Júri dos acusados de matar Marielle começa na 4ª; MP quer pena máxima
Réus confessos pelos homicídios da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, em 14 de março de 2018, os ex-policiais militares Ronnie Lessa, 54, e Élcio de Queiroz, 51, serão levados a júri popular na manhã desta quarta-feira (30).
Marielle tinha cerca de um ano de mandato como vereadora quando foi assassinada. Ela e seu motorista foram assassinados a tiros quando voltavam de uma agenda na Lapa, no centro da capital, em um encontro de mulheres negras.
O MP (Ministério Público) quer a pena máxima dos acusados, que pode chegar a 84 anos de prisão. O processo que levou à prisão de Lessa e Queiroz tem 13.680 folhas, 68 volumes e 58 anexos.
A previsão inicial é de que o julgamento dure pelo menos dois dias. Ao todo, nove testemunhas serão ouvidas no 4º Tribunal do Júri do Rio, sendo sete pessoas indicadas pelo MP e as outras duas pela defesa de Lessa.
Os dois ex-PMs estão presos desde 12 de março de 2019. Eles participarão do julgamento por videoconferência. Lessa está na prisão de Tremembé (SP), enquanto Queiroz está no presídio federal de Brasília.
As testemunhas indicadas pelo Ministério Público são:
- Fernanda Chaves, assessora de Marielle e única sobrevivente -- ela afirmou ao UOL que participará por videoconferência;
- Marinete da Silva, mãe de Marielle;
- Monica Benicio, viúva de Marielle;
- Ágatha Reis, viúva de Anderson;
- Uma perita criminal;
- Dois policiais civis.
As testemunhas arroladas por Lessa são:
- Marcelo Pasqualetti, agente federal;
- Guilhermo de Paula Machado Catramby, delegado da PF.
Depois de o júri ouvir as testemunhas e os réus, os advogados de Lessa e Queiroz e o promotor designado vão debater o processo para tentar convencer os jurados — membros previamente sorteados para compor o conselho de sentença.
Envolvimentos e motivação
Ronnie Lessa admitiu ter atirado contra Marielle e Anderson. Élcio teria participado do planejamento do crime, monitorado a vereadora e dirigido o carro, um Cobalt prata, utilizado no duplo homicídio.
De acordo com o Ministério Público, os criminosos se livraram das armas utilizadas no crime jogando-as no mar, na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio, local onde Lessa vivia e seu reduto de ações ligadas a um grupo miliciano.
Em delação premiada à Polícia Federal, Lessa afirmou que foi contratado por Domingos Brazão, conselheiro do TCE (Tribunal de Contas do Estado), e por Chiquinho Brazão (sem partido), deputado federal, para assassinar a vereadora. Os irmãos Brazão negam envolvimento no crime.
O delator também disse que o delegado Rivaldo Barbosa, que assumiu a chefia da Polícia Civil um dia antes do crime, recebeu propina para proteger os atiradores e os mandantes dos assassinatos. O delegado nega.
Lessa afirmou que a motivação do crime teve como principal motivação grilagem de terras na zona oeste da capital fluminense.
Segundo ele, Marielle se opôs numa discussão na Câmara dos Vereadores sobre um texto que previa flexibilizar exigências legais, urbanísticas e ambientais para a regularização de imóveis.
Missa e atos
Na noite de domingo (27), familiares de Marielle e de Anderson participaram de uma missa, ao lado de amigos e familiares, no Santuário do Cristo, nos pés do Cristo Redentor.
Após a missa, os presentes se juntaram e afirmaram, em coro: "Marielle fez por nós, nós faremos por Marielle e Anderson".
Marinete Silva, mãe de Marielle, afirma que "foram 78 meses e mais de 2.000 dias em que nos juntamos desde que nos tiraram Marielle e Anderson".
"Esse é um momento decisivo para todo mundo que luta por justiça e para quem acredita que o Brasil precisa ser um país sério, que não permite que uma mulher negra seja assassinada com sete tiros na cabeça voltando do trabalho", diz a mãe da vereadora.
Às 7h desta quarta-feira, o Instituto Marielle Franco convocou um ato a ser realizado em frente ao Tribunal de Justiça do Rio.
No dia seguinte (31), às 18h, está previsto um "aulão" em frente à Estátua Marielle Franco, no centro da cidade, "para que não se repita".