Milei bloqueia projetos e faz ofensiva contra Mercosul
O governo de Javier Milei vem atuando nos bastidores para desmontar instituições e projetos sociais no Mercosul, bloqueando a expansão de iniciativas e deixando claro que pretende promover um esvaziamento do bloco.
O argentino não irá à cúpula do Mercosul, nesta semana em Assunção. Um golpe a um projeto de integração estabelecido nos anos 80 e com um valor estratégico para o processo de redemocratização tanto do Brasil como da Argentina.
Fontes diplomáticas tanto em Buenos Aires como em Brasília confirmam que a ausência de Milei não é apenas um ato isolado. Desde que assumiu o governo na Argentina, o novo presidente tem instruído seus negociadores a bloquear avanços sociais e de direitos humanos no bloco.
Um dos alvos de Milei é o Instituto de Cidadania, estabelecido justamente para dar um componente social e de direitos humanos ao processo de integração. Em reuniões, os diplomatas argentinos têm freado ações e planos nesse sentido.
O governo de Buenos Aires também vetou a criação de um grupo de trabalho que estudaria a relação entre o comércio e mulheres, num esforço para ampliar a participação e empoderamento das mulheres em setores estratégicos da economia.
Sinais de que um endurecimento dessa postura também puderam ser registrados durante uma recente reunião da OEA (Organização dos Estados Americanos), no Paraguai. No encontro, o governo argentino vetou referência aos temas relacionados com gênero e mulheres, repetindo o padrão usado pelo ex-chanceler de Jair Bolsonaro, Ernesto Araújo, nos organismos internacionais.
Lula atuará pela preservação do bloco
A cúpula do Mercosul, portanto, será o primeiro palco no qual ficará claro que há choque de visões sobre o destino da região e do processo de integração. Por enquanto, Milei não toca nos acordos de tarifas e de união aduaneira do bloco. Mais alguns sinais apontam que não haveria garantias de que tudo seria preservado.
Nas últimas semanas, Milei tem vetado a nomeação de argentinos para o Focem, o Fundo para a Convergência Estrutural do Mercosul. Trata-se de um arranjo financeiro para garantir créditos na região e reduzir as disparidades entre os países do bloco.
Diplomatas confirmaram ao UOL que Lula vai usar o encontro para atuar como uma espécie de "garantidor" da existência e relevância do bloco. A fala do brasileiro irá na direção de defender a preservação das instituições criadas nas últimas décadas.
O Palácio do Planalto acredita que a prioridade do Brasil deva ser ampliar a relação com o Sul Global, em especial com outras potências emergentes pelo mundo.
Mesmo assim, os avanços de mais de 30 anos do Mercosul não poderiam ser desmontados e, para uma eventual integração regional, a preservação do bloco do Cone Sul é considerada estratégica.
A adesão formal da Bolívia ao bloco também será usada por Lula como um sinal do fortalecimento e da expansão da iniciativa que teve sua origem ainda nos anos 80.
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