Rogério de Andrade usou matadores de aluguel com tática militar em crime
30/10/2024 05h30
Matadores de aluguel usaram táticas militares para assassinar o rival do contraventor Rogério de Andrade, preso na manhã desta terça-feira (29) após ser denunciado pelo MP como o mandante do crime.
Fuzis 'camuflados' e monitoramento
Crime cometido por ex-PMs a serviço da contravenção. Cinco dos outros seis denunciados pelo MP pelo assassinato do também contraventor Fernando Iggnacio Miranda têm passagens pela PM. Segundo a investigação, eles usaram táticas militares para cometer o crime. A vítima foi atingida por cinco tiros de fuzil a uma distância de 5 metros em novembro de 2020 em um heliporto na zona oeste do Rio.
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O responsável por "recrutar" os matadores de aluguel. De acordo com o MP, o sargento reformado Márcio Araújo de Souza foi o responsável por ter contratado os atiradores a mando de Rogério de Andrade. Preso em fevereiro de 2023, ele acabou sendo solto oito meses depois por decisão do STF. O ex-PM já teria sido chefe da segurança pessoal do bicheiro.
Outro PM reformado foi o encarregado por monitorar os deslocamentos da vítima. Segundo o MP, Gilmar Eneas Lisboa, também preso ontem, foi o responsável por acompanhar a rotina de Fernando Iggnacio, auxiliando Rogério de Andrade a arquitetar o crime. O UOL não encontrou a defesa dos presos até o momento. Em abril, o advogado de Andrade, André Callegari, formalizou o abandono da defesa dele.
O monitoramento incluiu o retorno de helicóptero de uma viagem a Angra dos Reis (RJ). Iggnácio desembarcou sozinho, foi conduzido em um veículo elétrico até o estacionamento e deu os últimos passos até o seu carro após percorrer cerca de 100 metros, onde foi baleado.
Quatro matadores de aluguel aguardaram a chegada da vítima por quatro horas em cima de um muro, segundo a denúncia. Entre eles, estava Rodrigo Silva das Neves, que era cabo da PM do Rio na época do crime e foi flagrado por câmeras de segurança no local do crime. A Polícia Civil rastreou um trajeto de 40 km na fuga até a casa de Rodrigo.
Em uma operação no imóvel, policiais civis apreenderam dois fuzis com uma espécie de camuflagem com grama usados no crime, indica a investigação. Rodrigo Silva das Neves acabou sendo preso em janeiro de 2021 em uma pousada no interior da Bahia.
Irmãos com passagens pelas PMs do Rio e SP. Otto Samuel Andrade Silva Cordeiro era soldado da corporação de São Paulo na época do crime e acabou sendo excluído em meio às investigações sobre o assassinato. Já Pedro Emanuel Cordeiro era ex-PM no Rio. Ambos são considerados foragidos pela Justiça.
Matador de aluguel envolvido no crime foi encontrado morto. Suspeito de integrar um grupo de matadores de aluguel, Ygor Rodrigues Santos da Cruz, o Farofa, também era investigado por envolvimento em assassinados entre 2015 e 2021. Era era considerado foragido da Justiça quando foi encontrado morto na zona oeste do Rio. Com ele, agentes encontraram uma carteira falsa da Polícia Civil.
Rastro de mortes em 'guerra da contravenção'
A disputa pelo controle da contravenção na zona oeste do Rio teve início após a morte de Castor de Andrade, em 1997. No ano seguinte, o assassinato de Paulo Andrade, o Paulinho, escolhido como herdeiro do jogo do bicho, fez com que Fernando Iggnacio, genro de Castor, assumisse o lugar dele na disputa. Na época, Rogério de Andrade foi o acusado de ter mandado matar Paulinho, mas acabou sendo absolvido posteriormente.
Segundo investigações da Polícia Federal, mais de 50 assassinatos até 2007 são atribuídos à "guerra da contravenção". A disputa envolvia o controle do jogo do bicho e de máquinas de caça-níqueis.
Rogério de Andrade sobreviveu a um atentado com granada que matou o seu filho. Devido à explosão de bombas instaladas no seu carro, o bicheiro passou por cirurgias no rosto. Mas seu filho Diogo, que tinha apenas 17 anos na época e também estava no veículo, morreu na ocasião.
O "senhor do crime". No documentário "Vale o Escrito", Rogério de Andrade é descrito como "senhor do crime" por Bernardo Bello, ex-marido de Tamara Garcia, que faz parte de outra família importante no jogo do bicho carioca.