'Sou o improvável que se tornou provável', diz candidato petista em SC

O petista Décio Lima, candidato ao governo de Santa Catarina, disse que é um "improvável que se tornou provável" nas eleições do estado. "Ninguém acreditava na possibilidade, até porque historicamente nunca aconteceu de nós estarmos nesse ambiente de disputa no segundo turno", afirmou durante a sabatina UOL/Folha na manhã de hoje.

Para vencer as eleições, Lima precisa reverter um cenário bolsonarista que se apresenta de maneira muito forte no estado. No cenário nacional, Bolsonaro (PL) teve 62,21% contra 29,54% de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no primeiro turno. Em Santa Catarina, Jorginho Mello (PL) liderou com 38,61% dos votos, enquanto Lima teve 17,42%. O PT nunca havia estado no segundo turno em disputas ao governo no estado.

Na última pesquisa Ipec no estado, divulgada no dia 18 de outubro, Mello tinha 61% dos votos válidos (que excluem brancos, nulos e eleitores indecisos), contra 31% de Lima.

Décio Lima revelou que considera que a própria candidatura é "uma resistência", aposta no "voto silencioso" e na reversão do preconceito contra os candidatos de esquerda.

"Ser candidato aqui em Santa Catarina, onde eu estou, não é fácil. Vocês hão de convir que é uma luta de Davi contra Golias."

Disse que existe uma "timidez" dos próprios eleitores em afirmar publicamente o voto no PT. "Tem muita gente que chega comigo e fala no ouvido 'estamos contigo'. Isso é uma normalidade aqui em Santa Catarina", afirmou.

Ele defendeu que a própria candidatura representa um "compromisso com a democracia" e que a pauta bolsonarista não são os valores do povo catarinense. "Nós não somos o estado que defende armas, nós somos o estado que defende o livro para nossos filhos."

Lima disse que sofre "uma forte hegemonia" no estado. "Eu fiquei quatro anos sem poder entrar nas rádios. Os próprios veículos chamados comunitários, rádios civis populares não me aceitavam com temeridade", conta.

"Disputei as eleições ao governo de Santa Catarina em 2018 sozinho, isolado, mesmo tendo aqui outros partidos do nosso campo democrático e popular que se aglutinaram com o conservadorismo da política de Santa Catarina."

Lula fora da campanha em Santa Catarina

"Foi uma decisão minha", diz Lima, sobre a ausência de Lula no segundo turno da campanha.

"O horário poderia prejudicar o dia de trabalho, que é muito caro aos catarinenses. Podia ser uma agressão à cidade. E temos de entender as agendas. Disse a ele: 'Aqui o senhor tem palanque, eu vou dar conta'. Então foi uma questão de conceito."

Neonazismo no estado e assédio eleitoral

Recentemente, o Parque Beto Carrero World realizou uma "promoção" aos apoiadores do PT para afastar eleitores no horário da votação. O candidato lamentou, disse que entrou com procedimentos legais e que o episódio é um "crime eleitoral, abuso do poder econômico".

A campanha do candidato usou um áudio do empresário Luciano Hang, que pedia demissão de professores, em programas eleitorais do partido. Em defesa, o dono da Havan disse que o pedido era uma forma de evitar o aumento de imposto ao setor têxtil.

Para ele, esse áudio "revela um estado que infelizmente tem sido tutelado por interesses que não são interesses difusos do povo catarinense". "Nós não vamos nos resignar. Não vamos abaixar a cabeça.", respondeu lembrando as denúncias frequentes que faz sobre assédio eleitoral.

"Esses querem tirar o direito da liberdade, da democracia, da liberdade do voto, com base no poder econômico", diz Lima. "Eu que sou um daqueles meninos que saí da ditadura lutando pela democracia, e vejo 42 anos depois acontecimentos dessa natureza, nós não merecemos, isso o Brasil não merece. E nós temos que ter punição para que a gente possa educar acontecimentos dessa natureza."

Segundo ele, há um empoderamento da extrema direita no estado. "Eles se organizaram, são muito mais orgânicos, ao ponto de criarem células neonazistas."

A sabatina foi conduzida por Fabíola Cidral e pelos jornalistas Leonardo Sakamoto, do UOL, e Cauê Fonseca, da Folha de S.Paulo.