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Tailândia amplia toque de recolher até domingo; Embaixada do Brasil recomenda limitar deslocamentos em Bancoc

Cerca de 35 prédios de Bancoc foram incendiados, segundo autoridades; <b>veja mais fotos</b> - Bay Ismoyo /AFP
Cerca de 35 prédios de Bancoc foram incendiados, segundo autoridades; <b>veja mais fotos</b> Imagem: Bay Ismoyo /AFP

Do UOL Notícias*

Em São Paulo

20/05/2010 09h14

O governo da Tailândia anunciou nesta quinta-feira (20) que estendeu o toque de recolher em Bancoc até domingo, depois da ofensiva militar de quarta-feira contra os manifestantes que se opõem ao governo.

Segundo as autoridades, o toque de recolher também foi estendido em 23 das 75 províncias, como já tinha ocorrido ontem.

Na capital Bancoc o clima ainda é de muita tensão e de conflitos esparsos em várias regiões da cidade, que desde ontem vive o toque de recolher no período noturno, das 21h (11h em Brasília) até as 5h de sexta-feira (15h em Brasília).

Ainda há vários “bolsões” de resistência na cidade e a polícia e os soldados do Exército foram recebidos a tiros quando tentaram entrar em um templo onde os manifestantes “camisas vermelhas” procuravam abrigo, segundo a agência EFE. 

Estoques de comida
Preocupada com a situação dos brasileiros no país, a Embaixada do Brasil na Tailândia atualizou seus alertas nesta quinta-feira (20), recomendando que os brasileiros em Bancoc evacuem suas famílias e estoquem comida.

“Diante do agravamento da situação em Bancoc a partir de 14 de maio corrente, a embaixada sugere a quem estiver na capital tailandesa limitar os deslocamentos fora de casa àqueles que sejam necessários”, afirma a nota divulgada pelo site da representação brasileira na Tailândia.

“A embaixada recomenda aos residentes em Bancoc estocar alimentos enlatados, água engarrafada e outros itens de primeira necessidade como medicamentos. Há notícia de que foi cortado o suprimento de energia em algumas partes da cidade. Nessas condições, é prudente estocar também pilhas para lanternas”, acrescenta.

“Recomenda-se, igualmente, manter em casa algum dinheiro vivo para eventuais necessidades, à luz de relatos de que caixas eletrônicas em alguns pontos da cidade teriam sido arrombadas”, informa.

A embaixada continua fechada, sem previsão de reabertura, e mesmo os funcionários foram afetados pela violência. Segundo a BBC, o quadro de incertezas fez com que dois dos funcionários da embaixada brasileira fossem removidos de suas casas nesta quarta-feira.

“Tivemos que deixar a embaixada às pressas, às 12h30, por ter sido montado um bloqueio militar na avenida Rama 4, quase em frente ao prédio”, disse à BBC Brasil o ministro-conselheiro Matias Vilhena, encarregado de negócios na embaixada durante a ausência do embaixador, Edgard Telles Ribeiro.

Segundo Vilhena, a saída teve de ser feita pela porta dos fundos, em uma rua que teve a mão invertida especialmente para a evacuação do prédio.

Perdas e prejuízos
Apesar da melhora significativa da violência no país, as agências internacionais informam que ainda havia prédios em chamas em Bancoc nesta quinta-feira. De acordo com o governo, cerca de 35 edifícios foram incendiados desde ontem em Bancoc, mesmo depois que as principais lideranças dos oposicionistas se renderam e decretaram a rendição do movimento.

As autoridades tailandeses temem que o shopping center Central World, um dos maiores do sudeste asiático, possa ruir depois de ter sido incendiado pelos manifestantes, segundo a agência de notícias AFP.

A Bolsa de Valores de Bancoc também foi incendiada e permanecerá fechada nesta quinta e sexta-feira. Vários bancos em outras partes do país também permanecerão fechados.

Ônibus voltaram a circular na capital nesta quinta-feira pela manhã e os canais de TV continuaram exibindo apenas programas pré-aprovados pelo governo.

Apesar disso, o setor turístico da Tailândia deixará de receber até 120 bilhões de bats (US$ 3,7 bilhões) em 2010 por conta das manifestações, informou a Federação Tailandesa de Indústrias do Turismo. O presidente da entidade, Kongkrish Hiranyakij, assinalou em Bancoc que "a crise política afugentará o turismo e o número de chegadas de estrangeiros esse ano deve cair por volta de 10%, até 12,7 milhões (de visitantes)".

Hiranyakij calculou que o setor receberá em torno de 480 bilhões de bats (US$ 14,8 bilhões), em vez dos 600 bilhões estimados anteriormente.

Na terça-feira passada, o titular tailandês de Turismo e Esportes, Chumpol Silapa-archa, declarou que o número de visitas de turistas tinha diminuído mais de 50% por conta das recomendações de dezenas de países a seus cidadãos para que não viajassem à Tailândia.

O ministro destacou que o número de chegadas diárias ao aeroporto de Suvarhabhumi, o principal do país, em Bancoc, tinha caído de 30 mil a 20 mil desde o início dos conflitos. Segundo o ministro, se a tendência seguir, o número de turistas que visitarão a Tailândia em 2010 será de aproximadamente 14,1 milhões, em vez dos 15,5 milhões previstos anteriormente.

Resistência
Mesmo com a relativa paz na capital do país, em outras regiões ainda há explosões de violência, principalmente na região nordeste, onde pelo menos uma prefeitura, a de Udon Thani, teria sido incendiada.  Na região norte, em Khon Kaen e Chiang Mai, as sedes dos governos locais também teriam sido depredadas, de acordo com a AFP.

O Departamento de Estado americano lamentou a violência e pediu calma aos dois lados.

O presidente do Parlamento Europeu, Jerzy Buzek, afirmou que a reconciliação nacional "não é mais apenas uma opção, mas é absolutamente obrigatória", disse à BBC.

Histórico
Os camisas vermelhas - um agrupamento de ativistas de esquerdas, intelectuais e camponeses fieis ao primeiro-ministro deposto Thaksin Shinawatra - ocupavam pacificamente o distrito comercial de Bancoc desde março passado, obrigando o fechamento de lojas e hotéis.

A crise política no país começou após o golpe militar em 2006 que depôs o então presidente Thaksin Shinawatra, acusado de corrupção, depois de cinco anos no governo.

Desde então, o país teve uma sucessão de governos. Os camisas vermelhas consideram o atual governo ilegítimo e querem novas eleições. Cerca de 40 pessoas morreram nos confrontos desde que as tropas do Exército cercaram os manifestantes na semana passada. Só na quarta-feira, mais de 14 pessoas teriam morrido.

*Com informações da agências internacionais