PT é o único partido que esteve em todos os turnos das eleições desde 1989

No próximo domingo (30), mais de 156 milhões de brasileiros estarão aptos a irem às urnas para decidir o próximo presidente do Brasil. Será a nona vez que os eleitores irão fazer essa escolha desde a redemocratização, em 1989. O PT é o único partido que esteve presente em todas as disputas, incluindo primeiro e segundo turnos.

As únicas vezes em que a eleição foi decidida no primeiro turno foram em 1994 e 1998, quando Fernando Henrique Cardoso (PSDB) saiu como vencedor. Em ambas as ocasiões, o segundo colocado foi Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Todas as outras eleições tiveram segundo turno, sempre com a participação de um candidato petista.

Em 1989, Fernando Collor, então no extinto PRN, foi eleito com 53,03% dos votos válidos, batendo Lula. Em 2018, Jair Bolsonaro, então no PSL (agora no PL), se elegeu com 55,13% dos votos e derrotou Fernando Haddad. O PT comandou o país quatro vezes: Lula se elegeu em 2002 e 2006, já Dilma Rousseff em 2010 e 2014.

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Para Marco Antônio Teixeira, professor de ciência política pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), a força do PT nas disputas presidenciais pode ser explicada pela estrutura do partido, que consegue atuar de forma conjunta e sem cisões.

"Dentro do sistema partidário brasileiro, o PT é o único partido que de fato atua como partido, ou seja, tem candidato e todo mundo faz campanha para ele. O PT não tem cisão nos estados e busca sempre um posicionamento coletivo. O PSDB também atuava conjuntamente até 2014, mas hoje só sobrou o PT", afirma.

"É um partido organizado nacionalmente. Existe um posicionamento político e sua bancada sempre vota junto, no PT não existem 'sub-bancadas' como a bancada da bala e a bancada evangélica que existem em outros partidos."

Ele ainda destaca que a origem do PT, ligada aos movimentos sindicais, produziu grandes lideranças políticas. Mas aponta que hoje o partido precisa buscar lideranças em outros segmentos da sociedade.

"Lula é a principal liderança e tradição dessa origem do PT, mas também há nomes como Haddad, que é filho dos movimentos sociais, Jaques Wagner, que é do movimento sindical, e Patrus Ananias em Minas Gerais, que é dos movimentos sociais. Esse enraizamento forneceu os principais quadros do partido, mas é preciso buscar lideranças em outros segmentos da sociedade. [O deputado federal] André Janones, por exemplo, que está inserido no PT apesar de não ser parte do partido, atua em um segmento que o PT não tem diálogo, que são as redes sociais, e é preciso buscar essas formas de liderança também."

"Lula é maior do que o PT"

Apesar da força mostrada pelo PT nas nove disputas presidenciais desde a redemocratização, a cientista política Maria Hermínia Tavares de Almeida indica uma falta de alternância de nomes. Em apenas três das nove disputas à Presidência, o candidato do Partido dos Trabalhadores não foi Lula. O ex-presidente tem um peso muito grande para o partido pela sua própria história, diz ela.

"Lula foi importante no processo da volta da democracia. Quando entrou para a vida política, era um líder sindical importante para o movimento e tinha grande significado na luta pela redemocratização. Já era muito conhecido quando fundou o PT e desde 1989 a parte do eleitorado que se identifica com uma agenda mais progressista foi se consolidando em torno menos do PT e mais do Lula como uma figura nacional", afirma.

Lula fez do PT uma alternativa de esquerda e centro-esquerda no cenário político nacional. O fato de ter tido um candidato que era uma figura maior do que o próprio partido ajudou a consolidar essa alternativa."
Maria Hermínia Tavares de Almeida, cientista política

Maria Hermínia destaca, entretanto, que foram necessárias algumas concessões para que o partido chegasse ao posto de maior partido do Brasil.

"Esse espaço político de esquerda e centro-esquerda que o PT ocupava nunca foi majoritário para ganhar uma eleição. O partido teve que caminhar em direção ao centro e fazer acenos ao centro e à centro-direita, mas conseguiu se constituir como pilar da opinião da força política eleitoral da esquerda. No começo, não fazia alianças e não aceitava outro candidato, mas foi assim que se constituiu como espinha dorsal da oposição de esquerda."

