Fim do 'Caveirão' em SP; como funciona a demolição de um prédio?
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Um prédio da década de 1960 no centro de São Paulo será demolido. Conhecido como "Caveirão", o imóvel está localizado na Rua do Carmo e tem 24 andares. Em estado precário há décadas, o prédio representa risco de desabamento, além de servir como ocupação por tráfico de drogas.
O "Caveirão" foi construído como edifício-garagem, mas não foi concluído. Em uma região com muita densidade populacional — e outros imóveis — a demolição pode parecer desafiadora, mas já existem tecnologias suficientes para que ela ocorra sem perturbar a vizinhança.
Como é uma demolição?
Há várias formas de se demolir um prédio. A demolição com explosivos é apenas uma delas. Hoje, técnicas como Top Down, sistemas de britadores hidráulicos e corte com serra são alguns deles. A demolição tem processos que não geram poeira ou ruído, que pode ser feito silenciosamente e sem gerar riscos para o vizinho.
O Top Down, por exemplo, é uma forma em que um guindaste por meio de um helicóptero vai desmontando o prédio de cima para baixo. Não se pode demolir por baixo senão o que está em cima cai. É uma forma, por exemplo, que minimiza riscos. Além disso, já existe tecnologia de ponta, como tesouras hidráulicas, que cortam vigas de aço e concreto, tornando a demolição de um edifício sem tanto ruído. Hoje já existem vários métodos para demolir um prédio, tudo depende da circunstância em que o imóvel se encontra.
Sérgio Angulo, engenheiro civil e professor da Poli-USP
Método de demolição considera vários fatores. Além da idade do prédio, é necessário entender se a estrutura está afetada — e como ela está. Essas características definem a escolha de uma demolidora.
Para fazer um processo de demolição você tem que conhecer o histórico, entender as condições que o prédio está: se passou por danos, pegou fogo. Também é necessário diagnosticar a capacidade que ele tem de suportar peso para entender como será o uso das máquinas. Além disso, antes da demolição, tem uma preparação de segurança que exige que corte a energia, a água. Há pessoas que vão trabalhar na demolição e o risco precisa ser calculado previamente.
Sérgio Angulo, engenheiro civil e professor da Poli-USP
Tempo necessário para demolir um edifício também é crucial para decisão. Se há necessidade de que o imóvel seja demolido rapidamente, o método pode ser por implosão, por exemplo. No entanto, se é possível que a estrutura permaneça em pé por mais tempo, outras formas podem ser escolhidas para a demolição. O período de demolição de um edifício pode variar de dias a meses.
As demolições de implosão são feitas quando têm necessidade de remoção rápida. No entanto, os escombros são grandes. Mas por meio de tecnologias é possível minimizar o dano ao entorno ao fazer o prédio implodir para dentro, por exemplo. Mas nem sempre é possível controlar o que pode acontecer, como fragmentos voarem. Existe tecnologia para isso, mas não é garantia. Já a demolição de Top Down é um processo de meses, mas tem mais oportunidades de reciclagem.
Sérgio Angulo, engenheiro civil e professor da Poli-USP
Nem tudo que é demolido vai para o lixo. Pode parecer que quando um prédio é demolido, tudo vira entulho. Mas, na realidade, os materiais podem ser reaproveitados. E isso também passa pela análise dos engenheiros antes da demolição.
É possível aproveitar portas, janelas, fiações de cobre, cerâmicas. Até vidros podemos tirar antes da demolição para serem reutilizados. Um exemplo foi a demolição do prédio São Vito em 2010 [conhecido como 'Treme-Treme', na Avenida do Estado]. O entulho foi utilizado para o remodelamento das calçadas de São Paulo. Muitas vias da cidade foram feitas com esses materiais [de demolição].
Sérgio Angulo, engenheiro civil e professor da Poli-USP
Prefeitura diz que "Caveirão" é objeto de fiscalização desde 2010. O município afirma que a estrutura vem "sofrendo deterioração com o tempo, podendo vir a ruir e causar grave acidente na região". Além disso, "há riscos de acidente por queda ou descarga elétrica, bem como de incêndio". Em junho do ano passado, a Justiça determinou que o proprietário fizesse a demolição do prédio abandonado sob multa diária de R$ 500. No entanto, a decisão foi descumprida. Agora, o proprietário deverá ressarcir a Prefeitura com os gastos da remoção do edifício.
Demolição não será por implosão. Em nota, a Prefeitura informou que iniciará um processo licitatório para as empresas se apresentarem. "A obra de demolição será manual (sem implosão) e o custo será conhecido ao final da licitação", diz comunicado.
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