Ala do PSDB rejeita Datena e diz que ele usa partido para renovar com Band
Uma ala do PSDB na cidade de São Paulo defende a desistência da candidatura a prefeito do apresentador José Luiz Datena, escolhido após uma intervenção da direção nacional do partido.
O que aconteceu
O ex-presidente municipal da sigla Fernando Alfredo afirma que Datena se aproveita da exposição da candidatura para renovar seu contrato com a Band. Diz também que a desistência da candidatura é uma questão de tempo, o que a campanha nega. Deposto do cargo, Alfredo declara apoio à reeleição de Ricardo Nunes (MDB).
Já a executiva do PSDB garante que a candidatura de Datena vai até o fim.
A oposição de alas do PSDB a Datena começou antes de sua indicação. Quando o então prefeito Bruno Covas morreu, em 2021, a cúpula da sigla em São Paulo teria decidido apoiar a reeleição de Nunes. "Eu, o ex-governador Rodrigo Garcia [que este ano deixou o PSDB], o João Doria e o Marco Vinholi [ex-presidente estadual] pensamos em indicar o vice na chapa", diz Alfredo. "Isso muda quando o Eduardo Leite [governador do RS] vira presidente nacional e exige candidatura própria. Se quisesse ficar com a vice, o PSDB era o primeiro da lista."
Aliada de Nunes, a cúpula municipal do PSDB foi então removida pela executiva nacional. Em outubro do ano passado, Leite anulou a convenção que reelegeu Fernando Alfredo presidente do partido na capital e entregou o cargo ao aliado Orlando Faria, opositor de Alfredo.
A justificativa era que Alfredo teria cancelado filiações e expulsado desafetos da legenda. "Não tinham prova nenhuma, tanto é que a executiva estadual decidiu por unanimidade validar a convenção que me reelegeu", diz o ex-presidente municipal.
Tucanos com mandato defenderam Alfredo. Vereadores e deputados estaduais e federais por São Paulo chegaram a divulgar uma carta em que pediam a validação da convenção, mas sem sucesso.
Começou, então, uma debandada no partido. Os oito vereadores da legenda na Câmara trocaram o PSDB por PSD, PL, Podemos e, principalmente, o MDB, de Nunes, para onde migraram quatro parlamentares.
Outro tucano aliado de Nunes, o secretário-executivo do prefeito, Fábio Lepique, diz que Datena "não tem apoio fora da cúpula do partido". "Datena quer surfar na onda da antipolítica. Mas o fato é que a militância do PSDB não o aceita", afirmou nesta terça-feira (23) para a Folha de S.Paulo.
Alfredo acusa Leite de desejar protagonismo do PSDB em São Paulo de olho na eleição presidencial de 2026. Procurado, Leite não quis se manifestar. A cúpula do partido na capital também estaria de olho no fundo eleitoral. "Quando o partido lança um candidato, vem mais recurso da executiva nacional. Quem cuida é a coordenação do partido. Quanto mais viável o candidato, mais dinheiro recebe", diz Alfredo.
Atual presidente da sigla na capital, o ex-senador José Aníbal rebate. Diz que a executiva nacional mandou "algum recurso para fazer a pré-campanha até a convenção. Depois, em 15 de agosto, vamos ter acesso ao fundo eleitoral. Ele [Alfredo] fala muito em dinheiro porque gosta muito de dinheiro", alfineta Aníbal, o principal avalista de Datena no PSDB da capital.
'Datena usa o PSDB'
Desde que foi lançado pré-candidato, Datena vem dizendo que pode desistir da disputa. "Se o [Joe] Biden pode desistir [de disputar a reeleição nos EUA] a qualquer momento, por que eu não posso? Desde o começo, falei: se me sacanearam [no partido], eu desisto mesmo", afirmou Datena à Folha na segunda-feira (22).
A condição de ser "sacaneado" já havia sido mencionada por ele durante sabatina UOL/Folha, na semana passada. O apresentador tem um histórico de desistências — já desistiu de pleitos ao menos quatro vezes, em anos anteriores.
Para Alfredo, "a desistência de Datena é questão de tempo". "Ele falou que pode desistir se tiver manifestação contrária. Ele sabe que vai ter problema no dia da convenção. Ele está arrumando uma saída honrosa ao afirmar que o PSDB não lhe deu alternativa", afirma.
O ex-presidente municipal diz que a intenção de Datena é melhorar seu contrato na TV Bandeirantes. "Ele usa o PSDB pra se cacifar e renovar o contrato dele com a Band. É uma barganha. A Band já quer ele de volta."
Desde que Datena se afastou do "Brasil Urgente", a atração vem perdendo audiência. São quase dois pontos de audiência perdidos para o "Cidade Alerta", da Record, e para o "Tá na Hora", do SBT, resultado que impacta na audiência média do canal ao final do dia. Reportagem do Na Telinha indica que a cúpula da Band torce pela desistência do apresentador.
Aníbal refuta a argumentação. "Não vou responder esse cara. Ele quer aparecer às nossas custas. Temos uma candidatura independente e corajosa", afirma o presidente, segundo quem o partido está mobilizado.
O atual presidente nacional da sigla, Marconi Perillo, refuta "qualquer risco de a candidatura não ser homologada". O Datena terá apoio integral nos dois colegiados, que são quem vai escolher o candidato. Isso elimina qualquer possibilidade de sacanagem. Entre desistir e ser prefeito, ele está muito mais próximo de ser prefeito", afirmou ao jornal O Estado de S. Paulo.
Além do apoio da cúpula nacional e estadual [que também sofreu intervenção de Leite], montamos uma chapa com 51 candidatos a vereadores, perto do limite de 55. O resto é conversa de que quer aparecer.
José Aníbal, presidente municipal do PSDB
Toda eleição é isso. Se Datena se candidatar, sobe o voucher. Ninguém abre mão de um salário de centenas de milhares de reais para ser prefeito. Se ele se elege, vira vidraça e não volta mais pra televisão.
Fernando Alfredo, ex-presidente municipal do PSDB
'Viraram bolsonaristas'
Aníbal afirma que o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a Nunes inviabilizou a aliança com o prefeito. "Nunes não é mais candidato do MDB, é o candidato do Bolsonaro, e quem está com Bolsonaro não tem nada a ver com o PSDB", diz. "O nosso compromisso é com a democracia, e nem democratas eles são."
O vice na chapa de Nunes foi indicado por Bolsonaro. O ex-comandante da Rota Ricardo Mello Araújo foi oficializado na convenção do PL na segunda-feira (22).
Aníbal afirma que Alfredo serve aos interesses de Nunes e Bolsonaro. "A única motivação dele é entregar serviço ao Nunes. Ele hoje inexiste para nós, é uma insignificância", afirma.
Questionado, Alfredo diz rejeitar Bolsonaro. "A escolha do vice foi ratificada pelos dez partidos da coligação, e apoio não se rejeita", afirma. "Mas meu apoio é ao Nunes. Quando o Araújo estiver com o Nunes, eu não subo no palanque. Quando estiver o Bolsonaro, eu não subo. Não vou deixar de criticar Bolsonaro."