Coronel da reserva: caso em Osasco prova que militarização deve ser revista
O assassinato do secretário-adjunto de Segurança de Osasco (SP), morto a tiros por um guarda municipal dentro da prefeitura, revela a necessidade de se revisar a militarização excessiva das polícias e dos agentes de segurança, afirmou José Vicente, coronel da reserva da Polícia Militar de São Paulo, em entrevista ao UOL News nesta terça (7).
O secretário-adjunto Adilson Custódio Moreira foi feito de refém dentro de uma sala da prefeitura de Osasco. Segundo informações preliminares, o crime teria sido motivado por um desentendimento entre o guarda e o secretário, logo após o fim de uma reunião no Paço Municipal. O autor dos disparos se entregou após duas horas de negociação.
É necessário que a polícia comece a tomar um pouco mais de cuidado, não só com relação ao treinamento de seus profissionais, mas até em suas práticas. Verificamos nos últimos anos que as polícias, de uma maneira geral, vêm atuando de uma forma extremamente militarizada, até pelo próprio traje.
Não é só a polícia; temos guardas municipais atuando com fuzis e fardamento de guerra. Os policias e guardas municipais não percebem que isso assusta a população. O bandido não está preocupado se a polícia faz cara feia ou tem armamentos pesados, mas a população e a maioria da sociedade brasileira sim.
Essa polícia 'fortona', que quer derrubar o crime organizado usando a força bruta em vez da inteligência, não funciona. Fiz um levantamento no qual, entre 2022 e 2024, houve um aumento de 10% nos assassinatos, mas a letalidade policial cresceu 154%. Não é necessária tanta força assim para fazer uma polícia mais inteligente com os mesmos resultados, ou melhores.
José Vicente, coronel da reserva da PM-SP
Vicente chamou a atenção para as condições de trabalho oferecidas aos agentes de segurança, muitas vezes expostos a longas jornadas e submetidos a situações constantes de estresse.
Aqui em São Paulo, como acontece em muitos estados, o policial trabalha doze horas seguidas. É impossível aguentar um trabalho estressante por esse período. Após oito horas, cai muito a qualidade da percepção, das reações, das decisões e do comportamento policial. Quando ele sai de folga, o Estado ainda oferece vagas para trabalhar, na chamada Operação Delegada.
Não se mede exatamente o que isso está acarretando de sobrecarga no policial. Isso pode causar situações anômalas, como pode ter sido essa do guarda municipal de Osasco. Provavelmente é um tipo de explosão provocada por estresse acumulado de várias fontes.
Isso deve chamar a atenção para se verificar as condições de trabalho dos policiais. O estresse não é só o da rua, ao lidar com cidadãos problemáticos, mas também com os supervisores, que podem tornar um inferno a vida de um policial no dia a dia. José Vicente, coronel da reserva da PM-SP
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