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Obama tem desafio de manter política social sem comprometer a economia

Thiago Varella

Do UOL, em São Paulo

07/11/2012 07h00

O presidente Barack Obama vai comandar os Estados Unidos por mais quatro anos sabendo que sua prioridade é a economia do país. Esqueça a morte de Bin Laden ou a atuação dos EUA no Oriente Médio. Se os americanos reelegeram Obama, é porque confiam na sua habilidade para gerar empregos e acelerar o ritmo da recuperação econômica no país.

No entanto, nos últimos quatro anos, as medidas tomadas pelo democrata não foram as mais eficazes para livrar os Estados Unidos da crise.

"A culpa não foi toda de Obama no primeiro mandato, mas agora ele terá de tomar uma medida suprapartidária e mais enfática para que o desemprego caia ao patamar normal de 5%", afirmou Gulherme Casarões, professor de relações internacionais da faculdade Rio Branco e da Fundação Getúlio Vargas.

A preocupação dos americanos é que Obama consiga acelerar a recuperação econômica, sem comprometer seus programas sociais, como o Medicare (programa de saúde para idosos) e o Medicaid (programa que fornece seguro saúde para famílias com renda baixa).

Como funciona a eleição nos EUA

Os americanos elegem seu presidente de maneira indireta: seu voto serve para escolher os 538 membros do chamado Colégio Eleitoral, que representa os 50 Estados e a capital, Washington.

O nome do presidente sempre depende da aritmética entre estes delegados estaduais. A cada Estado se atribui no Colégio Eleitoral um número de delegados igual ao número de seus senadores federais (dois) mais o número de seus membros na Câmara dos Representantes, que é proporcional à população.

Os Estados dão o número de votos do seu total de delegados ao candidato que mais votos populares obteve nesse território, com a exceção de Maine e Nebraska, que os outorgam por distritos.

Para conseguir a presidência, o candidato precisa conseguir 270 votos no Colégio Eleitoral, uma maioria simples.


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"Se quiser manter seus programas para a saúde, Obama precisará de um aporte financeiro razoável. Além disso, os Estados Unidos necessitam de um reinvestimento no setor educacional, principalmente na educação básica e média", afirmou Paulo Pereira, coordenador do curso de Relações Internacionais da PUC-SP.

Contudo, Obama enfrentará um problema imediato que poderá colocar seus programas sociais em risco. O presidente precisa iniciar a negociação de um acordo bipartidário que evite o "abismo fiscal" que ameaça levar os EUA para uma recessão. A partir de 1º de janeiro, o governo terá de lidar com o fim das isenções tributárias da era Bush e com a entrada em vigor de cortes de gastos públicos, dois fatores que sugariam US$ 600 bilhões da economia dos EUA.

Para negociar com os parlamentares republicanos, Obama teria de abrir mão de seus programas sociais, em troca de a oposição aceitar aumentar a arrecadação de impostos.

Barack Obama



Barack Hussein Obama
51 anos
44º presidente dos Estados Unidos
Partido Democrata

Barack Obama é casado com Michelle, com quem tem duas filhas, Malia e Natasha. Filho de um queniano e uma americana do Kansas, ele nasceu no Estado do Havaí, em 4 de agosto de 1961, e passou parte da infância em Jacarta, na Indonésia, para onde a mãe se mudou após o segundo casamento.

Quando retornou aos Estados Unidos, estudou no Havaí, em Nova York e Massachussets, onde se formou na Universidade de Harvard, antes de se mudar de vez para Chicago, onde conheceu Michelle. Foi organizador comunitário e instrutor de direito constitucional na Universidade de Chicago até ser eleito senador estadual de Illinois, em 1996, e senador dos Estados Unidos, em 2004.

Vice: Joe Biden

"No primeiro mandato, Obama não conseguiu um acordo. A ala oposicionista apostava em uma derrota de Obama nesta eleição e, por isso, endureceu a negociação. Agora, reeeleito, o presidente pode, quem sabe, ter um pouco mais facilidade. Mas, se os republicanos mais radicais não abrirem mão de suas posições em relação à arrecadação tributária, Obama terá um problema gigante", disse Geraldo Zahran, professor da PUC-SP e coordenador do Observatório Político dos EUA.

Oriente Médio

A política externa do segundo governo de Barack Obama não deve apresentar muitas diferenças em relação aos seus primeiro quatro anos no poder. Segundo Guilherme Casarões, apesar de ser o grande responsável pela morte de Osama bin Laden e de ter assistido à Primavera Árabe, o presidente democrata conseguiu diminuir o peso do Oriente Médio na agenda e começou a olhar mais para a China, grande rival econômico americano.

"Obama fez uma coisa em política externa que é uma das grandes manobras: voltou-se para a Ásia. Sobretudo para a China e a Índia. Obama tem tentado criar mecanismo de contenção a expansão chinesa na Ásia", afirmou Casarões.

Mas é claro que Obama terá de lidar com o Oriente Médio, até por se tratar de um local estratégico.

"O grande desafio para o presidente será lidar com a transição no Egito e na Líbia, e com o quadro de indefinição na Síria", disse Paulo Pereira.

América Latina e Brasil

Apesar de manter a agenda protecionista democrata --e com isso irritar os produtores de algodão do Brasil que enfrentam dificuldades em entrar no mercado americano-- Obama já estabeleceu um diálogo de peso com o governo brasileiro o que pode facilitar nas relações dos próximos quatro anos.

"O Brasil já conhece Obama e tem uma relação cordial com seu governo. Existe um patamar mínimo para o avanço em parcerias como, por exemplo, na questão dos biocombustíveis como o etanol. Podemos, talvez, estabelecer um intercâmbio comercial mais volumoso", afirmou Pereira.

Já em relação à América Latina, Obama terá de encarar o desafio do tráfico de drogas. No vizinho México, a briga entre cartéis, principalmente no norte do país, perto da fronteira, deixa centenas de mortos e faz aumentar a violência nos Estados Unidos.

"Será um desafio combater o tráfico de drogas no México, na América Central, na Colômbia e na Bolívia", disse Pereira.