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Militares restabelecem ordem em Bancoc; governo amplia toque de recolher até domingo

Cerca de 35 prédios de Bancoc foram incendiados, segundo autoridades; <b>veja mais fotos</b> - Bay /AFP
Cerca de 35 prédios de Bancoc foram incendiados, segundo autoridades; <b>veja mais fotos</b> Imagem: Bay /AFP

Do UOL Notícias*

Em São Paulo

20/05/2010 10h15

O governo da Tailândia anunciou nesta quinta-feira (20) que estendeu o toque de recolher em Bancoc até domingo, depois da ofensiva militar de quarta-feira contra os manifestantes que se opõem ao governo.

Segundo as autoridades, o toque de recolher também foi estendido em 23 das 75 províncias, como já tinha ocorrido ontem. A capital Bancoc vive o toque de recolher no período noturno, das 21h (11h em Brasília) até as 5h de sexta-feira (15h em Brasília).

O Exército tailandês restabeleceu hoje a ordem após uma longa noite de saques e incêndios em Bancoc. Quase 24 horas depois de atacarem a base dos "camisas vermelhas", situada no coração comercial da capital, as tropas acabaram com os últimos focos de resistência colocando fim a seis semanas de ocupação e mais de dois meses de protestos, segundo a agência de notícias EFE.

"Em geral, a situação está sob controle", disse o porta-voz do Exército, coronel Sansern Kawekamnerd.

Os soldados também desalojaram cerca de cinco mil manifestantes que se refugiaram no mosteiro budista de Pathum Waranan, onde foram encontrados seis corpos baleados durante os enfrentamentos mantidos entre as forças do governo e os "camisas vermelhas" após os líderes do grupo terem se rendido.

Os manifestantes, com todos os seus pertences, foram levados para as estações de ônibus e de trem da cidade e ganharam um bilhete só de ida para as suas aldeias de origem.

A maior parte deles são das províncias do norte e do nordeste, onde aconteceram alguns incidentes isolados durante à noite. Na cidade turística de Chiang Mai a Polícia desmontou as barricadas levantadas no dia anterior pelos "camisas vermelhas" pela manhã sem encontrar resistência.

Estoques de comida
Preocupada com a situação dos brasileiros no país, a Embaixada do Brasil na Tailândia atualizou seus alertas nesta quinta-feira (20), recomendando que os brasileiros em Bancoc evacuem suas famílias e estoquem comida.

“Diante do agravamento da situação em Bancoc a partir de 14 de maio corrente, a embaixada sugere a quem estiver na capital tailandesa limitar os deslocamentos fora de casa àqueles que sejam necessários”, afirma a nota divulgada pelo site da representação brasileira na Tailândia.

“A embaixada recomenda aos residentes em Bancoc estocar alimentos enlatados, água engarrafada e outros itens de primeira necessidade como medicamentos. Há notícia de que foi cortado o suprimento de energia em algumas partes da cidade. Nessas condições, é prudente estocar também pilhas para lanternas”, acrescenta.

“Recomenda-se, igualmente, manter em casa algum dinheiro vivo para eventuais necessidades, à luz de relatos de que caixas eletrônicas em alguns pontos da cidade teriam sido arrombadas”, informa.

A embaixada continua fechada, sem previsão de reabertura, e mesmo os funcionários foram afetados pela violência. Segundo a BBC, o quadro de incertezas fez com que dois dos funcionários da embaixada brasileira fossem removidos de suas casas nesta quarta-feira.

“Tivemos que deixar a embaixada às pressas, às 12h30, por ter sido montado um bloqueio militar na avenida Rama 4, quase em frente ao prédio”, disse à BBC Brasil o ministro-conselheiro Matias Vilhena, encarregado de negócios na embaixada durante a ausência do embaixador, Edgard Telles Ribeiro.

Segundo Vilhena, a saída teve de ser feita pela porta dos fundos, em uma rua que teve a mão invertida especialmente para a evacuação do prédio.

Perdas e prejuízos
Apesar da melhora significativa da violência no país, as agências internacionais informam que ainda havia prédios em chamas em Bancoc nesta quinta-feira. De acordo com o governo, cerca de 35 edifícios foram incendiados desde ontem em Bancoc, mesmo depois que as principais lideranças dos oposicionistas se renderam e decretaram a rendição do movimento.

As autoridades tailandeses temem que o shopping center Central World, um dos maiores do sudeste asiático, possa ruir depois de ter sido incendiado pelos manifestantes, segundo a agência de notícias AFP.

A Bolsa de Valores de Bancoc também foi incendiada e permanecerá fechada nesta quinta e sexta-feira. Vários bancos em outras partes do país também permanecerão fechados.

Ônibus voltaram a circular na capital nesta quinta-feira pela manhã e os canais de TV continuaram exibindo apenas programas pré-aprovados pelo governo.

Apesar disso, o setor turístico da Tailândia deixará de receber até 120 bilhões de bats (US$ 3,7 bilhões) em 2010 por conta das manifestações, informou a Federação Tailandesa de Indústrias do Turismo. O presidente da entidade, Kongkrish Hiranyakij, assinalou em Bancoc que "a crise política afugentará o turismo e o número de chegadas de estrangeiros esse ano deve cair por volta de 10%, até 12,7 milhões (de visitantes)".

Hiranyakij calculou que o setor receberá em torno de 480 bilhões de bats (US$ 14,8 bilhões), em vez dos 600 bilhões estimados anteriormente.

Na terça-feira passada, o titular tailandês de Turismo e Esportes, Chumpol Silapa-archa, declarou que o número de visitas de turistas tinha diminuído mais de 50% por conta das recomendações de dezenas de países a seus cidadãos para que não viajassem à Tailândia.

O ministro destacou que o número de chegadas diárias ao aeroporto de Suvarhabhumi, o principal do país, em Bancoc, tinha caído de 30 mil a 20 mil desde o início dos conflitos. Segundo o ministro, se a tendência seguir, o número de turistas que visitarão a Tailândia em 2010 será de aproximadamente 14,1 milhões, em vez dos 15,5 milhões previstos anteriormente.

Resistência
Mesmo com a relativa paz na capital do país, em outras regiões ainda há explosões de violência, principalmente na região nordeste, onde pelo menos uma prefeitura, a de Udon Thani, teria sido incendiada.  Na região norte, em Khon Kaen e Chiang Mai, as sedes dos governos locais também teriam sido depredadas, de acordo com a AFP.

O Departamento de Estado americano lamentou a violência e pediu calma aos dois lados.

O presidente do Parlamento Europeu, Jerzy Buzek, afirmou que a reconciliação nacional "não é mais apenas uma opção, mas é absolutamente obrigatória", disse à BBC.

Histórico
Os camisas vermelhas - um agrupamento de ativistas de esquerdas, intelectuais e camponeses fieis ao primeiro-ministro deposto Thaksin Shinawatra - ocupavam pacificamente o distrito comercial de Bancoc desde março passado, obrigando o fechamento de lojas e hotéis.

A crise política no país começou após o golpe militar em 2006 que depôs o então presidente Thaksin Shinawatra, acusado de corrupção, depois de cinco anos no governo.

Desde então, o país teve uma sucessão de governos. Os camisas vermelhas consideram o atual governo ilegítimo e querem novas eleições. Cerca de 40 pessoas morreram nos confrontos desde que as tropas do Exército cercaram os manifestantes na semana passada. Os 15 mortos desta quarta-feira elevam para 84 o número de pessoas que perderam a vida desde o início das manifestações dos "camisas vermelhas" em meados de março. Cerca de 1,8 mil ficaram feridos nos confrontos.

*Com informações da agências internacionais