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Medo faz brasileiros que moram na Tailândia abandonarem região dos confrontos

"Camisas vermelhas" são detidos pela polícia tailandesa durante confronto em Bancoc - Vincent Yu/AP
"Camisas vermelhas" são detidos pela polícia tailandesa durante confronto em Bancoc Imagem: Vincent Yu/AP

Talita Boros <br> Do UOL Notícias <br> Em São Paulo

14/05/2010 11h19

Os brasileiros que moram em Bancoc, capital da Tailândia, contaram ao UOL Notícias que vivem com medo desde o início dos confrontos entre o Exército e os manifestantes oposicionistas “camisas vermelhas”. “O dia-a-dia está diferente, o trânsito mais complicado e as pessoas não saem mais de casa. Todos estão sofrendo com essa situação”, disse a recifense Ana Lasavanich, que mora no país há mais de 20 anos.

A região do centro de bancoc, onde fica o acampamento dos “camisas vermelhas” e os confrontos são mais intensos, é uma área comercial da capital onde os grandes shoppings estão localizados e muito frequentada pela população. Com os bloqueios feitos pelas forças de segurança, muitas lojas, hotéis e restaurantes permanecem fechados há mais de um mês.

Odalea Novais Freire, de Fortaleza (CE), mora na Tailândia há cinco anos e é presidente da associação de brasileiros que vivem no país. Segundo ela, quatro famílias brasileiras que residem na região do centro deixaram suas casas e estão há duas semanas morando em hotéis. “Está complicado. O pior é a sensação de que a qualquer momento alguma coisa vai acontecer”, disse.

Raio-x da Tailândia

  • Nome oficial: Reino da Tailândia
    Capital:
    Bancoc
    Tipo de Governo: Monarquia Constitucional
    População:
    65.998.436
    Idiomas:
    Tailandês, inglês, dialetos étnicos e regionais
    Grupos étnicos:
    Tailandeses 75%, chineses 14% e outros 11%
    Religiões:
    Budistas 94,6%, muçulmanos 4,6%, cristãos 0,7%, outros 0,1%
    Fonte: CIA Factbook

Segundo Odalea, muitos brasileiros já passaram por alguma situação de risco desde o início dos conflitos. “Quando confrontos maiores vão acontecer, a população é avisada para evitar os locais mais perigosos. Mesmo assim estamos receosos já que pequenas ocorrências, como tiroteios ou explosões de bombas, acontecem com frequência e não são previstas”, contou.

De acordo com as brasileiras, embora a situação esteja mais complicada para quem mora ou trabalha na região central de Bancoc, a tensão mudou completamente a vida da maioria das pessoas que moram na capital. Segundo a Embaixada do Brasil, cerca de 200 brasileiros moram no país.

Parte da linha elevada de metrô, conhecida como “Skytrain”, principal meio de transporte dos moradores de Bancoc, é fechada constantemente e cada vez mais os bloqueios em ruas da cidade aumentam.

“Direto vamos embora antes do trabalho ou não saímos de casa depois de alertas de confronto”, contou Odalea. “Nesse tempo todo que moro aqui já passei um golpe de Estado e outras situações complicadas, mas nunca tivemos tantos problemas quanto agora”, completa Ana.

Brasil fecha embaixada

A falta de segurança na zona central de Bancoc e um possível conflito entre as forças militares e os oposicionistas “camisas vermelhas” fizeram a Embaixada do Brasil na Tailândia fechar as portas nesta sexta-feira (14). As embaixadas dos EUA e Reino Unido permanecem fechadas desde ontem.

Segundo o encarregado de negócios da embaixada brasileira, Mathias Vilhena, o edifício da embaixada fica a uma quadra do bloqueio montado pelos militares ao redor do acampamento dos manifestantes. A decisão de fechar o órgão ocorreu momentos antes de um violento confronto começar, onde uma pessoa morreu, de acordo com Vilhena.

De acordo com Vilhena, o edifício da Embaixada do Brasil na Tailândia pode ser reaberto a partir de segunda-feira (17), dependendo da situação e da segurança do local.

Cerca de 200 brasileiros moram permanentemente na Tailândia. A maior parte deles, fora da região do centro de Bancoc, região mais crítica da capital. Segundo Vilhena, a situação é bem mais tranquila nas demais áreas da cidade e nos bairros residenciais.

A embaixada recomenda aos turistas e moradores brasileiros  que evitem o centro de Bancoc e a região nordeste da Tailândia nos próximos dias. De acordo com Vilhena, na embaixada, a maior procura por informações sobre a situação do país vem de turistas brasileiros que têm planos de viajar para a Tailândia.

O estado de emergência foi decretado na capital do país e nas seguintes províncias: na região central do país - Nonthaburi, Samut Prakan, Pathum Thani, Nakhon Pathom e Ayutthaya; na região nordeste - Udon Thani, Chaiyaphum, Khon Kaen, Nakhon Ratchasima e Si Sa Ket; na região norte: Chiang Mai, Chiang Rai, Nan, Lampang e Nakhon Sawan; na região leste - Chon Buri.

A embaixada também aconselha prudência caso as forças de segurança adotem medidas para desalojar os "camisas vermelhas" da área onde estão acampados, no centro financeiro de Bancoc.

Todas as recomendações aos brasileiros que moram ou pretendem viajar para a Tailândia estão no site da embaixada. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone do órgão 00xx662 679-8567 ou no número de plantão 00xx6681 906-4238.

Conflitos

Desde os conflitos iniciados ontem dez pessoas morreram e mais de 100 ficaram feridas na Tailândia. Entre os feridos está o general Khattiya Sawasddipol, importante integrante dos "camisas vermelhas".

A violência de hoje na capital da Tailândia foi provocada por uma operação militar durante a manhã. O Exército avançou por uma avenida ocupada por 2 mil oposicionistas.

Os militares usaram bombas de gás lacrimogêneo contra os manifestantes e um ônibus do Exército foi incendiado. Tiros também foram ouvidos no parque Lumpini.

Ontem, as forças armadas da Tailândia anunciaram a intenção de recuperar pela força o controle do centro da capital e os conflitos se intensificaram.

A capital do país está afundada na violência, depois de 10 dias nos quais as negociações pareciam ter prevalecido entre o premier Vejjajiva e os líderes "vermelhos", ligados ao ex-primeiro-ministro Thaksin Shinawatra, atualmente no exílio.

Shinawatra pediu hoje que o governo retire as tropas das ruas e retome as negociações com os manifestantes. "Acredito que uma solução política continua sendo possível na Tailândia, e o primeiro-ministro pode evitar que existam mais vítimas e pode salvar o país", afirmou Shinawatra em um comunicado divulgado por seu conselheiro jurídico em Bancoc.

Shinawatra governou a Tailândia durante cinco anos, mas foi deposto em 2006 por um golpe de Estado. Os partidários dele protestam há dois meses contra o atual governo e exigem a renúncia do primeiro-ministro.

Essa é a pior crise política no país em quase duas décadas e mais de 30 pessoas já morreram e outras 1400 ficaram feridas em confronto com as forças do Estado.