OPINIÃO
Boulos explora tensão e 'colas' de Nunes em última blitz no debate da Globo
Matheus Pichonelli
Colunista convidado
26/10/2024 00h24Atualizada em 26/10/2024 00h24
Guilherme Boulos (PSOL) usou o debate da TV Globo, o último da campanha à Prefeitura de São Paulo, para fazer o que precisava: partiu para cima de Ricardo Nunes (MDB) e tentou como pode desgastá-lo para diminuir a vantagem apontada pelas pesquisas de intenção de voto.
O deputado reciclou em uma hora e meia a estratégia de todo o segundo turno. Tentou colar em Nunes a imagem de prefeito fraco, sem pulso e energia (o trocadilho aqui não era acaso) para peitar a Enel. E criticou privatizações de empresas como a de serviços funerários do município.
Diversas vezes ele ironizou um certo nervosismo do rival, a quem chamou de "duas caras" por defender a vacinação e depois elogiar a atuação na pandemia de Jair Bolsonaro (PL), que já associou imunização à contaminação por HIV.
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Em um bloco em que o tema era saúde e Nunes já tinha queimado o banco de tempo, ele empilhou acusações relacionadas à gestão Nunes: contratos suspeitos com empresas de amigos, compras supostamente superfaturadas em programas de combate à dengue e até distribuição de água no Carnaval.
Citou ainda a chamada "máfia das creches", a presença do cunhado de Marcos Camacho, o Marcola, na prefeitura, e voltou a desafiá-lo a abrir o sigilo bancário.
Nunes, como diz o jargão futebolístico, estacionou o ônibus na defesa.
Passou o debate dizendo que o adversário estava lá para atacar e não discutir a cidade. E citou todas as vezes que ganhou na Justiça o direito de resposta contra o que chamou de mentiras do adversário. Lamentou apenas que a mesma Justiça não poderia fazer o mesmo em um debate em tempo real.
A certa altura, sacou do bolso um papel para ler um boletim de ocorrência em que o deputado era citado por confrontar a PM durante uma desocupação. Foi advertido pelo mediador, César Tralli, mas conseguiu ler o documento e questionou os espectadores se eles queriam mesmo um prefeito "com esse histórico de vida".
Boulos disse que foi enquadrado por lutar ao lado de famílias sem-teto. E trouxe à baila a acusação de que o hoje prefeito já foi investigado por descarregar um revólver em frente a uma balada em Embu das Artes.
O deputado ironizou ainda o uso de "cola" pelo rival. Disse que Nunes não sabia andar de bicicleta sem rodinha. Uma roda, afirmou, era o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos); a outra, o presidente Jair Bolsonaro (PL).
"Se tirar ele cai", disse ele.
"Quem é você?", respondeu Nunes, já demonstrando impaciência e tentando a todo custo associar Boulos à defesa da liberação das drogas, do aborto e da desmilitarização. Outra tática foi questionar o adversário sobre temas como o "arcabouço fiscal", no intuito de mostrar que Boulos não tinha experiência nem conhecimento sobre administração.
Mas foi ironizado toda vez que gaguejava ou demonstrava nervosismo enquanto andava pelo palco. O sorriso de deboche de Boulos toda vez que o prefeito se enroscava certamente agradou quem já simpatiza com o psolista, mas pode ter soado como arrogância a quem pensava na possibilidade de mudar o voto a essa altura do campeonato.
No fim, a vantagem apontada pelas pesquisas de intenção de voto permitia a Nunes perder por pouco. E foi o que aconteceu.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL