Boulos tenta suavizar imagem de radical com família e 'coligação do amor'

Candidato à Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL) tenta se descolar da pecha de "radical", que afasta eleitores desde sua candidatura em 2020, com estratégias que vão desde mostrar ao público o lado "família" até a escolha da palavra "amor" como mote da coligação.

O que aconteceu

Campanha tenta apresentar Boulos para além do que ele é conhecido tradicionalmente. O psolista ficou marcado pela trajetória como militante do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) — o que também é usado como munição pelos adversários na corrida eleitoral.

A equipe do deputado tem explorado as formações como professor e psicanalista. "Muitas pessoas não sabem que ele tem essas experiências profissionais", afirma um interlocutor de Boulos. Vídeos com depoimentos de ex-alunos foram publicados nos perfis das redes sociais do candidato.

Publicações incluem filhas e esposa de Boulos. Em junho, o deputado mostrou uma surpresa de aniversário que recebeu. De bermuda, chinelo e camiseta básica, ele aparece na porta de casa assoprando as velas de um bolo. Em um carro de mensagens, a esposa Natalia Szermeta se declara e diz: "Parabéns, amor, a gente passa até vergonha juntos". Um outro vídeo mostra a sua filha mais nova chamando o pai de "cringe" (termo usado pela geração Z para dizer que algo é ultrapassado).

Em entrevistas e discursos, Boulos também reforça a imagem de pai. Ele já disse que pensou em desistir da vida política após suas filhas sofrerem ofensas na escola. "Chegaram em casa chorando, falando que não queriam ir pra escola porque se juntaram e falaram pra elas que o pai era ladrão, terrorista e invadia a casa dos outros", contou em entrevista ao "Desculpa Alguma Coisa", videocast de Universa.

Para a campanha, desmentir declarações de adversários faz parte do pacote de ações para combater a "caricatura" criada por adversários sobre Boulos. Recentemente, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) chamou o psolista de "invasor" e "vagabundo". Dias depois, Boulos se reuniu com a presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Cármen Lúcia, para falar de fake news, deep fake e pedir uma resposta mais rápida da Justiça Eleitoral. O deputado protocolou uma ação contra as falas de Nunes.

Maturidade, serenidade e preparação para atrair eleitorado de centro. Segundo interlocutores da campanha, a estratégia é explorar "características de Boulos" que podem suavizar a imagem de radical. A ideia é obter votos de eleitores que rejeitam Nunes pela aliança com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), mas hesitam migrar para o psolista pelo passado no MTST.

Busca pelo voto jovem também está no caminho da equipe do candidato. Durante a convenção, Boulos entregou "pulseirinhas da amizade" para o presidente Lula, a primeira-dama Janja, o ministro Fernando Haddad (PT) e as ex-prefeitas Marta Suplicy (PT) e Luiza Erundina (PSOL). O ato se popularizou entre os fãs da cantora Taylor Swift como uma forma de celebrar a união.

Nos últimos meses, o deputado reforçou encontros com empresários e agentes da segurança pública. A campanha também escalou interlocutores para conversar com o empresariado. A principal delas é sua candidata a vice Marta Suplicy, que tem tido encontros regulares com a elite financeira para aproximá-la de Boulos.

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Boulos aparece com 23% das intenções de voto, empatado tecnicamente com Nunes (24%), de acordo com o último Datafolha. Já na Quaest divulgada na terça-feira (30), os adversários ficam empatados também com o apresentador José Luiz Datena (PSDB).

'Coligação do amor'

Boulos recorre a símbolos usados por Lula em 2022. O nome da coligação que apoia a chapa Boulos-Marta (PT), "Amor por São Paulo", relembra frases usadas nas eleições presidenciais como "o amor vai vencer o ódio" e "a esperança vai vencer o medo" — os slogans eram usados como oposição ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

O psolista tem tentado reavivar a disputa bolsonarismo x lulismo para ganhar espaço. O candidato investe na associação de Nunes com o ex-presidente. Pesquisas de intenção de voto mostram que, em diferentes cenários no segundo turno, Boulos só vence o prefeito quando é apresentado como apadrinhado de Lula.

"Não dá pra ser um candidato só da esquerda", diz o deputado Simão Pedro (PT), um dos coordenadores da campanha de Boulos. Para o parlamentar, a busca por uma identidade visual menos petista ou psolista mostra preocupação em atingir outros eleitorados. "Boulos vem buscando ampliar o eleitorado, dialogar com outros setores", afirma. O psolista tem dito que lidera uma frente ampla de partidos e setores da sociedade para derrotar o bolsonarismo na cidade — as siglas da coligação, entretanto, são majoritariamente de esquerda.

A identidade visual da campanha vai combinar a marca "Amor por São Paulo" com fundos de variadas cores, como branco, preto, verde e laranja. A ideia é suavizar a presença do vermelho, amarelo e roxo, cores do PT e do PSOL, respectivamente. O uso das cores tem similaridade com a campanha de Lula, que amenizou o vermelho. O então candidato incluiu verde e amarelo, cores da bandeira nacional, usados principalmente pela direita.

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Lula Guimarães, marqueteiro de Boulos, fala em "pluralidade". "A marca 'Amor por São Paulo' usada na convenção reflete a pluralidade que a campanha de Boulos representa. A união de várias forças em torno de um projeto inovador. Além disso, São Paulo é acolhedora e diversa. Este espírito deverá estar presente também na comunicação da campanha", disse ao UOL. O gesto de fazer o coração com a união das duas mãos também será um símbolo da chapa Boulos-Marta.

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