Lula do Bem, Querida Bolsonaro: candidatos usam Lula ou Bolsonaro nas urnas
As eleições municipais deste ano terão ao menos 237 candidatos com os nomes de "Lula" ou "Bolsonaro" nas urnas.
Quem são os candidatos
"Lula da Cachaça", "Lula do Bem", "Querida Bolsonaro" e "Negona do Bolsonaro" estão entre as escolhas. São 159 postulantes que levam o apelido do presidente petista e 78 que usam o sobrenome do ex-presidente. Os dados foram levantados pelo UOL a partir de registros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Levam o nome "Lula" 152 candidatos a vereador, quatro à prefeitura e três à vice-prefeitura. Do total, 135 são homens e 18 mulheres.
Entre os que levam "Bolsonaro" na campanha, estão 75 candidatos a vereador, um a prefeito e outros dois para vice-prefeito. Desses, 57 são candidaturas masculinas e 18 femininas.
TSE permite o registro do "prenome, sobrenome, cognome, nome abreviado, apelido ou nome pelo qual é mais conhecido". O tribunal estipula apenas que "não se estabeleça dúvida quanto à sua identidade, não atente contra o pudor e não seja ridículo ou irreverente", conforme a legislação eleitoral.
Poucos candidatos têm "Lula" ou "Bolsonaro" como sobrenome de registro. Das 237 candidaturas que levam o nome do presidente ou do ex-presidente nas campanhas, apenas duas têm "Lula" no sobrenome original. No caso de "Bolsonaro", são seis. Todos eles postulantes ao cargo de vereador.
Apoiadores de Lula?
"Lula", porém, pode ser apelido sem relação com o presidente. Isso porque parte das candidaturas que levam "Lula" às urnas têm nomes de registro como "Luiz", "Luciano" e "Aluízio", por exemplo.
Além disso, candidatos não necessariamente apoiam ou estão ligados a partidos da base dos políticos. No caso dos que levam "Lula" no nome, 30 são filiados ao PT, mas outras dezenas são de partidos mais à direita, incluindo 10 candidaturas do PL (Partido Liberal), de Jair Bolsonaro, e 15 do PP (Partido Progressistas).
"Lula do Bem" afirma não ter "relação alguma" com presidente brasileiro. Um dos casos mapeados pela reportagem que usa "Lula" nas urnas sem relação direta com o mandatário é Luiz Gustavo Matoso de Matos, do PL, que registrou "Lula do Bem" como nome de campanha. "A questão é que 'Lula' é meu apelido desde criança e, quando me envolvi com política, as pessoas não gostavam do meu apelido por questão de eu ser de direita, aí falavam: 'esse é Lula do bem'. Aí pegou", contou ao UOL.
Outros, porém, têm o presidente como referência política. É o caso de candidatos do PT, como "Vinicius LulaLivre", candidato a vereador em Alto do Paraíso (GO), e "Lula do Assentamento", postulante a vereança em Alto Alegre dos Parecis (RO) e dirigente do MST, que divulga em suas redes sociais diversas publicações de apoio ao presidente.
Nomes temáticos também são opção entre candidatos 'lulistas'. Entre eles estão "Lula da Cachaça", "Lula o Amigo de Sempre", "Lula Cavalgada", "Lula Pedreiro", "Lula do Ônibus", "Lula do Brejo" e "Jamilly de Lula do Transporte".
"Negona do Bolsonaro"
Entre os que levam o sobrenome do ex-presidente, estão 40 candidatos do PL. Apenas dois são do PSB, de centro-esquerda, e os demais de partidos do centrão ou direitistas.
Maioria leva "Bolsonaro" como suposto sobrenome. Alguns, porém, adotam uma lógica "temática", assim como parte dos lulistas. Entre eles, estão "Ratinho Mecânico Bolsonaro", candidato a vereador pelo Podemos em Japaratuba (SE), "Querida Bolsonaro", postulante ao legislativo de Oeiras do Pará (PA) pelo PL, e "Negona do Bolsonaro", candidata pelo PL à vereança no Rio de Janeiro.
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Quero receberOrigem conservadora. Segundo Vanessa da Silva Oliveira, que se apresenta aos eleitores como "Negona do Bolsonaro", a escolha do nome não foi "apenas para a campanha". "Desde que comecei a me envolver ativamente na política, coloquei esse nome nas minhas redes. Sempre me identifiquei muito com as pautas defendidas pelo presidente Jair Bolsonaro. (...) Esse nome sempre foi uma forma de deixar claro quais são os meus valores e em quem eu me inspiro", afirmou ao UOL.
Essa é uma maneira de mostrar quem eu sou de forma transparente e direta, conectando-me com aqueles que compartilham dos mesmos ideais. (...) Desejo promover o conservadorismo em sua essência, e promover também o livre mercado, ajudando as pessoas a se tornarem independentes e prósperas sem a dependência do Estado. Vanessa da Silva Oliveira, candidata do PL que usa "Negona do Bolsonaro" como nome de urna
"Caminho mais fácil" e pouco eficaz
Para cientista político, não há 'êxito' em estratégia eleitoreira. Segundo Marco Antonio Carvalho Teixeira, doutor em ciências sociais pela PUC-SP e coordenador do Mestrado Profissional em Gestão e Políticas Públicas da FGV, o uso do nome de políticos famosos em campanhas é "uma estratégia eleitoreira em que as pessoas buscam um caminho mais fácil para tentar traduzir isso em votos". Mas avalia: "não há exemplos de sucesso sem um vínculo de parentesco ou de legitimação".
Nomes justificados por "vínculos". "A gente tem exemplos de êxito, como a Valéria Bolsonaro [deputada estadual do PL em São Paulo], os três filhos do Bolsonaro, além do quarto [Renan], que sai concorrendo com o nome dele agora, mas isso só funciona com vínculos familiares ou próximos. Já tivemos o uso de 'Lula' mundo afora, e até de 'Bolsonaro' pelo país que a gente não vê muito êxito", segue o cientista político.
Esses usos têm de ter um vínculo que faz com que o nome principal ou a paternidade esteja ali como o laço legitimador do uso do sobrenome, se não, não acredito que uso de 'Lula' ou 'Bolsonaro', sem qualquer vínculo direto com os supostos padrinhos, implica em transferência eleitoral. Marco Antonio Carvalho Teixeira, em entrevista ao UOL.
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