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Irã sedia conferência de desarmamento nuclear; para especialistas, evento é contraponto aos EUA

Talita Boros <br> Do UOL Notícia <br> Em São Paulo

17/04/2010 07h37

Quatro dias depois do fim de uma conferência nuclear organizada por Barack Obama, em Washington, é a vez do Irã sediar neste sábado (17) e domingo (18) um encontro sobre desarmamento nuclear na capital Teerã. A cúpula de Mahmoud Ahmadinejad, chamada de "Armas nucleares para ninguém; energia nuclear para todos" não serve apenas como resposta aos Estados Unidos, mas sim como tentativa de mostrar ao mundo um contraponto à visão americana, segundo especialistas ouvidos pelo UOL Notícias.

“O mundo está ouvindo uma única tendência, e essa conferência em Teerã vem para mostrar o outro lado da moeda da política energética nuclear”, disse Mohamed Habib, professor especialista em geopolítica e Oriente Médio, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

Gunter Rudzit, coordenador do curso de Relações Internacionais da Faap, concorda que a conferência promovida por Ahmadinejad tem o intuito de mostrar outras visões além de Washington, mas destaca que o maior objetivo é provar que o Irã não está isolado. “Servirá apenas como uma disputa por imagem (entre os EUA e o Irã) e para mostrar quem tem mais aliados. Nada mais”, ressaltou.

O Irã é acusado pelos Estados Unidos e aliados ocidentais de levar o desenvolvimento de tecnologia nuclear para a aquisição de armamentos nucleares. O país muçulmano nega o enriquecimento de urânio para fins militares e ressalta que servirá apenas como matriz energética.
 

 

O governo de Obama e de países da União Europeia apoiam sanções comerciais e econômicas ao Irã caso o país mantenha a posição no programa nuclear. O Brasil defende o diálogo com o governo iraniano e se mantém contra as sanções.

Em entrevista à televisão estatal do país, o principal negociador nuclear iraniano, Saeed Jalili, afirmou que “o Irã é um país que está apoiando o desarmamento global, convida o mundo a se desarmar e evitar a proliferação.”

Na opinião de Habib, é exatamente isso que está por vir dos dois dias de reunião em Teerã. “Acredito que o governo vem mostrar seu projeto de desenvolvimento e investimento em energia nuclear para fins pacíficos. Além de abrir diálogo para o desenvolvimento de um tratado para banir definitivamente as armas nucleares, inclusive de quem já as desenvolve.”

Os líderes dos países que participaram da cúpula nos Estados Unidos fecharam um acordo que prevê manter em segurança os materiais nucleares vulneráveis no mundo todo em um prazo de quatro anos. O objetivo é evitar que esses materiais caiam nas mãos de terroristas.

De acordo com a Nars, agência de notícias do Irã, representantes de mais de 60 países, bem como de várias entidades internacionais e organizações não-governamentais, estarão presentes na conferência em Teerã. Apesar do anúncio, o governo iraniano não liberou a lista dos presentes.

Rudzit não acredita que a cúpula nuclear iraniana deva estabelecer uma nova diretriz para a discussão nuclear e aponta que o encontro deve ser encerrado com declarações panfletárias. “Na prática, acredito que de nada servirá esse encontro”, finalizou.

Veja quais foram os pontos acordados na cúpula em Washington:

Fortalecer a segurança nuclear e reduzir a ameaça do terrorismo nuclear
Realizar ações nacionais e impulsionar a cooperação internacional para evitar o terrorismo nuclear
Apoiar as iniciativas do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, de dar mais segurança aos materiais nucleares vulneráveis nos próximos quatro anos
Evitar que "atores não-estatais" mal intencionados obtenham tecnologias para usar materiais nucleares
Promover medidas para garantir a segurança do urânio altamente enriquecido e do plutônio, materiais básicos usados na construção de armas nucleares
Reafirmar o papel central da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) no cenário global de segurança nuclear
Cooperar para evitar e responder ao tráfico nuclear ilegal
Apoiar práticas de segurança nuclear fortes que não infrinjam os direitos dos estados de desenvolver e utilizar a energia nuclear.