Campanha de Tabata adota táticas usadas pela extrema direita contra Marçal
Colaboração para o UOL, em São Paulo
28/08/2024 05h30
A campanha eleitoral de Tabata Amaral (PSB) adotou táticas já usadas pela extrema direita em conteúdos contra Pablo Marçal (PRTB) com a intenção de 'desconstruí-lo', afirmou ao UOL News o estrategista da candidata, Pedro Simões. Ele, no entanto, negou que a campanha tenha mudado de tom ao publicar um vídeo em que Tabata insinua elo de Marçal com o PCC.
Os últimos vídeos acabaram chamando um pouco mais de atenção, então dá sensação de uma mudança de tom, mas na verdade esse confronto, inclusive, com o Pablo Marçal, mas também com o Nunes, já vem acontecendo desde a pré-campanha. Esses últimos vídeos, inclusive, partem de uma demanda da Tabata. Tudo que é dito ali estava no noticiário. Mas a Tabata tinha uma visão de que parte do eleitorado não estava sabendo, essas notícias não estavam chegando até eles, por isso a escolha de uma estética para chamar a atenção.
Essa é uma lição que a gente já devia ter aprendido nas últimas eleições. A grande commodity da comunicação eleitoral, que era a credibilidade na comunicação tradicional, mudou. Hoje, a grande commodity é a atenção, e o celular é uma máquina perfeita para sequestrar a atenção. Alguns políticos extremistas aprenderam isso mais cedo, mas está na hora do campo democrático reagir e agir de acordo com o que é a demanda do nosso tempo.
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São táticas que só a extrema direita estava usando de alguma maneira e é muito porque, talvez, esses candidatos que se colocam como outsiders, antissistema, tenham entendido mais rápido que o cenário de comunicação tradicional mudou, dão menos atenção a televisão. Bolsonaro foi eleito com segundos de televisão. Então, especialmente no caso do Pablo, que é um cara criado no ambiente digital, ele adota táticas que funcionam no ambiente digital. Não são táticas da extrema direita, são táticas que não estavam sendo utilizadas pelo campo democrático e que a gente precisa utilizar para conseguir falar com esse público.
Pedro Simões, estrategista da campanha de Tabata Amaral
Simões rebate tese que diz que ''dar palco'' a candidatos como Pablo Marçal amplificaria o que está sendo dito por eles.
Do ponto de vista estratégico, existe uma leitura simplista da eleição do Bolsonaro em 2018 que diz que ele foi eleito, porque deram palco a ele. Todo mundo que entende um pouco mais de política sabe que os movimentos eleitorais se dão por muitos fatores. Você tem um cenário muito complexo, desde crise, corrupção na Lava Jato, etc. São muitos motivos, mas algumas pessoas escolheram isolar esse fato como num laboratório dizer 'se não tivessem dado palco, ele não teria é sido eleito'.
E aí me parece que a partir dessa visão simplista constrói-se uma tese igualmente simplista. Uma tática igualmente simplista: 'não vamos dar palco para o Marçal, porque assim ele não vai crescer'. Vamos ser realistas, Marçal começou a pré-campanha com o maior palco de todos. Então, não faz sentido não dar palco para um extremista, o que vai acontecer é que o extremista vai falar o que quer, do jeito que quer.
Pedro Simões, estrategista da campanha de Tabata Amaral
Para Simões, é preciso confrontar políticos extremistas e ''jogar luz'' às propostas deles que, na sua avaliação, não são de interesse de boa parte da população.
Se a Tabata não tivesse confrontado Pablo em várias ocasiões, a história que ele estaria contando é a desse coach da prosperidade sem ter que explicar questões muito importantes para o eleitor. Então, me parece um equívoco. Em segundo lugar, parece também subestimar a inteligência do eleitor. A gente está vendo muitas coisas acontecerem pela primeira vez na política, mas não é normal que o candidato despreparado, que se diz antissistema, ganhe a prefeitura, porque a população mais pobre sabe o que um prefeito faz.
(...) Parece que é mais fácil assumir esse voto de protesto para quem é de classe alta e para quem é mais jovem, que é da natureza da juventude, e para homens também (...). A minha impressão é que dar palco ao Pablo Marçal é jogar luz ao Pablo Marçal e mostrar que aquilo que ele apresenta não é de interesse da maior parte da população.
Pedro Simões, estrategista da campanha de Tabata Amaral
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