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Um ano depois do resgate, mineiros que viraram celebridades reclamam da falta de apoio

Do UOL Notícias*<br> Em São Paulo

12/10/2011 07h00

Um ano depois de serem resgatados de uma mina no Chile, os 33 trabalhadores da empresa San Esteban vivem uma nova vida. Celebridades, já contaram sua experiência em documentários e devem ver suas histórias também em um filme de Hollywood. Mas a fama não estaria acompanhada de ajuda financeira e eles reclamam também da dificuldade de readaptação depois do trauma.

No dia 5 de agosto de 2010, 33 mineiros chilenos ficaram soterrados após o desmoronamento na mina San José, em Copiapó, no Chile. Eles passaram 17 dias presos em uma galeria a 700 metros de profundidade sem comunicação alguma com o mundo do lado de fora.

Quando as equipes de resgate conseguiram contato com o grupo, os trabalhos da operação de salvamento começaram. Chegaram a falar que demoraria até quatro meses para salvá-los, mas o período necessário foi mais curto e, na noite de 12 de outubro, começou a operação de resgate dos 33 mineiros que só foi concluída no dia seguinte.

A cápsula Fênix 2 realizou 78 viagens de subida e descida para trazer de volta à superfície os 33 trabalhadores, além dos seis socorristas que desceram para ajudar os trabalhadores.

A Fênix, construída pela Marinha chilena depois de pedido especial do governo, tinha quatro metros de comprimento e 53 centímetros de diâmetro, e estava pintada com as cores da bandeira chilena. Uma grua foi usada para descer e içar a Fênix através do estreito duto de 622 metros de profundidade escavado para o resgate.

O salvamento do grupo foi acompanhado ao vivo por milhões de espectadores em todo o mundo, fora os chilenos que estavam no local e comemoravam cada resgate. O primeiro operário a sair da mina foi Florencio Ávalos, 31, tido como vice-líder do grupo.  O último foi o topógrafo Luis Alberto Urzúa, quase 24 horas depois de Ávalos.

Para o resgate, foram fabricados três exemplares iguais da cápsula. Os primeiros testes de rolamento no interior do duto, dias antes do início do resgate, foram feitos com a Fênix 1. O salvamento em si foi operado com sua irmã, a Fênix 2.

No interior da cápsula, os mineiros contavam com balões de oxigênio, um sistema de monitoramento de seus sinais vitais e outro para medir a saturação de oxigênio, além de um rádio para comunicação. Eles vestiram um macacão especial, luvas, capacete, óculos escuros (para se reacostumarem lentamente à claridade) e protetores de ouvido.

Um dos momentos mais curiosos do resgate aconteceu com o Yonni Barrios, dando ares de tragicómedia ao acidente. No dia do resgate, além de sua mulher, a amante de Barrios também apareceu para recebê-lo. A mulher, traída em frente de milhões de câmeras, desistiu de esperar o marido, que foi recebido apenas pela amante, Susana Valenzuela. O casal não foi mais notícia.

Os resgatados foram levados de helicóptero ao hospital de Copiapó, onde foram monitorados por 48 horas. Após deixarem o hospital, foram recebidos como heróis pela população chilena. Fora do Chile, também foram chamados de heróis, como em um programa da rede americana de televisão "CNN", que presta tributo a pessoas comuns responsáveis por atos heroicos.

Hollywood

De imediato, os mineiros ganharam fama e presentes e receberam ofertas para contar suas histórias em livros e filmes. Visitaram a Disney e até se batizaram no rio Jordão, em Israel. No entanto, passado um ano do resgate, ainda lutam contra a insônia e as dificuldades para sobreviver. Também reclamam de não se sentirem totalmente reintegrados à sociedade.

Alguns ganham dinheiro dando palestras, como é o caso de Mario Sepúlveda, segundo a ser resgatado. Outros foram convidados a programas de TV em vários países, como é o caso de Edison Peña, fã de Elvis Presley, que disputou a maratona de Nova York e cantou no programa de David Letterman, transmitido por uma TV americana. A maioria ainda espera por uma indenização milionária exigida do governo.

No cinemas, o primeiro a contar a história dos mineiros foi o diretor espanhol Antonio Recio, no filme Atacama 33, exibido em Berlim este ano. Feito às pressas, traz no elenco o ator boliviano Cristian Mercado e o astro chileno Alejandro Goic. Mas esta não deve ser a película oficial do acidente na mina de San José.

O produtor de Hollywood Mike Medavoy anunciou planos de produzir um filme sobre os mineiros e exibi-lo no Festival de Cannes do ano que vem. Ele pretende, inclusive, ver a saga na lista do Oscar. "Sim, é possível. Eu receberei o roteiro em dezembro ou janeiro e, embora seja muito difícil, gostaria que o filme estivesse na lista para o Oscar do próximo ano", disse.

Medavoy, que trabalhou anteriormente em filmes como "Ilha do Medo", de Martin Scorsese, e "Cisne Negro", de Darren Aronofsky, revelou que o futuro longa-metragem terá três níveis: o da experiência dos mineiros, o da família e o do resgate.

Se a história for semelhante àquela mostrada em documentários, poderá ter momentos tensos. Como o depoimento de Samuel Ávalos o outro programa contando a história dos trabalhadores, produzido pela TVN em parceria com a BBC, no qual ele declara que os mineiros pensaram em recorrer ao canibalismo para sobreviver.

*Com informações de agências internacionais