Mãe usa energia do carro para salvar filha no apagão: 'Oxigênio no limite'

A mãe de uma jovem com doença rara, que depende de respirador, viveu momentos de tensão ao ter de improvisar com energia do carro durante o apagão em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo.

O que aconteceu

Luciana Nietto, 47, enfrentou uma situação crítica ao ver a filha, Heloísa, 18, que depende de um respirador contínuo, ficar sem energia elétrica. "Ela não consegue ficar mais de 10 segundos sem ventilação", relata a mãe. A jovem, que tem AME (Atrofia Muscular Espinhal), depende de uma série de aparelhos essenciais.

Com o respirador oscilando, Luciana tentou contato com a Enel. Após a energia acabar, o nobreak que alimentava o respirador começou a falhar, e a mãe entrou em contato com a concessionária. "Eu não consegui no meu celular, quem conseguiu foi a técnica de enfermagem, mas o sinal estava péssimo", conta Luciana.

A mãe recorreu a soluções improvisadas para manter os aparelhos funcionando. Primeiro, ela conectou o respirador a um adaptador no carro que usa energia da bateria do veículo. Para isso, ela precisou de cinco extensões de energia. "Quando o respirador começou a oscilar, pensei: 'Se ficar assim, ele vai queimar'", diz Luciana, que ficou preocupada com a possibilidade de perder o equipamento. Mais tarde, com a ajuda de um vizinho, ela conseguiu levar o nobreak até uma casa próxima para carregá-lo. "O nobreak é muito pesado, então tivemos de levá-lo até a casa do meu vizinho e deixá-lo lá por três horas para carregar."

O oxigênio da filha ficou no limite, aumentando a tensão. Heloísa também depende de outros aparelhos, como concentrador de oxigênio e aspirador de secreção, que ficaram sem energia. "O cilindro de oxigênio estava no limite, e isso me deixou muito apreensiva. Se não houvesse cilindro, não teria como socorrê-la", diz Luciana. Ela também mencionou que a base aquecida, essencial para fluidificar a secreção traqueal, ficou desligada, o que fez com que a secreção de Heloísa ficasse espessa.

A Enel demorou a responder, segundo a mãe. Mesmo após várias ligações e a classificação de Heloísa como cliente prioritária, a energia não foi restabelecida até o sábado à tarde, diz a mãe. "Eles sugeriram levar a Heloísa para o hospital, mas como eu faria isso sem sinal de celular para chamar uma ambulância?", questiona Luciana, indignada com a situação. Durante o período de espera, a fisioterapeuta de Heloísa trocou o nobreak descarregado com o de outra paciente, mas este também acabou rapidamente.

Heloísa precisa de energia elétrica 24 horas por dia para o sistema de suporte de vida funcionar
Heloísa precisa de energia elétrica 24 horas por dia para o sistema de suporte de vida funcionar Imagem: Reprodução/Redes Sociais

Pressão das redes

O caso só foi resolvido com um gerador após a divulgação nas redes sociais. Luciana acredita que a Enel só agilizou o processo após o vídeo de Heloísa conectada ao respirador pelo carro viralizar. "Eles ficaram desesperados e me ligaram várias vezes depois que o vídeo viralizou."

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Apesar de o problema ter sido parcialmente resolvido, Luciana continua apreensiva. A medicação de alto custo de Heloísa, que precisa ser refrigerada, foi perdida devido ao apagão, e a família aguarda novas doses. "A medicação custa R$ 164 mil por mês, e agora perdemos tudo devido à falta de energia."

Eles não estão preparados para lidar com casos como o nosso. Antes era a Eletropaulo, que resolvia mais rápido, mas agora está muito pior.
Luciana Nietto

O risco de não conseguir socorrer a filha foi desesperador, segundo ela. "Fiquei com muito medo de, por exemplo, acontecer alguma intercorrência e a gente não ter como acionar uma ambulância", conta Luciana. "O susto foi grande, e a tensão não passou nem depois que conseguimos improvisar, porque o oxigênio estava no limite."

Se eles tivessem cumprido o prazo inicial, não teríamos passado por isso. E se eu não tivesse conseguido puxar a energia do vizinho, o que teria acontecido? As pessoas precisam de energia para o conforto, mas nós dependemos dela para sobreviver.
Luciana Nietto

O que diz a Enel

Em nota, a Enel afirmou que, enquanto as equipes atuavam no reparo da rede, a companhia encaminhou, em caráter de urgência, um gerador para a casa da cliente, que é moradora de São Bernardo.

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A energia foi restabelecida ontem. A empresa reforça que, desde os primeiros momentos da tempestade, equipes da concessionária vem trabalhando incansavelmente para restabelecer a energia para os clientes que entraram com chamados ao longo dos últimos dias. Lamentamos os transtornos sofridos pela população após o severo evento climático que atingiu a área de concessão na sexta-feira passada.
Enel, em nota

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