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EUA e Brasil têm "sérias divergências" sobre o Irã, afirma Hillary; Rússia diz duvidar de compromisso iraniano

Do UOL Notícias*

Em São Paulo

27/05/2010 16h24

Política do século 21 exige parceria e diálogo, diz Lula; presidente critica EUA

A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, afirmou nesta quinta-feira (27) que os Estados Unidos e o Brasil têm "sérias divergências" em relação ao programa nuclear iraniano, apesar de suas relações bilaterais serem boas em outras áreas.

"Acreditamos que dar tempo ao Irã, permitindo ao Irã que evite a unidade internacional com respeito a seu programa nuclear, deixa o mundo mais perigoso e não menos", afirmou Hillary.

Em visita ao Rio de Janeiro, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon alertou hoje para a falta de confiança sobre o país comandado por Mahmoud Ahmadinejad. “Pode ser um passo positivo para a negociação de uma resolução. Mas existe séria falta de confiança sobre o Irã”, declarou esta manhã (27) o sul-coreano, que está no Brasil para participar do 3º Fórum da Aliança de Civilizações da ONU, que ocorre entre hoje e sábado (29) no Rio de Janeiro.

Também nesta quinta-feira, o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, expressou dúvidas sobre o cumprimento por parte do Irã do acordo assinado com o Brasil e a Turquia a respeito do enriquecimento no exterior do urânio iraniano.

"Não existe 100% de garantia. Muitas coisas vão depender da maneira como a parte iraniana vai cumprir com suas obrigações. Se eles cumprirem corretamente, a Rússia sustentará ativamente a instauração do esquema proposto pela Turquia e pelo Brasil", declarou Lavrov.

No dia 17 de maio, o Irã firmou em Teerã, com a Turquia e o Brasil, um acordo que prevê a troca no território turco de 1,2 tonelada de urânio enriquecido a 3,5% por 120 quilos de combustível enriquecido a 20%, fornecidos pelas grandes potências, destinado ao reator de pesquisas de Teerã.

"Felicito este avanço. Na verdade, potencialmente, se for aplicado, criará as premissas de uma solução para um problema concreto - a entrega de combustível para um reator - e também para melhorar a atmosfera da retomada das negociações", declarou Lavrov.

Nesta tarde, Sergei Lavrov teve uma entrevista telefônica com seu colega iraniano Manuchehr Mottaki, informou o ministério russo em um comunicado.

"A Rússia disse estar disposta a ajudar ativamente no avanço do processo de negociação para resolver a situação em relação ao programa nuclear iraniano", segundo o texto.

"Eles insistem na necessidade de buscar, o mais rápido possível, as decisões por vias político-diplomáticas", acrescentou o ministério.

Entenda a polêmica envolvendo o programa nuclear do Irã

Especialistas acreditam que o Irã ainda não tem capacidade de fabricar sozinho as varetas de combustível necessárias para o reator de Teerã.

A esse respeito, o governo turco deixou claro também nesta quinta-feira que descartar o acordo nuclear acertado entre o Irã, o Brasil e a Turquia seria algo pouco razoável, e criticou o aliado americano por criar uma situação absurda ao pedir novas sanções contra Teerã.

O acordo concluído entre Teerã, Brasília e Ancara em 17 de maio passado não propõe uma solução global para a crise iraniana, "mas se trata de um passo adiante para resolver a questão da troca (de combustível) que constitui um dos elementos-chave do caso", indicou o porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Burak Ozugergin.

"É certo que a metade do copo está vazio, mas achamos que foi necessária tomar outra atitude para enchê-lo", afirmou, acrescentando que "é pouco razoável rejeitar o acordo afirmando que o copo está meio cheio".

O diplomata criticou Washington por ter submetido ao Conselho de Segurança da ONU um projeto de resolução para nova sanções contra o Irã, pouco depois do acordo Irã-Turquia-Brasil.

"Submeter a resolução no dia seguinte ao plano significa que vocês preferem fechar os olhos a certos desenvolvimentos", afirmou o porta-voz, que caracterizou a situação como absurda. 

 

* Com agências internacionais