'Padre fez discurso homofóbico em missa de 7º dia e levei caso à polícia'
O ator Bernardo Dugin, 34, conta que enfrentava um momento difícil com sua família quando precisou lidar com um discurso homofóbico. A fala partiu de um padre durante a missa de sétimo dia do pai da cunhada de Dugin.
Ele registrou um boletim de ocorrência. "Na delegacia, fiz o registro de ocorrência de crime, de um discurso homofóbico de um padre dentro de uma missa de 7º dia", resumiu Dugin nas redes sociais.
O caso aconteceu em abril do ano passado em Nova Friburgo (RJ) —e em setembro deste ano, o Ministério Público do Rio de Janeiro ofereceu denúncia contra o padre.
Durante a celebração religiosa, o padre Antonio Carlos dos Santos disse, segundo Dugin, "que o demônio está entrando nas casas das pessoas, de diferentes formas, para destruir as famílias, na representação da união de pessoas do mesmo sexo, homem com homem, mulher com mulher".
Dugin conta que ficou perplexo com o que ouviu.
Fomos todos à missa em memória a um ente querido. Eu e meu namorado estamos juntos há 10 anos. Tenho três sobrinhos, afilhados e vivemos cercados do maior amor do mundo. Não acreditava. Minha família de luto, em busca de conforto. Saí de lá mais dilacerado.
Bernardo Dugin
Ele diz que não pode afirmar com certeza, mas acredita que o padre tenha percebido que ele e o namorado eram um casal. "Estávamos sentados um ao lado do outro. Como a igreja estava cheia, estávamos bem próximos. Sentimos alguns olhares", diz Dugin.
'Fui para casa atônito'
O ator conta que nem ficou até o final da celebração. Se levantou em meio ao discurso homofóbico e no dia seguinte foi à delegacia para registar um boletim de ocorrência.
Enquanto eu saía, ouvi ele dizer que quem se sentiu ofendido tinha que aceitar que aquela era a verdade. Fui para casa, estava atônito. Resolvi levar o caso adiante porque não podemos mais tolerar esse tipo de preconceito.
Bernardo Dugin
O padre foi afastado da Diocese de Nova Friburgo. De acordo com o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, o caso ainda está em fase de inquérito policial. O Ministério Público fez a denúncia e as investigações estão em andamento com a Polícia Civil.
A reportagem teve acesso aos documentos do processo. O MP propõe que o padre seja denunciado pelo crime de racismo.
"Em junho de 2019, o Supremo Tribunal Federal (...) equiparou a homolesbobitransfobia ao crime de racismo e ratificou o Poder Judiciário como instância de efetivação de direitos de grupos historicamente vulneráveis", diz.
Eles pedem também uma indenização por dano moral de R$ 50.000.
"Sempre acreditei que a denúncia chegaria em algum lugar. Tinham testemunhas, o sentimento de quem presenciou era unânime. Ele extrapolou a liberdade de expressão."
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A reportagem não localizou a defesa do padre Antonio Carlos dos Santos —o espaço segue aberto. Procurada por email, a Diocese de Nova Friburgo, não retornou.
Em uma nota de esclarecimento nas redes sociais na época do caso, a Diocese de Nova Friburgo reproduziu um comunicado do padre. Ele disse que as palavras proferidas "não tiveram o intuito de ofender nenhuma classe ou pessoa" e se desculpou por "eventual interpretação que se tenha dado a essas falas".
Quem me conhece sabe que minha missão como sacerdote católico é professar a verdade do evangelho e doutrina da Igreja, da forma literal como escrito na Bíblia e no catecismo. Reitero meu compromisso com a sociedade sem distinção de raça, etnia, cor ou orientação sexual, pois entendo que somos iguais aos olhos de Deus, sendo certo que meu papel é proclamar o mandamento da caridade, respeito, misericórdia e tolerância.
Padre Antônio Carlos dos Santos, em nota no Instagram
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