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Comida estragada, socos e medo: festa de Réveillon vira pesadelo no Rio

Maurício Businari

Colaboração para o UOL

06/01/2025 12h14

Uma festa de Réveillon na Ilha da Gigoia, no Rio de Janeiro, prometia open food, open bar e espaço kids, mas entregou caos: superlotação, comida estragada, brigas e riscos sérios de segurança.

O que aconteceu

O evento, realizado no Restaurante La Ilha, na Ilha da Gigoia, e anunciado como "Réveillon na Ilha", reuniu mais de 1.500 pessoas em um espaço projetado para 600. Desde a chegada, os participantes enfrentaram filas desorganizadas, cobranças adicionais e falta de estrutura.

Consumidores ouvidos pelo UOL foram unânimes em descrever a situação como "desesperadora". O deck de madeira na entrada chegou a estalar por causa do peso excessivo, preocupando os presentes, que temiam que a estrutura cedesse. No momento da virada, fogos de artifício foram disparados muito perto das tendas de lona que cobriam parte da área externa, aumentando a sensação de perigo.

Participantes usaram seus celulares para gravar imagens do caos instalado na festa, que foram publicadas nas redes, causando indignação entre os internautas. Entre as cenas, muita comida caída sobre mesas e pelo chão, botijões de gás, armazenados irregularmente atrás da cozinha, e fogos de artifício lançados em uma área coberta.

Em um dos vídeos, várias pessoas aparecem brigando fisicamente dentro de uma piscina, enquanto outras assistem, visivelmente assustadas. Nos banheiros, além das longas filas, os convidados tiveram que enfrentar vasos sanitários transbordando, com fezes pelo chão, além de pilhas imensas de papel higiênico sujo.

Cada pessoa pagou R$ 600 pela experiência. Adolescentes e crianças pagaram meia entrada. O valor foi considerado desproporcional pelos convidados, diante da falta de infraestrutura e organização, revoltando ainda mais quem passou pela experiência.

Nos banners de promoção do evento, a promessa era de finger food, comida japonesa, massas e bebida à vontade, com direito a café da manhã completo ao raiar do primeiro dia de 2025. Segundo os convidados, porém, não foi o que aconteceu.

Os convidados se depararam com botijões armazenados de forma inadequada e muita sujeira nos banheiros Imagem: Arquivo Pessoal

Propaganda enganosa

Amayres Azevedo, uma das participantes da festa, afirmou que se sentiu enganada pela "propaganda enganosa" do evento. "Não havia comida suficiente, as bebidas estavam quentes e não havia segurança adequada. Todos se sentiram lesados. Sem falar que foi desesperador ver fogos disparados tão perto das lonas".

A participante revelou que o chefe de cozinha contratado para o evento foi instruído a atender entre 500 e 800 pessoas, mas enfrentou um público muito maior. "Muitos alimentos estavam estragados. Eles prometeram espaço kids, mas não tinha. As crianças ficavam deitadas em cima das mesas para não correrem riscos".

Patrícia Marques, que também participou da festa, relatou dificuldade para acessar alimentos. "Depois de horas, acabamos comendo apenas um biscoito que meu filho trouxe. As pessoas estavam brigando por comida, e o caos dominou a noite", disse.

Jessica Santos foi uma das muitas pessoas que se preocuparam com a estrutura do deck de madeira do estabelecimento. "O deck estalava sob o peso das pessoas. Parecia que ia ceder a qualquer momento. E as pessoas ficaram desesperadas, ficaram chorando, porque aquilo ali podia cair a qualquer momento. Dentro, era ainda pior: banheiros sem condições, pessoas desmaiando e uma sensação constante de insegurança".

Brenda Pereira Martins de Andrade contou que chegou ao evento por volta das 21h30 e se deparou com filas desorganizadas em uma área superlotada, o que dificultava até mesmo pegar copos e pulseiras. No salão, o cenário não melhorava: filas intermináveis para comida, com poucos itens disponíveis e em condições inadequadas.

Depois de horas de espera, Brenda conseguiu pegar apenas um salgado por volta das 2h20 da manhã. Desgastada, com fome e frustrada, decidiu deixar o evento antes do amanhecer.

A única coisa que consegui comer foi um cachorro-quente na rua depois de sair daquele caos. Esperávamos um Réveillon especial, mas tudo o que tivemos foi desrespeito e descaso. As filas eram intermináveis, a comida estava estragada, e as pessoas brigavam por um prato. Foi humilhante.
Brenda Andrade

Outro participante, Amarildo Júnior, descreveu o evento como "a experiência mais desesperadora" de sua vida. "Pagamos caro por um Réveillon que prometia ser memorável e fomos tratados de forma desumana", declarou.

O evento prometia um menu sofisticado, mas os participantes reclamaram que não receberam pelo que pagaram Imagem: Arquivo Pessoal

Ação coletiva

Amayres, que é advogada, tomou a iniciativa de registrar o caso na polícia e organizar uma ação coletiva contra o promotor do evento. Ela informou que cerca de 30 pessoas registraram boletins de ocorrência na 16ª DP, na Barra da Tijuca. Além disso, um grupo no WhatsApp foi criado para discutir o caso, reunindo mais de 300 participantes.

A Polícia Civil do Rio de Janeiro confirmou o registro de ocorrências e adiantou que já está investigando o caso. Segundo nota, os comunicantes estão sendo ouvidos para esclarecimentos.

O Restaurante La Ilha, onde o evento foi realizado, alegou ter sido também vítima de um golpe. Em nota oficial, o estabelecimento afirmou que o espaço foi alugado para um produtor externo, e que toda a negociação, divulgação e logística do evento foram conduzidas por este produtor, sem qualquer envolvimento direto da administração do La Ilha. O restaurante declarou que está tomando medidas legais contra o responsável.

O promotor do evento, Bruno Augusto Pacheco de Oliveira, proprietário da Mundi Prod, que organizou a festa de Réveillon, não foi localizado para comentar as denúncias. O perfil que divulgava a festa foi apagado das redes sociais. O espaço permanece aberto para manifestações.

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