Martins

Como foi o acidente

O rolo compressor que atropelou Rafaela teria ficado sem freio, segundo informações preliminares. A engenheira chegou a ser socorrida até a Unidade de Pronto Atendimento do bairro Lagomar, mas não resistiu e morreu.

O equipamento era usado em uma área de galpão de resíduos. O operador não teria conseguido controlar o equipamento, conforme informações do Sindipetro-NF (Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense). Não foi divulgado se o equipamento já havia apresentado algum problema.

Em nota, a Polícia Civil do Rio de Janeiro informou que o caso foi registrado na 123ª DP (Macaé). "A investigação está em andamento para esclarecer os fatos."

O UOL procurou o contato da MJ2 Engenharia, mas não conseguiu retorno. Os dados disponíveis na internet sobre a empresa são inconsistentes e os telefones não funcionam. O site da empresa, cujo link é sugerido no LinkedIn, está fora do ar. A reportagem enviou pedido de informações no perfil no Instagram, mas não houve resposta —o espaço segue aberto. Contatada sobre o traslado do corpo, a Petrobras não havia respondido aos questionamentos até o fechamento da reportagem.

Em nota anterior, a Petrobras lamentou a morte da engenheira e afirmou estar "profundamente consternada" com o caso. "A família da vítima está recebendo assistência da Petrobras e da empresa MJ2. A Petrobras comunicou os órgãos competentes e irá formar uma comissão para investigar as causas do triste ocorrido", diz a nota da petrolífera.

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