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Milei no Brasil? Candidatos viram sósias de presidente argentino

Jair Bolsonaro ao lado do candidato a vereador "Milei de Floripa" Imagem: Divulgação/Redes Sociais

Manuela Rached Pereira

Do UOL, em São Paulo

24/08/2024 05h30

Candidatos do PL (Partido Liberal) de Santa Catarina e da Paraíba apostam no nome e na figura do presidente da Argentina, Javier Milei, como estratégia de campanha para as eleições municipais deste ano.

O que aconteceu

Candidatos são "sósias" de Milei e apoiadores de Bolsonaro. Ademar Meireles adota o nome "Milei de Floripa" em campanha para vereador da cidade catarinense. Já o paraibano Sósteni Bezerra, que também tenta uma vaga na Câmara de João Pessoa, se apresenta como "Sósteni Milei". Em comum, além do nome de urna, ambos buscam se assemelhar fisicamente com o presidente argentino e declaram apoio a Jair Bolsonaro.

Figurino das campanhas inclui peruca, costeleta e réplica da faixa presidencial argentina. "Atualmente, como estou em campanha o dia inteiro, eu me visto às oito da manhã e só tiro o Milei quando troco de roupa para tomar banho e ir dormir", contou Meireles ao UOL.

Ambos adotam frases em espanhol e slogan de Milei. O bordão "viva la libertad, carajo", popularizado pelo argentino durante sua campanha presidencial, é reproduzido pelos candidatos brasileiros em vídeos divulgados em suas redes sociais.

Regras relativas do TSE. Os nomes de urna foram levantados a partir de dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que permite o registro do "prenome, sobrenome, cognome, nome abreviado, apelido ou nome pelo qual [o candidato] é mais conhecido". O tribunal estipula ainda que "não se estabeleça dúvida quanto à identidade, não atente contra o pudor e não seja ridículo ou irreverente", conforme a legislação eleitoral.

Aprendi a falar espanhol aqui, em Canasvieiras [bairro turístico de Floripa], com 'los hermanos'. Mas eu ainda tenho um portunhol e, claro, aqui no Brasil nós temos que falar português. Então, essa brincadeira com um pouco do espanhol faz parte da composição do personagem.
Milei de Floripa

"O candidato não é um palhaço"

Empresário "libertário". Catarinense de 56 anos, Ademar Meireles se apresenta como empresário do mercado imobiliário e do setor educacional. Pelas redes sociais, também se diz economista, educador e, assim como o ultraliberal Javier Milei, "libertário".

Inspirado em "ícones da direita". Meireles afirma que o presidente da Argentina e o ex-presidente dos Estados Unidos o inspiraram a criar seu personagem de campanha. "Millei e Trump se transformaram em ícones da direita. (...) O que o Milei está fazendo na Argentina hoje está revolucionando. Ele é uma inspiração para todos nós".

Apelo popular de Milei em SC. Questionado se a representação do presidente argentino tem beneficiado a sua campanha, o empresário afirmou: "É impressionante o apelo popular, é como se fosse o Bolsonaro aqui no Brasil. (...) O Milei aqui em Santa Catarina é um superstar".

Choque familiar. Sobre chacotas ou críticas que passou a receber como sósia de Milei, o empresário afirma que "o pior é o que vem da família". "Incrivelmente, a família ficou apavorada. Eu, no início, também tive um pequeno choque porque era só uma brincadeira, mas, quando resolvi assumir o personagem para uma campanha eleitoral, isso fez toda diferença. Então, agora estou tranquilo e as pessoas vão entender que o candidato não é um palhaço", disse.

Em Santa Catarina, nós temos uma tradição de receber muito bem os argentinos. E quando saio na rua [vestido de Milei], dou tchau, aceno, [digo:] 'viva la libertad, carajo', o bordão dele, e tiramos fotos para caramba. É envolvente estar participando dessa campanha com esse apelo. E é um apelo de direita, limpo, um apelo cristão conservador.
Ademar Meireles, o "Milei de Floripa"

Cachê de R$ 5 mil

Milei da Paraíba. Em vídeo recente divulgado em seu perfil do Instagram, o paraibano Sósteni Bezerra, 58, aparece em uma montagem com duas gravações lado a lado. Em uma delas, está vestido com um traje comum. Na outra, como sósia do argentino. Intercalando as falas, ele se apresenta: "Eu sou o Sargento Sósteni. E eu sou Milei. Nós somos candidato a vereador em João Pessoa. Juntos, nós somos uma só pessoa. Somos Sósteni Milei".

Histórico militar. Bezerra se apresenta como sargento reformado da Polícia Militar e as propostas que divulga são, principalmente, em defesa da classe militar em João Pessoa.

Candidato foi preso em maio deste ano. Ao UOL o paraibano conta que passou quatro meses na prisão, após ter participado de uma manifestação contra o governo paraibano. Segundo ele, o ato reivindicava melhorias nas condições de trabalho da PM no estado.

"Mais prestígio do que Bolsonaro". Em depoimento enviado à reportagem, Bezerra afirma que é demandado para fotos "até por eleitores do PT, os chamados vermelhos". "Nunca vi na minha vida um argentino ser tão querido por aqui como Milei. Ele está com mais prestígio do que o Bolsonaro", disse.

"Estou ganhando até dinheiro com o Milei", afirma o candidato. O paraibano conta que, pelo sucesso que alcançou como sósia de Milei em João Pessoa, passou a ser contratado para interpretar o argentino em eventos festivos com cachês que podem chegar a R$ 5 mil.

Sósteni Bezerra, ou "Sósteni Milei", candidato pelo PL a vereador de João Pessoa (PB) Imagem: Arquivo pessoal

"Começou como um meme". "Isso aí começou quando Bolsonaro veio aqui para a Paraíba. Para tirar uma foto com ele, eu me vesti de Milei. Tudo começou como uma brincadeira e Milei hoje é uma realidade aqui em João Pessoa. Todo mundo quer tirar foto com o Milei e eu estou curtindo muito isso. É um meme da internet e todo mundo sabe que vai acabar, mas e enquanto não acabar?", disse Bezerra em um vídeo recente publicado em suas redes sociais.

As pessoas me contratam para ir aos seus aniversários, festas, shows, restaurantes, campos de futebol. Eu cobro um cachê e levo uma estrutura comigo, por exemplo, quatro seguranças figurantes, todos de terno e gravata e óculos escuros pra chamar ainda mais a atenção das pessoas.
Sósteni Milei

Eleitor pragmático

"Figuras mais folclóricas sempre existiram na política brasileira", avalia cientista político. Segundo Marco Antonio Carvalho Teixeira, doutor em ciências sociais pela PUC-SP e coordenador do Mestrado Profissional em Gestão e Políticas Públicas da FGV, na história das eleições no país "sempre houveram personagens que usaram figuras públicas, ou o sobrenome delas, para tentar impulsionar suas candidaturas".

"Fracasso retumbante". Ainda na avaliação de Teixeira, casos como os de "Milei de Floripa" e "Sósteni Milei" estão associados a uma possível "conexão ideológica". "Mas acho que vai ser um fracasso retumbante porque a gente tem que lembrar que eleição municipal tem a ver com demanda municipal. Ou seja, o que essas figuras levam para a base eleitoral delas, o que propõem para a região onde trabalham. O eleitor, em eleição municipal, é muito mais pragmático", conclui.

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