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Primo de Jean Charles foi alvo de grampo ilegal de tabloide inglês, diz polícia

Do UOL Notícias

Em São Paulo

14/07/2011 09h36Atualizada em 14/07/2011 12h14

O jornal britânico "News of the World" grampeou o celular do brasileiro Alexandre Pereira, primo de Jean Charles de Menezes, morto, em 2005, no metro de Londres após ter sido confundido com um terrorista. As informações são do jornal "The Guardian". A Scotland Yard confirmou os dados, segundo a agência de notícias Ansa.

O telefone e anotações de conversas de Pereira, que ainda mora em Londres, estavam nos documentos encontrados com Glenn Mulcaire, investigador  particular que foi preso por escuta ilegal em 2007.

Outras pessoas vinculadas a ele disseram temer por suas ligações terem sido interceptadas também. Familiares, ativistas e brasileiros que vivem na Inglaterra passaram seus dados telefônicos para a polícia checar se houve grampos.

A informação foi passada a um jornalista do "Guardian" por Yasmin Khan, a porta-voz da campanha Justice4Jean.

"A família Menezes ficou muito abalada ao descobrir que seus telefones foram grampeados num momento em que se encontrava mais vulnerável", afirmou a porta-voz do grupo Justice4Jean.

"Eles ficaram intrigados por que a polícia não os procurou com esta informação mais cedo, e temem que a polícia possa estar tentando encobrir mais uma vez suas falhas relativas a este caso", acrescentou.

Os parentes do brasileiro escreveram uma carta ao primeiro-ministro David Cameron pedindo que o inquérito aberto para tratar dos grampos telefônicos abranja os vazamentos ocorridos durante as investigações sobre a morte de Jean Charles.

"Temos consciência de que os jornais do grupo News International realizaram uma das mais violentas e distorcidas coberturas sobre a morte de Jean Charles", afirma a carta.

Em 2005, o eletricista Jean Charles de Menezes foi assassinado pela polícia britânica ao ser confundido com um terrorista na estação de Stockwell. As investigações foram concluídas sem que ninguém fosse punido.

Já o jornal "News of the World", da News Corporation, é suspeito de realizar escutar ilegais contra milhares de pessoas, entre elas personalidades britânicas e membros da família real.

Diante das denúncias, o magnata Rupert Murdoch decidiu fechar a publicação. A última edição do periódico foi às bancas domingo.

Depoimentos de parente e cineasta lembram a morte de Jean Charles

Ex-diretor de tabloide é preso

O ex-diretor executivo do "News of the World" Neil Wallis foi detido nesta quinta-feira em Londres pelo suposto envolvimento nas escutas telefônicas ilegais do dominical sensacionalista, o nono detido pelo escândalo, informou a Polícia Metropolitana de Londres (Scotland Yard).

Aos 60 anos, o ex-diretor foi interrogado em uma delegacia sob a suspeita de conspirar para interceptar as ligações.

Wallis, detido em sua casa em Londres, trabalhou como subdiretor do dominical em 2003 junto com o ex-diretor Andy Coulson antes deste ser nomeado como diretor-executivo do rotativo em 2007.

Entre os detidos pelo caso está Coulson, antigo chefe de imprensa do primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, detido na sexta-feira, embora tenha sido colocado em liberdade após o pagamento de fiança.

O escândalo causou uma grande controvérsia no Reino Unido, a tal ponto que o magnata da imprensa Rupert Murdoch se viu obrigado na véspera a retirar sua oferta pela compra total das ações do canal de TV pago "BSkyB", do qual tem 39%.

Nesta quinta-feira, o vice-primeiro-ministro britânico, Nick Clegg, disse que Murdoch deve prestar contas e apresentar-se na próxima semana ao Comitê de Cultura da Câmara dos Comuns que o citou, apesar do empresário não ter confirmado que vá se apresentar.

Além de Murdoch estão convocados a comparecer também seu filho, James Murdoch, e Rebekah Brooks, ex-diretora do "News of the World".

"Se eles têm um pingo de senso de responsabilidade pela sua posição de poder, deveriam vir e explicar diante do comitê parlamentar", disse nesta quinta-feira Clegg à rede pública britânica "BBC".

Em 2006, revelou-se que alguns jornalistas do "News of the World" recorriam supostamente aos grampos telefônicos para interceptar comunicações de famosos, concretamente as mensagens deixadas nas caixas de correio de voz de celulares.

Na lista das pessoas que tiveram os celulares interceptados a atriz Sienna Miller; o ex-vice-primeiro-ministro John Prescott e o príncipe William, o que fez com que a trama do dominical sensacionalista fosse descoberta.

Na semana passada, a crise estendeu-se com a divulgação que entre os telefones grampeados estava o de uma menina assassinada e os de familiares de vítimas de terrorismo e de soldados mortos em combate.