Nespresso suspende compra de café de fazenda ligada a trabalho escravo
A Nespresso, marca controlada pela Nestlé, vai suspender a compra de café da fazenda Cedro II, que entrou na "lista suja" do trabalho escravo divulgada ontem pelo governo federal. Compradora do mesmo produtor, a Starbucks informou que vai investigar o episódio e que, caso confirmadas as violações, pode também suspender relações comerciais com a fazenda, que fica no Triângulo Mineiro.
A decisão das duas multinacionais acontece depois da publicação do cadastro de empregadores flagrados com mão de obra análoga à escravidão, que incluiu 48 novos nomes. Entre eles, está o produtor de café Helvécio Sebastião Batista, certificado pelos selos de qualidade da Nespresso e da Starbucks. Veja aqui a "lista suja" completa.
"Diante do exposto no último relatório do Ministério do Trabalho, suspendemos de imediato o trabalho com o produtor em questão e vamos averiguar o caso", informou nota enviada pela Nespresso. "As fazendas que fornecem café para a companhia são rigorosamente avaliadas e supervisionadas anualmente para cumprirem devidamente com os critérios do programa. Não aceitamos situação contrária, sem exceção", disse a empresa.
A Starbucks informou, em nota, que vai investigar o episódio, o que "poderia levar à suspensão da relação comercial com uma fazenda até que o caso tenha sido esclarecido". Segundo a empresa, que tem a maior cadeia de cafeterias do mundo, a fazenda seguia as práticas do selo de certificação da rede CAFE, que segundo a marca segue "padrões éticos e sustentáveis em parceria com a Conservation International".
Não é a primeira vez que auditores-fiscais flagram trabalho escravo em fazendas de café certificadas pela Starbucks. Em agosto do ano passado, a Repórter Brasil mostrou que a Fazenda Córrego das Almas, também conhecida como Fartura, foi flagrada com 18 trabalhadores submetidos a condições análogas à escravidão.
Outro lado
O proprietário e administrador da Fazenda Cedro II, Helvécio Sebastião Batista, afirma ser improcedente a sua autuação por explorar mão de obra. "Estou tomando as minhas providências. Entrei com mandado de segurança e não paguei um centavo de multa", afirma Batista.
Os auditores-fiscais encontraram na fazenda Cedro II e em outras propriedades que têm Batista como administrador outros 19 trabalhadores submetidos à condições análogas à de escravos, além dos seis que provocaram a inclusão do produtor na "lista suja". Os trabalhadores não tinham banheiro adequado e nem cozinha para preparar as refeições. Além disso, eram submetidos a jornadas exaustivas, que, em alguns casos, se estendiam até às 23h. Muitas vezes sem folga semanal.
Além dos certificados de boa prática da Nespresso e da Starbucks, Batista afirmou que a fazenda era certificada pela Rainforest Alliance e pela UTZ. A Rainforest Alliance informou à Repórter Brasil que suspenderá o selo de qualidade. Já a UTZ informou que certificou uma fazenda vizinha, administrada por Batista, mas que a propriedade não é a que consta na "lista suja".
Casos de trabalho análogo à escravidão em fazendas de café são recorrentes. Somente em 2018, 210 trabalhadores foram encontrados em situação análoga à escravidão pelos auditores-fiscais.
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