Mensalão, Lava Jato, prisão de Lula e volta do PT

Se hoje o PT aparece na liderança das pesquisas eleitorais, até pouco tempo atrás o cenário poderia ser inimaginável para muitas pessoas e especialistas políticos. A "crise" no partido começou em 2005, ainda no primeiro mandato de Lula, quando veio à tona o escândalo do mensalão.

Anos depois, em 2014, teve início a Operação Lava Jato, que anos mais tarde culminou com a prisão de Lula. Mas, ainda antes da prisão do ex-presidente e maior liderança do PT, o partido sofreu outro duro golpe. Em 31 de agosto de 2016, Dilma Rousseff se tornou a segunda presidente do Brasil a sofrer impeachment.

Essa sucessão de acontecimentos aflorou o sentimento do antipetismo, sem, entretanto, deixar de ser a grande força da esquerda no país.

"Mesmo em 2018, no auge da crise e do antipetismo, quem foi para o segundo turno foi o PT. Isso mostrou que, no campo da esquerda, o PT continuava sendo o centro aglutinador. Não houve uma alternativa diferente, seja partidária ou liderança pessoal que pudesse fazer sombra ao PT."

Marco Antônio Teixeira também destaca um fator afetivo e de memória que ajudou no "ressurgimento" do partido nas eleições de 2022.

"No período do PT, houve um boom de desenvolvimento no país. Lula encerrou seu segundo mandato com 85% de aprovação e tem muito recall. Era um país muito mais respeitoso com as minorias e diversidade e tinha uma expectativa melhor do que hoje", diz.

O PT deixou marcas no governo e isso se vê em todo lugar. Quando temos um gestor ruim, olhamos para trás e comparamos. Da mesma forma que a fragilidade do governo Dilma gerou o Bolsonaro, hoje olham mais para trás e lembram do governo Lula."
Marco Antônio Teixeira, cientista político

Frente ampla e governabilidade

Nas eleições de 2022, o PT constituiu a chamada "frente ampla" para tentar retornar à Presidência. Um aceno já havia sido feito no primeiro turno, na aliança com o PSB, que deu Geraldo Alckmin para ser o vice de Lula. Ele foi um tucano histórico, grande rival de Lula e um dos fundadores do PSDB, o que já sinalizava um acordo com setores que historicamente ocuparam lados distintos ao do Partido dos Trabalhadores.

No segundo turno, a frente se tornou ainda mais aglutinadora. Nomes como Simone Tebet (MDB), João Amoêdo, fundador do partido Novo, Fernando Henrique Cardoso e economistas como Pedro Malan, Armínio Fraga e Pérsio Arida, que participaram da criação do Plano Real, também se colocaram ao lado da chapa Lula-Alckmin.

Maria Hermínia afirma que a formação da frente ampla pode ter contribuído para a retomada de força do PT. "O PT só ganhou quando buscou apoio do centro e da direita, não governou sozinho nas vezes em que venceu", diz.

Para Teixeira, a formação dessa frente ampla mostra mais a força de Lula, capaz de fazer adesões estratégicas, do que do próprio PT. Também aponta que isso pode ser benéfico num eventual governo petista.

"Ao receber essa gama enorme de apoio, Lula será obrigado a fazer um governo amplo, caso contrário não consegue se sustentar. Esse grupo será incorporado. Não só o MDB de Renan Calheiros, mas também de Tebet e José Sarney, o que também vai ter um reflexo no Congresso. Grupos vinculados a esses políticos vão passar a apoiar o presidente", disse.

"O presidencialismo de coalização é assim e não há por que temer uma crise de governabilidade", concorda Maria Hermínia. "Além de tudo, Lula é uma liderança experiente e pragmática, com muito traquejo de negociação, então não vejo problemas apesar de a direita dominar o Congresso."

Especial 'Lado a Lado' traz eleitores de Lula e Bolsonaro debatendo seus votos. O vídeo está disponível no Youtube de MOVdoc.