Boulos não descarta aliança com centrão e rechaça uso de linguagem neutra
Do UOL, em São Paulo
29/08/2024 00h35Atualizada em 29/08/2024 07h17
O candidato à Prefeitura de São Paulo Guilherme Boulos (PSOL) negou a implementação de linguagem neutra na cidade caso seja eleito. Ele também não descartou a possibilidade de alianças com o centrão para governar a cidade.
O que aconteceu
Boulos disse que a linguagem neutra não será ensinada nas escolas em um eventual governo dele. "Não terá. Eu respeito quem utiliza, quem considera [a linguagem neutra], não acho que deve ser criminalizada, mas você tem que dialogar com a sensibilidade, com o conjunto da sociedade", disse o psolista em entrevista à Central da GloboNews.
O candidato voltou a responsabilizar uma produtora contratada pela campanha pelo episódio. Ele disse não ter percebido na hora em que o Hino Nacional foi cantado em linguagem neutra no comício de sábado (24). "Não foi orientação da nossa campanha. Nós tomamos a decisão de retirar o vídeo [do momento do hino], foi responsabilidade da empresa produtora", explicou. O episódio gerou críticas nas redes sociais e foi explorado por adversários contra o psolista.
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A produtora responsável pelo comício teve o contrato rompido pela campanha. A Zion Produções foi contratada para fazer eventos da candidatura e, em 23 de agosto, recebeu R$ 450 mil da campanha.
Boulos admite negociar cargos na prefeitura
O psolista negou que fará "loteamento" de cargos em um eventual governo, mas se disse disposto a dialogar com partidos do centrão. "Logicamente, se para se obter maioria na Câmara Municipal, precisar dialogar e ampliar com outros partidos, ninguém governa à força de pancada. Eu vou dialogar com quem for preciso", afirmou. Boulos ainda foi questionado sobre a participação do atual presidente da Câmara de Vereadores, Milton Leite (União Brasil) em sua gestão, mas se esquivou ao lembrar que ele não será candidato à reeleição.
"Quando você traz um partido para a base, não tem como fazer isso sem compartilhar algum espaço de governo", defendeu Boulos. O candidato afirmou, no entanto, não abrir mão de executar o "programa de governo eleito" e declarou que não será "leniente com nenhum tipo de esquema, como os que existem hoje na prefeitura".
Candidato disse que vai dialogar com espectros políticos diferentes. "Eu estive, no ano passado, entre os 10 deputados que mais aprovaram projetos. Tiveram votos do PSOL, do PT, mas do MDB, do União, do Republicanos. No Congresso, se você não dialogar, você não aprova nem mudança de nome de rua", disse. Ele voltou a dizer que vai se reunir com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que apoia a candidatura de Nunes, com o presidente Lula e o ministro da Justiça e Segurança Pública Ricardo Lewandowski para discutir o combate ao crime organizado na cidade.
Acusação de Marçal sobre uso de drogas
Boulos afirmou que Pablo Marçal (PRTB) quis impactar o resultado da eleição ao usar um homônimo para acusá-lo de uso de cocaína. "Ele queria jogar com essa confusão. Ele disse que soltaria (provas de que Boulos usaria drogas) isso no último debate, dois dias antes da eleição, logicamente, pra não dar tempo, pra jogar com a confusão, com a desinformação, Isso impacta, obviamente, o resultado eleitoral", criticou. Ainda segundo Boulos, Marçal fez isso de "má fé".
Reportagem da Folha de S. Paulo mostrou que Marçal usa um processo que, na verdade, tem como réu um candidato a vereador em São Paulo pelo Solidariedade. Trata-se de Guilherme Bardauil Boulos - o nome completo do candidato a prefeito é Guilherme Castro Boulos. Ainda segundo a reportagem, Marçal usa uma lista de processos buscados na Justiça apenas com o filtro das palavras-chave "Guilherme" e "Boulos", e não pelo CPF, por exemplo. O resultado disso é uma listagem sem detalhamento.
Estigma de radical e rejeição
O candidato a prefeito tentou durante a entrevista afastar o estigma de radical. "A nossa campanha tem crescido apesar de um bombardeio de fake news nas redes sociais, de um bombardeio de uso da máquina pública por parte do prefeito. Minha rejeição está ligada à caricatura que fizeram ao meu respeito e eu tenho o desafio de desfazer isso", reconheceu.
Segundo o último Datafolha, Boulos é o mais rejeitado entre os candidatos. De acordo com o levantamento, 37% dos entrevistados dizem que não votariam nele de jeito nenhum. Já a pesquisa Quaest divulgada nesta quarta (28) mostrou que ele tem a segunda maior rejeição (45%), superado apenas por José Luiz Datena (PSDB), com 56%
Boulos afirmou ter orgulho do passado no MTST e atacou Marçal e Nunes ao indagar se ambos se orgulham de suas trajetórias. "Se o Ricardo Nunes se orgulha de máfia da creche, se orgulha de ter sido levado para delegacia por dar tiro em porta de boate. Se o Pablo Marçal se orgulha de ter sido preso e condenado por golpe contra aposentados, de ter um monte de gente do tráfico de drogas no seu entorno", disse.
Aliança com o PT
Boulos defendeu aliança com o PT, apesar das críticas feitas ao partido no passado. Em uma entrevista em 2019, ele reconheceu que houve corrupção nos governos do partido e disse em outras ocasiões ter "críticas contundentes" às gestões petistas. "Aliados terem críticas entre si não é o problema. O presidente Lula tem como vice-presidente o Geraldo Alckmin. Houve várias críticas eleitorais e eles se juntaram pra salvar a democracia brasileira", afirmou.
Boulos reconheceu que o PSOL, que nasceu como crítico ao PT, ficou mais pragmático. Mas negou que isso signifique incoerência. "Quando começa a ficar em risco a estabilidade democrática, quando não há mais polarização entre ideias, mas entre quem quer democracia e quem quer golpe, é básico você tomar um lado. É o que gerou a aproximação não só do PSOL com o PT, mas também do Alckmin com o Lula", defendeu.